Agevisa envia soro para vítimas de botulismo em São Miguel e alerta para o cuidado com procedência e manuseio de alimentos
Nesse tipo de botulismo (alimentar*), neurotoxinas atacam os nervos das pessoas, fazendo cair a musculatura da língua, da pálpebra e do céu da boca.
É preciso evitar produtos mal acondicionados, vencidos e expostos a temperaturas extremas
Rigor na investigação, aplicação de soro antibolúnico e acompanhamento do atendimento às vítimas durante dez dias são as principais medidas tomadas pela Agência Estadual de Vigilância em Saúde (Agevisa) para socorrer oito pessoas expostas num churrasco no final da semana passada, em São Miguel do Guaporé, a 522 quilômetros de Porto Velho.
Das vítimas do botulismo (Clostridium botulinum), cinco apresentaram sintomas e seguem internadas no Hospital de Urgência e Emergência Regional em Cacoal com queda de pálpebra, diplopia (percepção de duas imagens de um único objeto), dificuldade de fala, de respiração e para engolir. “Felizmente estão melhorando”, comentou a gerente técnica da Vigilância Epidemiológica, médica Arlete Baldez.
Nesta quinta-feira (14), as equipes que fazem a investigação sanitária trazem a Porto Velho amostras bromatológicas (de alimentos consumidos no churrasco), e da Capital elas serão enviadas para análises no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. Ontem (13), o Lacen encaminhou amostras de sangue coletados dos pacientes.
Nesse tipo de botulismo (alimentar*), neurotoxinas atacam os nervos das pessoas, fazendo cair a musculatura da língua, da pálpebra e do céu da boca. Quando elas entram na corrente sanguínea, primeiramente se alojam em nervos cranianos.
Das oito pessoas que participaram do churrasco, cinco adoeceram e três são acompanhados 24 horas, pois, mesmo sem sintomas da doença, devem ser monitorados em até dez dias, período em que estão sujeitos a contraí-la.
A quinta paciente estava com leves sintomas, porém, piorou e precisou ser entubada
Duas crianças que estão em Alvorada d’Oeste atendidas e liberadas pelo hospital vêm sendo observadas e avaliadas por uma enfermeira da cidade.
AMPOLA CUSTA R$ 2,29 MIL
No início da semana, todas as quatro ampolas que estavam disponíveis no Programa Estadual de Imunização foram encaminhadas ao Heuro de Cacoal para o atendimento dos pacientes que estavam mais graves. O Ministério da Saúde liberou em caráter emergencial mais 11 ampolas, informou a médica Arlete Baldez ao explicar o mecanismo do socorro às vítimas. Parte das ampolas já foi enviada a Cacoal.
Cada ampola de soro de aplicação endovenosa custa R$ 2,29 mil e serve para neutralizar a neurotoxina circulante, impedindo que ela se fixe em outras células nervosas.
O soro pode ser aplicado até sete dias após o aparecimento dos sintomas da doença.
Duas equipes da Agevisa foram envolvidas na investigação epidemiológica. Uma rastreou produtos usados na festa, enquanto a outra equipe de campo procurou outras pessoas para saber do que se alimentaram e quanto tempo depois sentiram algum sintoma.
“O caso de São Miguel assusta, mas serve de alerta para que as pessoas tenham o máximo cuidado ao verificar em casa a procedência e o manuseio de alimentos”, disse a médica Arlete Baldez.
“Por isso é de extrema importância o fortalecimento das ações de vigilância sanitária do município para a prevenção de surtos e a promoção da saúde na comunidade. São os fiscais sanitários que fiscalizam as boas práticas no serviços de interesse à saúde, tais como restaurantes, lanchonetes, padarias, dentre outros, evitando que produtos mal acondicionados, vencidos e expostos a temperaturas extremas sejam comercializados e vendidos à população”, explica a gerente técnica da vigilância sanitária Vanessa Ezaki.
Desde a manhã de segunda-feira (11), a Agevisa se mobiliza para controlar a situação. Aproximadamente 30 profissionais das Vigilâncias Epidemiológica e Sanitária, do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS) e do Laboratório Central (Lacen) estão envolvidos na grande operação da Agevisa em parceria com as equipes técnicas da regional de saúde e municípios.
O coordenador do CIEVS, técnico em Vigilância em Saúde, Sid Orleans, lembrou que, além do usual cuidado de lavar as mãos, a pessoa deve adotar ferver o alimento adequadamente: “À temperatura de 100 graus durante cinco minutos, e 80 graus por pelo menos meia hora”. Ressalvou que as sequelas neurológicas são reversíveis.
* Botulismo alimentar ocorre por ingestão de toxinas em alimentos contaminados e que foram produzidos ou conservados de maneira inadequada. Os alimentos mais comumente envolvidos são: conservas vegetais, principalmente as artesanais (palmito, picles, pequi); produtos cárneos cozidos, curados e defumados de forma artesanal (salsicha, presunto, carne frita conservada em gordura – “carne de lata”); pescados defumados, salgados e fermentados; queijos e pasta de queijos e, raramente, em alimentos enlatados industrializados.
O período de incubação (entre a contaminação e o início dos sintomas) pode variar de 2 horas a 10 dias, com média de 12 a 36 horas. Quanto maior a concentração de toxina no alimento ingerido, menor o período de incubação.
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