Ainda há muito o que debater sobre a pobreza menstrual
Problema afeta saúde pública, acesso à educação e expõe quanto o tema continua sendo um tabu na formação de adolescentes
O recente veto do presidente Bolsonaro a trechos do projeto que previam distribuição gratuita de absorventes higiênicos a mulheres em situação de vulnerabilidade revelou que o assunto está longe de ser resolvido. Dados do estudo Livre Para Menstruar apontam que são 60 milhões de pessoas que menstruam no Brasil e, destas, cerca de 7,5 milhões estão na escola. Mas o acesso aos itens básicos é bastante desigual. Segundo o estudo, mulheres que estão entre os 5% mais pobres precisam trabalhar até 4 anos para custear os absorventes que usarão ao longo da vida.
A pedagoga e especialista em educação e adolescência Carolina Delboni, lembra que a pobreza menstrual vai muito além da falta de dinheiro para comprar produtos de higiene adequados. "São inúmeros desafios de acesso à direitos e insumos de saúde que representam, para meninas, mulheres, homens trans e pessoas não binárias que menstruam, acesso desigual à direitos e oportunidades. São meninas que deixam de ir à escola ou ao trabalho, ou ao médico, ou onde quer que seja, porque não têm um absorvente higiênico para colocar na calcinha. Tão básico e simples quanto este ato deveria ser no cotidiano das mulheres que são seres que menstruam", diz.
Um relatório produzido pela Unicef e o Fundo das Populações da ONU aponta que 4 milhões das estudantes em fase menstrual, estudam em escolas que não atendem a pelo menos um dos requisitos básicos de higiene, como papel higiênico, sabão ou pia. "No Brasil, crianças e adolescentes que menstruam têm seus direitos à escola de qualidade, moradia digna, saúde, incluindo sexual e reprodutiva violados, quando seus direitos à água, ao saneamento e à higiene não são garantidos nos espaços em que convivem e passam boa parte de sua vida", afirma Carolina.
O assunto é sensível. Tanto que a pedagoga escreveu um artigo sobre o assunto e rendeu muitos compartilhamentos nas redes sociais. A atriz Giovanna Antonelli, por exemplo, repostou com dizeres como "Precisamos falar sobre o ciclo da pobreza menstrual!... Dignidade menstrual não é luxo, ter direito e acesso a produtos menstruais é direito humano!", no perfil da artista no Instagram.
Carolina ainda adverte que somente a distribuição de absorventes não é suficiente. "Precisamos educar meninas e meninos para questões que envolvem o corpo e suas relações para que o assunto deixe de ser um tabu", afirma.
Sobre Carolina Delboni
Pedagoga, consultora especialista em educação e adolescência. Jornalista e escritora, Colunista semanal do Estadão Digital. Pós-graduada em Educação Infantil com especialização em Garantias de Direito da Criança Pequena através de Práticas de Leitura Literária, pelo Instituto Vera Cruz. Mãe do Pedro, Lucas e Felipe.
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