Alerta aos golpistas: todas as apostas de Bolsonaro fracassaram

"Bolsonaro já é um fracasso até como blefe", afirma Moisés Mendes

Moisés Mendes
Publicada em 27 de junho de 2022 às 10:22
Alerta aos golpistas: todas as apostas de Bolsonaro fracassaram

www.brasil247.com -

(Foto: Marcos Corrêa/PR | Exercito Brasileiro)

Bolsonaro caminha na direção do seu mais monumental fracasso, ao apostar de novo, como último e desesperado recurso, que uma reação armada das polícias militares irá salvá-lo “em caso de ruptura institucional”.

É a saída que o sujeito enxerga diante da derrota para Lula no primeiro turno. Renova-se sua aposta no caos que vem sendo construído há muito tempo e já virou alucinação.

Bolsonaro tenta se convencer de que as Forças Armadas serão obedientes ao seu comando e de que as PMs, como forças auxiliares do Exército, estarão a postos para fazer o que os generais mandarem.

O apelo às PMs, repetido no fim de semana, em mensagem de WhatsApp aos tios que o acompanham, é a sua aposta mais arriscada.

Mexe com polícias que estão sob o comando dos governadores, sem nada até agora que possa integrá-las nacionalmente como possíveis forças golpistas.

Bolsonaro atiça rupturas num ambiente militar que, considerando-se os últimos acontecimentos, deve estar mais certo da fragilidade do que do vigor político do indivíduo.

Mesmo com a referência a nomes já lembrados como aliados de um possível golpe, e que nem vale a pena citar aqui, não há uma liderança nacional que possa ser apontada como a voz de Bolsonaro nas PMs.

A ameaça da convocação das polícias militares funciona como complemento ao blefe. Bolsonaro tenta passar um recado: os generais devem saber que as polícias estão de prontidão. Se eles fraquejarem, as PMs farão o serviço.

Mas que serviço? O que seria a ruptura? Seria o anúncio oficial do TSE de que Lula venceu? Quem convocaria as polícias fardadas ostensivas para a guerra imaginada por Bolsonaro?

É complicado vislumbrar uma operação nacional de tropas estaduais com humores e temores variados, mesmo que um golpe seja, depois de consumado, um bicho que vai assumindo, enquanto avança, feições nem sempre imaginadas.

O desespero de Bolsonaro não explica apenas a irracionalidade das suas atitudes e das suas falas recentes. É um desespero antigo.

São pouco racionais quase todas as apostas que o sujeito fez até agora e que estão distantes do que seria o razoável na política.

Bolsonaro apostou contra a vacina por esperar que tudo daria errado em meio à urgência pelo desenvolvimento de imunizantes. Sua grande aposta foi feita no fracasso da ciência e numa mortandade provocada pela própria busca da solução.

Bolsonaro não esperava apenas que a vacina não funcionasse. Esperava que a vacina matasse. Quando percebeu que havia perdido, tentou associá-la até ao aumento de risco de contágio pelo HIV.

Amador e medíocre como político, perdeu a aposta de que governaria com o apoio no Congresso das tais bancadas transversais, uma ideia fantasiosa de pensadores da direita e da extrema direita.

As bancadas da bala, do boi, da Bíblia, dos bancos e da Fiesp o livrariam, pela dispersão, da chantagem organizada dos líderes dos partidos de direita. No fim, teve de pagar taxa de proteção ao centrão para ganhar uma sobrevida.

Apostou e perdeu quando imaginou que teria um partido só para ele e os filhos, com um fundo que fosse gerido pela família, sem a partilha que enfrentou no PSL. A sua base fascista negou-se a presenteá-lo com um partido.

Bolsonaro apostou que, com Sergio Moro na Justiça, teria o controle total da Polícia Federal e da estrutura de arapongagem do governo e que assim os garotos estariam protegidos. Moro saltou fora e sabe-se agora, no caso dos pastores, que Bolsonaro não tem o controle da PF.

Não deu certo a aposta que chegou a envolver até Sara Winter como sua militante capaz de desestabilizar o Supremo. Allan dos Santos, um dos chefes do gabinete do ódio, é foragido da Justiça. Daniel Silveira, escalado para radicalizar o serviço sujo contra o STF, foi condenado.

Fracassou a sua aposta de formação de quadrilhas de civis e militares que ficariam ricos vendendo as vacinas (nesse caso, inexistentes) que ele considerava perigosas.

Foi um fracasso, pela arrogância e pelo amadorismo de pastores que achavam fácil virar quadrilheiros, o seu esquema com Deus acima de barras de ouro no Ministério da Educação.

Fracassaram os apoios aos golpes fracassados na Venezuela e na Bolívia. É um fracasso o seu delírio de se transformar em líder da extrema direita latino-americana, um projeto que só existe hoje como fracasso.

Agora sob controle total de Arthur Lira, que controla não só o orçamento secreto, mas todo o governo, Bolsonaro já é um fracasso até como blefe.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre

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