Ao General Pazuello, o pijama

"O general Pazuello caminha sobre o fio da navalha. Não tão depressa que o jogue no cárcere, nem tão lento que comprometa Bolsonaro. Única saída possível: o pijama", escreve a jornalista Denise Assis

Denise Assis
Publicada em 07 de maio de 2021 às 17:58
Ao General Pazuello, o pijama

Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia

Não há saída honrosa para o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Desde o dia em que proferiu a sua célebre frase: “Ele manda e eu obedeço. Simples assim”, que as coisas em sua vida se complicaram bastante. A cena, patética por si só, irritou profundamente o seu superior, o então comandante do Exército, Edson Pujol.

Para Pujol, naquele momento, Pazuello puxou a toalha da mesa com a sopa quente e a louça toda, para dentro da Força. A ele foi dada a oportunidade de se safar de todas as encrencas que agravou, deixando o ministério. Foi instado a entregar o cargo. Agarrado feito um mexilhão à pasta, ele optou não só por não sair, como também decidiu entregar o seu comandante, Pujol, a Bolsonaro, fazendo o que vulgarmente se chama: futrica. Foi ao chefe e queimou Pujol, revelando a reprimenda recebida. Ali, selou o destino não apenas do seu comandante, mas também o seu. Em trocados: ficou nas mãos de Bolsonaro, que não conhece o que seja empatia ou amizade. Só tem um alvo à sua frente: as eleições de 2022.

Com um desempenho pífio à frente do ministério da Saúde, acarretando visivelmente para o país a aceleração das mortes por Covid-19, Pazuello esticou a corda ao limite. Sairia preso do cargo, não fosse ter sido substituído pelo cardiologista Marcelo Queiroga, que hoje ao depor na CPI da Covid viu os seus batimentos se acelerarem de um modo que só o seu estetoscópio conhece. Azar de Queiroga, que assumiu a incumbência no meio de um tsunami. Resta saber o que fará Eduardo Pazuello.

Traçando um panorama generoso, podemos dizer que ele está assando de costas no braseiro. Não nos é dado saber se há tempo para que seja virado a tostar. Por enquanto, o que se observa é que a sua vida está sendo gerida pelo atual comando do Exército. Ficou decidido que ele não pode deixar espirrar uma gota do suor que anda a lhe escorrer pela testa, na instituição. (E tanto é assim que no dia 19, ao entrar na sala da CPI, onde será inquirido sobre os seus desmandos à frente da Saúde, estará em trajes civis). Não poderá, nem de longe, passar a ideia de que está entregando Bolsonaro. Um militar não trai o seu superior. É deslealdade. Tampouco poderá repassar para baixo as responsabilidades por suas falhas.

Em sua conta recairão as ordens de Bolsonaro quanto à recomendação para a disseminação do kit-covid. Sobre ele desabarão as falhas, as mortes e todo o peso do péssimo rendimento da pasta enquanto esteve à frente do ministério. No script preparado para o seu “the end”,  estão: a reforma, o silêncio e a culpa. Em tal medida que não vá parar na prisão – , pois para trás das grades iria também o Exército Brasileiro. O general Pazuello caminha sobre o fio da navalha. Não tão depressa que o jogue no cárcere, nem tão lento que comprometa Bolsonaro. Única saída possível: o pijama.

Denise Assis

Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" e "Imaculada". Membro do Jornalistas pela Democracia

Comentários

    Seja o primeiro a comentar

Envie seu Comentário

 
NetBet

Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook

A direita quer se matar

A direita quer se matar

"A elite não pode se justificar alegando desinformação. Bolsonaro é o problema para essa direita esclarecida, não a esquerda, com seus valores, lideranças e eleitorado. Quem impede que se consolidem novas candidaturas à direita é Bolsonaro, com sua truculência, falta de escrúpulos e disposição ilimitada a jogar sujo", escreve Marcos Coimbra

Da morte da política à política da morte

Da morte da política à política da morte

"O fim da política é a ditadura, é a vitória do pensamento único, é a ausência total da diversidade, do debate, da convivência de todos. A luta contra a política desembocou na catástrofe que vivemos no Brasil hoje", escreve o sociólogo Emir Sader