Apesar da polarização radical, brasileiros não abrem mão da Democracia

A sociedade tem, sim, defendido, de forma ferrenha, as lideranças políticas que as representam do ponto de vista ideológico, mas não abrem mão da Democracia

Wilson Pedroso
Publicada em 09 de fevereiro de 2024 às 14:17
Apesar da polarização radical, brasileiros não abrem mão da Democracia

Desde as eleições presidenciais de 2018, temos percebido a intensificação da polarização política no país, com eleitores cada vez mais divididos. As pessoas estão falando mais sobre ideologia partidária, o que, muitas vezes, resulta em discursos de intolerância e ódio. Apesar da radicalização, há um alento: os brasileiros são unânimes no apoio à Democracia, que tem como algumas de suas principais vertentes a igualdade dos cidadãos perante a lei e o direito ao voto com eleições livres.

Esse cenário fica evidente ao analisarmos os resultados de pesquisas recentes. Em levantamento realizado pelo instituto Atlas Intel e divulgado no último dia 6 de fevereiro, os brasileiros apontam a polarização como maior fator de conflito social no país. As pessoas estão sentindo o impacto das brigas ideológicas no cotidiano de suas vidas, com reflexos nas relações de família, trabalho e amizades.

Segundo mostrou a pesquisa, a divisão social provocada pelas divergências de apoios políticos ficou à frente de questões como, por exemplo, classe social, raça e religião.

Outra pesquisa que nos ajuda a analisar esse cenário e traçar o perfil do eleitorado foi realizada no segundo semestre do ano passado pela APPC Consultoria e Pesquisa, sob minha curadoria. Na época, 47% dos entrevistados declararam ter interesse “alto” ou “muito alto” por política, enquanto aqueles que responderam ter interesse “muito baixo” ou “nenhum” somaram menos de 25% do total.

Além disso, 45% dos eleitores declararam que o interesse por política “aumentou” hoje, em comparação com os últimos dez anos. E mais da metade, 61%, disse que “sempre” ou “quase sempre” costuma conversar sobre política com amigos e familiares. A consulta foi feita no estado de São Paulo, mas é uma amostra importante do comportamento do eleitorado.

Se as pessoas falam mais sobre política e expõe livremente suas opiniões, ainda que muitas vezes radicalizadas, é porque vivem em um estado democrático, que lhes garante exercer o livre direito de expressão. E elas sabem disso.

Se retornarmos à pesquisa Atlas Intel, divulgada agora no início de fevereiro, 62% dos entrevistados declararam ter opinião positiva sobre a Democracia Liberal, contra apenas 16% que avaliam o modelo como negativo. Ou seja, os brasileiros acreditam na importância da preservação dos princípios presentes na Constituição Federal.

Há mais dados que corroboram essa tese. Pesquisa Genial/Quaest divulgada no início de janeiro mostrou que, um ano após os atos de 8 de janeiro, 89% dos brasileiros se posicionaram contrários aos ataques às sedes dos Três Poderes, em Brasília. A estatística nos mostra que, independentemente de apoio ou posição política, os o povo brasileiro reprova atos que possam colocar o estado democrático em risco.

Ou seja, não há espaço para golpes no Brasil. A sociedade tem, sim, defendido, de forma ferrenha, as lideranças políticas que as representam do ponto de vista ideológico, mas não abrem mão da Democracia.

*Wilson Pedroso é consultor eleitoral e analista político com MBA nas áreas de Gestão e Marketing

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