Aposta em Marcos Pereira é botar Edir Macedo no poder
'Já pensaram com que rapidez esse país pode se transformar em uma república neopentecostal?', questiona a jornalista Denise Assis
Edir Macedo (círculo) e Marcos Pereira (Foto: Reprodução)
O presidente da Câmara, Arthur Lira, já entendeu que sem a atenção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o seu café vai esfriar mais cedo. Não é vantajoso para ele se distanciar de Lula ou tampouco acirrar a briga com Padilha. Esticar a corda vai levá-lo ao isolamento.
Não por acaso, vem batendo no peito em contrição – como fez em entrevista para o biógrafo de Roberto Marinho -, reconhecendo que pegou pesado ao chamar o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, de “desafeto” e “incompetente”. Personalizar a briga, puxar para si o desentendimento só o fez entrar no foco da mídia de forma negativa, que é tudo o que não precisa num momento em que faz o aquecimento para lançar o seu sucessor. Não por acaso, alas consideráveis do governo já acenam dar as costas para o seu indicado, Elmar Nascimento, do União Brasil (BA), e cerrar fileiras em torno de Marcos Pereira (Republicanos-SP).
A eleição para a sucessão do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), acontecerá no começo de 2025, mas Lira já avisou que vai antecipar a corrida, iniciando em agosto a distribuição de panfletos que havia marcado para setembro. O escolhido de Lira para a corrida ao cargo é o deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA). Parte da base governista, porém, considera que a sua candidatura pode não decolar. Enquanto isto, Marcos Pereira busca proximidade com Lula.
O bloco da oposição pretende lançar o deputado Altinêu Cortes (PL-RJ), líder do PL, para a disputa.
Contudo, há perigo na esquina. O deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) é o relator da PEC do Estouro na Câmara. Formado em Direito pela Universidade Católica do Salvador, em 1992, foi eleito vereador pelo então PMDB, em 1996 e reeleito em 2000, mas não chegou a completar o mandato após renunciar para assumir como deputado estadual, em 2003. Pelo PL, foi reeleito para a Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), permanecendo no cargo até 2015. No mesmo ano, foi para Brasília e tomou posse como deputado federal já pelo então Democratas. Foi reeleito em 2018 e em 2022, agora pelo União Brasil.
Marcos Pereira é o presidente nacional do Republicanos. Nasceu em 4 de abril de 1972 em Linhares, no Espírito Santo. É advogado e mestre em Direito Constitucional pelo Instituto Brasileiro de Ensino Desenvolvimento e Pesquisa (IDP).
Em 1995, tornou-se diretor administrativo e financeiro da TV Record no Rio de Janeiro, permanecendo no posto até 1999, quando foi para a Rede Mulher de Televisão. Em 2003, assumiu a vice-presidência da Record.
A partir de 2011, foi eleito presidente nacional do Republicanos. Em maio de 2016, no governo de Michel Temer (MDB), assumiu o Ministério da Indústria, Comercio Exterior e Serviços. Foi eleito deputado federal em 2018 e reeleito em 2022. No ano passado, assumiu a vice-presidência da Câmara.
Altineu Côrtes Freitas Coutinho nasceu em 19 de setembro de 1968, em Niterói, no Rio de Janeiro. Sua trajetória política começou em 2002, quando foi eleito deputado estadual pelo PMDB. Em 2006, chegou para o segundo mandato e em 2010, já pelo então PR — hoje PL — esteve no terceiro mandato. Em 2004, assumiu a Secretaria Estadual da Infância e Juventude, no governo de Rosinha Garotinho.
Desde 2015 é deputado federal. No ano de 2022, assumiu a liderança do PL na Câmara, partido do então presidente Jair Bolsonaro.
Os três estão se lançando para o cargo de Lira, sendo que apenas os dois acima disputam o apoio dos integrantes do governo e os petistas que no entorno orbitam. Um deles, no entanto, apresenta mais perigo no contexto atual.
Não se pode ignorar que se a economia vai bem, mas as pesquisas apontam que a avaliação de Lula e seu governo vai mal. Ele pode dar de ombros, e talvez esteja certo em adotar tal postura. O que não se pode ignorar, no entanto, são os prováveis motivos dessa dicotomia nas pesquisas.
A avassaladora onda neopentecostal incentivada pela madame Michelle Bolsonaro, que procura rumar o Brasil para uma política contaminada e dominada pela religiosidade – ignorando o fato de que o Estado é laico -, deveria acender no Planalto uma luz vermelha e sirenes estridentes. Por dois motivos. Um: essa diferença entre resultados positivos do governo e pesquisas tem a ver com o “voto urbano de cabresto”. A influência direta e diária dos pastores sobre os seus rebanhos.
Lá fora, no cotidiano, o povo sente que a vida melhora, mas no seu habitat, o da igreja (a célula social que direciona opiniões), prevalece o discurso de que “Lula é ladrão” e que “o governo é corrupto”, embora não se tenha, até agora, motivos mínimos para tal afirmação. Cabe processo, se o fizerem em público e sem provas.
Dois: Marcos Pereira é o vice-presidente licenciado da TV Record, braço direito do bispo Edir Macedo, o modelador de opinião entre os neopentecostais e liderança inegável. Caso o governo aposte em sua candidatura, instala no poder o bispo Edir Macedo e os seus crentes.
Só para lembrar, Pereira será o número um na linha de sucessão, caso algo se abata sobre a chapa Lula-Alckmin. Já pensaram com que rapidez esse país pode se transformar em uma “República neopentecostal”? Não é muito perigoso para o atual cenário político?
Denise Assis
Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".
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