As chances de Bolsonaro são baixas

"Ao contrário do que pensam alguns, Bolsonaro deve perder a próxima eleição. Seria muito melhor para o Brasil que saísse logo e não tivéssemos que aguardar até janeiro de 2023 para nos livrarmos dele. Muita gente deixaria de morrer estupidamente e o país não perderia mais tempo", escreve Marcos Coimbra

Marcos Coimbra/(Foto: Divulgação)
Publicada em 15 de março de 2021 às 12:00
As chances de Bolsonaro são baixas

Eleição é comparação entre pessoas reais, em um momento real. O que os candidatos são, em si, pode ser secundário, importando mais o saldo que resulta da comparação com os outros. Mas tudo começa pela avaliação do valor de cada um. 

Muito antes da decisão de Facchin que devolveu os direitos políticos a Lula, essa conta já não era favorável a Bolsonaro e seu principal (talvez único) projeto, de permanecer no poder. Por uma simples razão: as pessoas estão insatisfeitas com seu governo, têm a sensação de que a vida piorou e não acreditam que irá  melhorar nos próximos meses.  

E não há para onde olhar. Do Legislativo, presidido por gente inexpressiva, não virá nada (salvo o mesmo de sempre, piorado). De um Judiciário com Luis Fux à frente, tampouco. Quanto ao que pode vir do Governo Federal, nem Bolsonaro espera alguma coisa.   

Tudo que ele faz atualmente sugere que entregou os pontos. É até possível que, lá em 2019, ainda acreditasse em si mesmo, que conseguiria fazer um governo decente, pois lhe haviam dito que seria fácil. Não era e foi incapaz de se reinventar. Teve, por exemplo, que abandonar a pretensão de liderar um plano nacional-desenvolvimentista e só lhe restou continuar amarrado a seu ministro da Economia, antediluviano e cascateiro. Da turma de ideólogos de araque que recrutou para o Ministério, não veio nada. De onde se esperava que nada viria, como de Sérgio Moro, não veio nada mesmo. 

Em sua trajetória política, sempre como deputado eleito por um segmento limitado, Bolsonaro aprendeu uma lição: pensar só na sua turma, falar apenas com ela, ignorar quem pensa diferente. Mesmo às custas de escandalizar o resto do mundo.     

Bolsonaro construiu sua carreira sendo um representante do autoritarismo típico do pensamento militar e policial dos subúrbios cariocas, disparando  ameaças, grosserias e preconceitos contra os mais fracos e os diferentes. Nunca soube pensar (e não precisou aprender) qualquer coisa construtiva, uma proposta ou projeto de interesse mais amplo. Fidelizava seu eleitorado escoiceando mulheres, negros e negras, homossexuais, intelectuais, artistas e esquerdistas, garantindo nos quartéis os votos para se reeleger (junto com a distribuição de honrarias a seus irmãos milicianos).   

É isso que sabe fazer e foi assim que fez sua pré-campanha a presidente em 2017. E ficaria limitado ao tamanho dessa parcela minoritária na sociedade brasileira, caso não se  beneficiasse da saraivada de golpes e intervenções indevidas que marcaram aquela eleição. 

Para pensar a próxima, podemos começar voltando ao que o eleitorado fez no segundo turno em 2018: 39% dos eleitores escolheram Bolsonaro, 32% votaram em Haddad e 29% se abstiveram, votaram nulo ou em branco. 

As quase 58 milhões de pessoas que votaram no capitão terão que se fazer as perguntas normais em uma reeleição: valeu a pena, foi bom, o voto foi correspondido? Aconteceu o que elas esperavam, o candidato merece ser reeleito? A aposta de risco que muitos fizeram (pois ele era mal conhecido pela maioria) deu certo, era isso mesmo que queriam? A saúde, a economia, o emprego, a renda, a educação, a habitação, a segurança, o meio ambiente, a ciência, as artes e a tecnologia, a imagem internacional do país, estão como esperavam? 

Eleição majoritária é diferente da proporcional, em que a satisfação ideológica pode ser suficiente para definir o voto. Mas o capitão parece ignorar lição tão simples e continua a pensar como se fosse um candidato a deputado de militares reacionários e policiais truculentos, talvez por ser o único que sabe fazer. Acredita que coice ganha eleição.  

Em 2018, 90 milhões de pessoas não votaram em Bolsonaro. É possível que algumas lamentem, achando que ele foi uma grata surpresa, tendo se revelado um presidente admirável, competente e cheio de qualidades. Mas o mais provável é que a vasta maioria não ache isso. 

Ao contrário do que pensam alguns, Bolsonaro deve perder a próxima eleição. Seria muito melhor para o Brasil que saísse logo e não tivéssemos que aguardar até janeiro de 2023 para nos livrarmos dele. Muita gente deixaria de morrer estupidamente e o país não perderia mais tempo.  

Marcos Coimbra

Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

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