As mulheres que desafiaram os militares e sobreviveram à ditadura
“O livro da pesquisadora Ana Maria Colling está à espera de quem deseja filmar as histórias de outras Eunices”, escreve o colunista Moisés Mendes
Protesto de mulheres contra a ditadura militar (1964-1985) na época (Foto: Divulgação)
O livro de Marcelo Rubens Paiva sobre a bravura da mãe dele será adotado pelas escolas públicas da Bahia. O livro da historiadora Ana Maria Colling sobre outras mulheres que enfrentaram a ditadura deveria ser adotado por todas as escolas do país.
‘A resistência da mulher à ditadura no Brasil’ foi publicado em 1997 pela Editora Rosa dos Tempos. O livro está aí há 27 anos. E muita gente cobra até de Marcelo Rubens Paiva, como fizeram no Roda Viva: por que não contam a história da resistência feminina de ‘gente comum’ aos horrores dos anos de chumbo?
O autor de ‘Ainda estou aqui’ reage com serena sinceridade. O seu livro é de fato sobre Eunice, uma mulher branca, casada com um homem rico, de uma família que morava no Leblon.
É isso, é um retrato. É uma abordagem daquela família e do seu drama com a prisão e o desaparecimento do homem da casa, o ex-deputado Rubens Paiva, em janeiro de 1971.
Que outros contem, na História, na literatura de ficção e no cinema, como outras mulheres enfrentaram a ditadura e foram perseguidas, presas e torturadas.
Ana Maria Colling saiu na frente dos narradores daquele tempo sobre vozes femininas. Conta no seu livro as histórias de resistência de seis mulheres. Figuras que muita gente nem sabe que existiram, e não só brancas e de classe média.
A doutora em História já lembrou em entrevistas que a mulher mais torturada era uma operária negra. Mas não fiquem só com resumos do que elas foram e sofreram. Procurem o livro e saibam seus nomes e suas histórias, como a historiadora gaúcha fez.
Sua empreitada é exemplar, porque reúne material da que é considerada a primeira obra historiográfica específica sobre a militância e a perseguição às mulheres na ditadura no Brasil.
O livro vale pelo que conta e pelo que Ana Maria revela ao informar sobre como chegou ao que de fato queria. E no início ela queria apenas saber de documentos oficiais sobre mulheres presas.
Chegou a ficar diante de 42 caixas com papéis do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), guardados pelo Arquivo Histórico, com registros de prisões no Rio Grande do Sul.
Mas o livro só passou a existir quando ela começou a ouvir mulheres militantes que haviam sido presas e percebeu que suas falas eram mais poderosas do que os documentos.
Os militares as definiam como “putas comunistas”, para tentar desqualificá-las política e moralmente. Eram consideradas “desvios do feminino e cometiam dois pecados aos olhos da repressão: fazer oposição à ditadura e abandonar seu lugar natural, o lar”.
As mulheres militantes presas são, nas versões dos repressores, “amásias e amantes, mal educadas pela família, mal amadas ou homossexuais e como apêndices dos homens, sem vontade própria, como marionetes”.
O livro resulta da sua tese de mestrado em História pela UFRGS, ‘Choram Marias e Clarices – uma questão de gênero na ditadura militar brasileira’, defendida em 1994.
Ana Maria Colling tem outras obras sobre estudos de gênero e do feminismo. E os depoimentos que ouviu das mulheres que enfrentaram os ditadores inspiraram outros trabalhos acadêmicos.
Os depoimentos são o que define como a revanche de mulheres na maioria dos casos ausentes de registros em documentos oficiais, porque o que elas viveram não deveria ser registrado e contado.
Quem cobra roteiros para outras abordagens daquele tempo, inclusive pelo cinema, tem aí o livro da pesquisadora sobre como a repressão construiu o que seria a “mulher subversiva” e sobre como essa mulher enfrenta a prisão, a tortura e também a discriminação dentro da própria resistência.
Os estudantes merecem conhecer a valentia de Eunice Paiva, de Dilma Rousseff e das mulheres que sobreviveram para contar como ajudaram a desafiar e a derrotar a ditadura e a fazer História.
(Este texto é dedicado à memória da socióloga baiana Lícia Peres, combatente pela democracia que abriu as portas para que a pesquisa de Ana Maria Colling acontecesse.)
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
894 artigos
GOVERNADOR FOI OFENDIDO E SOFIA ANDRADE TERÁ QUE PAGAR 20 MIL REAIS DE INDENIZAÇÃO A ELE
No caso de Sofia, que tem um discurso afiado, aguçado e sem meias palavras, a preocupação agora será conseguir falar o que tem que falar sem ofender ninguém pessoalmente
Resenha Política, por Robson Oliveira
ATIVO - Desde a posse, Léo Moraes tem imprimido uma gestão com presença ativa nas secretarias com mais gargalos a serem resolvidos, a exemplo da saúde e alagações
Vereador Everaldo Fogaça e prefeito Léo Moraes tratam de demandas do bairro Aparecida
“O diálogo contínuo entre a administração municipal e os cidadãos é crucial para o fortalecimento das políticas públicas e para a construção de um Porto Velho melhor para todos”, finalizou vereador Fogaça
Comentários
Seja o primeiro a comentar
Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook