As pesquisas entre a euforia e a cautela

"Os desconfiados, e não necessariamente pessimistas, recomendam que a euforia da base não pode ser a mesma dos que conduzem uma campanha", escreve Moisés Mendes

Moisés Mendes
Publicada em 30 de maio de 2022 às 14:46

www.brasil247.com - Ex-presidente Luiz Inácio Lula da SilvaEx-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert)

Por Moisés Mendes, para o 247 - Murmúrios de um desconforto podem estar sendo abafados pelo barulho da euforia com a pesquisa do Datafolha e a perspectiva de vitória de Lula no primeiro turno.

Estão desconfortáveis os que usufruem do direito à dúvida e à desconfiança. A pesquisa do dia 26 derrubou cenaristas amadores e profissionais, jornalistas, palpiteiros e políticos à esquerda e à direita 

O Datafolha apresentou um quadro imaginável apenas entre amigos que apostam, erguendo copos já ao amanhecer, para saber quem é o mais otimista da turma.

A vantagem de 21 pontos para Lula (48% a 27%) é compreensivelmente embriagante, até porque subverteu expectativas. E por isso mesmo aciona a dúvida que não pode se transformar em contágio de insegurança ou pessimismo.

Há desconfianças murmuradas sobre a performance de Lula e a pulverização das chances de Bolsonaro. A distância surpreendente entre um e outro fomenta a incerteza amplificada no dia seguinte à divulgação do Datafolha.

Foi quando a pesquisa XP/Ipespe informou, no dia 27,  que a vantagem de Lula era de 11 pontos (45% a 34%). Ainda é grande, mas é a menor distância desde o começo da série iniciada pela pesquisa em janeiro de 2020.

A XP/Ipespe diz, como previa boa parte dos cenaristas, que foi Bolsonaro quem cresceu dois pontos, contra um ponto de Lula em relação à amostragem anterior.

A pesquisa trouxe o que parecia previsível: talvez não seja agora, com uma consulta no contrapé da desistência de João Doria e pela primeira vez sem Sergio Moro, que se saberá com clareza como as coisas vão se reacomodar.

Como os clichês dizem que pesquisas são retratos, a da XP/Ipespe veio com retratados com o mesmo corte de cabelo, a mesma barba e o mesmo bigode, como se nada tivesse acontecido.

Mas um dia antes o Datafolha havia mudado até a paisagem atrás dos retratados. As diferentes metodologias e o alcance de cada uma não facilitam a compreensão de tantas disparidades, por mais que alguns tentem depreciar a XP/Ipespe.

Junto com a desconfiança de parte da esquerda, os jornais informam, como sentimento aparentemente sincero, que gente com alguma racionalidade do governo não esperava um Datafolha tão devastador.

Não seria choro de perdedor, mas surpresa de quem acha que a guerra não está assim tão perdida. É óbvio que não são levadas em conta nesse caso as suspeitas de Bolsonaro e subalternos sobre a manipulação de pesquisas, porque a idiotia já é outro departamento.  

Estamos falando de abordagens com alguma seriedade.

O que se tem agora é que o projeto de vitória no primeiro turno passa a ser turbinado pelo PT e aliados. E que para a extrema direita resta a esperança de que as próximas pesquisas esclareçam detalhes do que possam ter sido exageros do Datafolha, se é que foram.

Um dos dados mais destacados entre os inseguros é o de que Lula furou agora o teto de todas as pesquisas anteriores do Datafolha.

Os cautelosos podem dizer que isso aconteceu cedo demais e que a armadilha agora é a da reversão da tendência de crescimento até a eleição.

O ideal, mas incontrolável, seria se a poucos dias do pleito o Datafolha anunciasse que Lula havia disparado. E que poderia vencer no primeiro turno, que aconteceria uma semana depois.

Resumindo, se é que precisa, os desconfiados, e não necessariamente pessimistas, recomendam que a euforia da base não pode ser a mesma dos que conduzem uma campanha.

E que a pesquisa do Datafolha só eliminaria dúvidas se tivesse uma contraprova, mas que saísse logo, e não daqui a dois ou três meses, como têm sido os intervalos das amostragens do instituto.

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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