As redes do caos
"As redes agem de maneira criminosa, tornando a regulamentação urgente. As redes não eliminam as fake news porque estas lhes dão dinheiro", diz Bresser-Pereira
O Congresso está discutindo o projeto de lei que regula as redes sociais e as fake news que elas transmitem. As grandes redes (Facebook, Google, Twitter, Telegram) estão realizando um lobby violento para evitar a regulação, e nossos deputados e senadores estão confusos a respeito.
Como informou o Intercept Brasil, “o presidente da Câmara Arthur Lira disse que as big technobureaucrats fizeram ‘o horror’ com a Câmara e operaram para ‘colocar o Congresso de joelhos’ na tentativa bem-sucedida de segurar a votação".
Lira sugeriu, até, entrar com uma ação contra elas. "É como se tivessem impedido o funcionamento de um Poder". Eu também estava confuso até há algum tempo. Não havia me detido no problema. Mas li o livro de Max Fisher, “A Máquina do Caos”, e concluí que as redes sociais agem de maneira criminosa, tornando a regulamentação de sua atividade urgente.
O argumento das redes é que elas fiscalizam as fake news. Elas exercem a autorregulação, mas algumas coisas escapam. Os responsáveis são os autores das mentiras e violências que produzem.
Não é verdade. Fisher mostra com dados que a autorregulamentação é para "inglês ver". As redes contratam empresas terceirizadas para fazer a regulação, estas apontam o que deve ser tirado da rede, mas estas mantêm as fake news.
A Todavia fez um grande serviço publicando este livro. As redes não eliminam as fake news porque estas lhe dão público, lhes dão dinheiro. E elas são insaciáveis.
A forma pela qual Fisher descreve sua visita à Facebook é impressionante, não apenas pela absurda riqueza de tudo, mas também pela forma evasiva dos oito diretores que entrevistou.
O Supremo já declarou que se o Congresso não agir, ele agirá. Tem toda razão. Mas é melhor que os deputados e senadores cumpram seu dever.
Professor emérito da Fundação Getúlio Vargas onde pesquisa e ensina teoria econômica e teoria política desde 1959. Foi Ministro da Fazenda (1987) e Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado (1995-98). É doutor honoris causae pela Universidade de Buenos Aires
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