Atenção bolsonaristas: Lula não é ladrão!

O aliciador necessita de uma estratégia. Ela só pode se firmar e espetar o umbigo da realidade se contaminar toda uma massa

Fernando Lionel Quiroga
Publicada em 06 de dezembro de 2022 às 10:03
Atenção bolsonaristas: Lula não é ladrão!

(Foto: Mário Adolfo Filho)

“Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade” - (Joseph Goebbels)

A cada dia vivemos e experimentamos, na rotina das ruas e lares brasileiros, a materialização da frase proferida pelo ministro da propaganda nazista do Terceiro Reich, Joseph Goebbels. Isso desde quando a grande mídia passou a abusar dela como estratégia de formação de almas – que a praxe jornalística chama de “formação de opiniões” – espalhando aos quatro ventos a mentira racista que criminalizava Luís Inácio Lula da Silva, um operário nordestino de origem pobre que se tornaria o maior líder sindical no fim dos anos 1970 e, mais tarde, o presidente que mais faria pela equidade social em nossa breve história republicana. 

Pelo menos duas vezes por semana o itinerário do meu endereço profissional inclui o entorno do quartel. Semanalmente, passo por uma avenida repleta de manifestantes golpistas. Em uma extensão de mais ou menos cinquenta metros, a avenida é ladeada das cores verde e amarelo, com pessoas que agitam as bandeiras olhando para o interior dos veículos à espera de olhares de aprovação. A rotina me fez acostumar com o ambiente e alguns atores se tornaram repetidos: um casal de velhos sentados sob uma tenda balançando bandeirinhas do Brasil; uma mulher baixa, de meia idade, que sacode uma enorme bandeira visivelmente pesada para seus braços de criança e, mais adiante, um velho rabugento, estrategicamente posicionado em um ponto da rotatória que lhe permite se aproximar de modo hiperbólico da janela do veículo que parece triplicar de tamanho quando, então, enfia a cabeça para dentro do carro para soltar o vozeirão: - Ladrão nunca mais!

Esse é, finalmente, o sentimento afetivo que parece motivar boa parte do perigoso e constrangedor movimento: a nascente que lhes causa ojeriza é o fato de saberem-se, novamente, nas mãos de um ladrão que agora volta à cena do crime para governar o país. Um disparate para quem minimamente acompanhou, nos últimos anos e meses, o desenrolar da patética operação lava-jato que, sob um bizarro Powerpoint, levou o presidente Lula a cumprir 580 dias em uma cadeia de Curitiba, para, finalmente ter a pena anulada depois de um vazamento escandaloso de informações entre os procuradores, publicadas pelo The Intercept, que terminaria com a suspeição do juiz Sérgio Moro – algoz de Lula e o herói da classe média fascista.

Dito isto, o primeiro ponto a ser observado é que os fatos já não são autossuficientes. E mesmo que alguém diga que nunca foram, o que vivenciamos na atualidade é algo completamente novo, porque implica recusar a própria noção de realidade enquanto noção coletiva, estruturante da própria condição humana.

A própria realidade passa a ser ameaçada diante das armas e das estratégias de desinformação. Semelhante à harmonia de um quadro, em que tudo parece fazer sentido, mesmo em pintura abstrata, esse rasgo no véu da realidade é algo como a usurpação da harmonia, um carimbo de nanquim sobre o brinco de pérola da moça de Vermeer – é o espirro de Mr. Bean em ''Arranjo em Cinza e Preto número 1'', de James McNeill Whistler, na comédia “Mr. Bean – O Filme”, de 1997.

A profanação da realidade, justapondo-a em camadas que se alternam entre a hora do almoço, que tem cheiro, vapor e textura, e a informação falsa (pois não se trata de ficção, mas de mentira), está produzindo um tipo novo de homem. Mais, está corroendo a própria ideia de homem. Devido ao fato da ficção demandar um sentido estético, quando esta passa a ocupar o próprio vácuo da realidade, e despe-se de qualquer obrigação estética, o que resta é algo como a queda de um penhasco em um vácuo desconhecido: é a morte da fruição estética, da catarse produzida pela arte e, finalmente, da própria capacidade de representação. O resultado é a geração de um homem incapaz de representação, já consumido pelo poder da mentira incorporada à realidade enquanto tal.

Mas a mentira, para que funcione assim, não pode se reduzir ao sussurrar de um desconhecido ao pé do ouvido, pois isso seria aliciamento encarnado em uma representação diabólica, de Mefistófeles. O aliciador necessita de uma estratégia. Ela só pode se firmar e espetar o umbigo da realidade se contaminar toda uma massa. Ela depende, portanto, de uma formação em massa – noção oposta à de “organização das massas”. O efeito é mesmo o de uma onda, como bem ilustrado pelo filme de Alex Grasshoff, em “A Onda”, de 1981, em que se aborda o tema da manipulação das consciências no contexto nazista.

Vejamos o que nos ensina Tarde em “A opinião e as massas”:

“Uma assembleia ou uma associação, uma multidão ou uma seita, não tem outra ideia a não ser a que lhe insuflam, e essa ideia, essa indicação mais ou menos inteligente de um objetivo a perseguir, de um meio a empregar, por mais que se propague do cérebro de um só ao cérebro de todos, permanece a mesma; o insuflador é, portanto, o responsável direto por seus efeitos diretos. Mas a emoção que se junta a essa ideia e que se propaga com ela não permanece a mesma ao se propagar, intensifica-se por uma espécie de progressão matemática, e o que era desejo moderado ou opinião hesitante no autor dessa propagação, no primeiro inspirador de uma suspeita, por exemplo, lançada contra uma categoria de cidadãos, torna-se prontamente paixão e convicção, ódio e fanatismo, na massa fermentescível em que esse germe se instalou (Tarde, 2005, p. 147).”

Daí o poder inflamatório das manifestações golpistas. Daí o ódio dos fanáticos, indiferentes mesmo na urgência da cirurgia para recuperar a visão de um menino, sob um perverso: “que fique cego” - da voz de um golpista.

É este o expediente que constituirá o mais difícil desafio político a ser enfrentado nos próximos anos. É preciso enfrentá-lo com total seriedade, com extremo rigor e clareza; é preciso enfrentá-lo com todo o arsenal da ciência e da cultura. Contra a neutralidade disfarçada do argumento em favor de uma suposta ‘liberdade de expressão’, este é o verdadeiro inimigo a ser encarado. Enquanto o povo não estiver liberto – a educação como fonte de libertação nunca foi de tão fácil compreensão -  Lula seguirá sendo para sempre o “ladrão” e o motivo para agitar as bases e disseminar o germe nazista por todo o Brasil.

Lula.

O nordestino natural de Caetés, interior de Pernambuco, nascido em 1945. Sétimo filho dos oito que teve Dona Lindu - sua saudosa e querida mãe. 35.º Presidente do Brasil durante dois mandatos (2003-2011). Derrotou Jair Bolsonaro nas eleições de 2022 com uma diferença de mais de dois milhões de votos, e deve governar a partir de 1º de janeiro de 2023 em seu terceiro mandato.

Lula não é ladrão, 

Lula é o Presidente do Brasil.

Fernando Lionel Quiroga

É professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), na área de Fundamentos da Educação. Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

Comentários

  • 1
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    rafael araujo 11/12/2022

    sai azar,lula é um ladrão safado,o país esta corrompido pela corrução,ministros tirando bandidos da cadeia e devolvendo os cargos a eles na cara dura,vai enganar outro site fascista

  • 2
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    Francisco 06/12/2022

    Verdade MESMO, talvez alguém tenha inventado tudo,até a foto com os narcostraficantes

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