Bolsonaro é um problema da Justiça
"Bolsonaro só continuará sendo uma figura da política, se ainda for tratado com leniência pelo sistema de Justiça", aponta
Jair Bolsonaro chega à sede do PL em Brasília e acena para apoiadores - 30.03.2023 (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)
Bolsonaro só continuará sendo uma figura da política, com alguma possibilidade de ressurreição, se ainda for tratado com leniência pelo sistema de Justiça.
A política já fez, com os meios da democracia, o que deveria ter sido feito. Bolsonaro e seu projeto de perpetuação do fascismo foram derrotados no ano passado.
A eleição de Lula tirou Bolsonaro do jogo no curto prazo. No médio e no longo, tudo depende do sistema de Justiça.
O retornado de Orlando só continuará sobrevivendo como ameaça à democracia se for tratado pelo Ministério Público e pelo Judiciário com a cordialidade que mereceu em quatro anos de governo.
Bolsonaro e a extrema direita toda foram tratados com fineza e condescendência e escaparam sempre.
Sim, houve exceções com a marca da bravura de Alexandre de Moraes e de representantes do Ministério Público. Mas exceções não dão conta do que acontece em área alguma, muito menos em tempos de guerra.
MP e Judiciário terão de dizer se agora enfrentarão de fato Bolsonaro e todos os que estiveram no seu entorno cometendo crimes graves.
É o sistema de Justiça que irá nos dizer se Bolsonaro pode continuar sendo uma ameaça política permanente ao próprio Supremo e ao TSE.
Se vai continuar ameaçando mulheres de estupro. Se vai continuar desejando crianças de 14 anos.
Se vai continuar lavando impunemente dinheiro de caixa dois na compra de imóveis da família.
Se pode voltar ao poder, sem nenhuma punição, e exercer o mesmo papel de líder genocida do negacionismo.
Bolsonaro poderá voltar a governar e liderar a negação criminosa da vacina? Pode voltar a destruir a universidade pública e o SUS? Comandar a matança de yanomamis com a invasão da Amazônia por grileiros e garimpeiros?
Bolsonaro pode ser uma ameaça concreta à democracia, com a chance real de voltar a anunciar que seus adversários devem ser mortos na ponta da praia?
Poderá usar de novo o cartão corporativo como se fosse o cartão da família? Voltar a chefiar o contrabando de joias? Voltar a defender o armamentismo? A comandar o orçamento secreto gerido por Arthur Lira?
A democracia abalou o fascismo e o rejeitou na eleição do ano passado. A política e os eleitores colocaram Bolsonaro a correr.
Mesmo que eles continuem com uma bancada de peso no Congresso, o líder está moribundo. E volta ao Brasil, derrotado, como uma afronta à Justiça, mais do que a qualquer outra instituição.
Assim como os manezões impunes também são uma afronta ao MP e ao Judiciário. São uma afronta coletiva todos os que vêm sendo investigados desde 2019 pelo Supremo, como integrantes do gabinete do ódio e das milícias digitais.
Afrontam o sistema de Justiça os 79 listados no relatório da CPI do Genocídio, encaminhado ao Ministério Público com pedidos de indiciamentos. Todos cometerem crimes graves e estão impunes.
Mas a prioridade agora é Bolsonaro. E a primeira manifestação, a mais esperada, é a da Justiça Eleitoral.
O TSE terá de julgar e condenar Bolsonaro à inelegibilidade. E logo. O resto, e que resto, na área criminal, fica para depois.
Bolsonaro é hoje uma urgência do sistema de Justiça, muito mais do que da política. Assumam essa bronca sem mais postergações.
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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