Bolsonaro está sentado, sem camisa, no meio da sala da classe média
'Fica difícil mandar embora o sujeito que prestou relevantes serviços à direita e pode ser apenas um tio inútil e inconveniente', diz o colunista Moisés Mendes
Bolsonaro é aquele tio insuportável envolvido em todo tipo de rolo, mas que muitas vezes socorreu os parentes. Pagou dívidas, porque tinha dinheiro, e deu até suporte moral a irmãos, tios, cunhadas, primos e agregados.
Mas todos na família sabem que ele é falcatrua e que o dinheiro com que socorria os outros não era dele.
A família tem dívidas com o tio Jair, que reapareceu, sem nada, pedindo colo. Uma semana depois, ninguém aguenta mais vê-lo arrastando os chinelos, sentando à cabeceira da mesa e furando a fila do banho.
O PL vai se dar conta em pouco tempo de que será preciso dar um jeito no tio. Com algum desprezo, com algumas indiretas e, no fim, se nada der certo, com um pedido: deu, tio Jair, o senhor precisa devolver a cama para o sobrinho que vem dormindo no chão.
Bolsonaro já é a mala do PL. E também é, como perdedor, o estorvo da classe média de machos brancos reaças e ressentidos. Porque a elite brasileira talvez não aguente um Bolsonaro sem força e sem utilidade.
Os ricos e a classe média não terão paciência para continuar convivendo com Bolsonaro ainda abusado. Que chama um ex-assessor, que chama um fotógrafo e faz pose numa cadeira no meio da sala.
Tira a camisa e expõe tudo o que um homem normal gostaria de esconder. Um barrigão, as cicatrizes da facada e das cirurgias e a expressão de quem não tem o controle do drama que enfrenta.
Essa classe média terá de decidir se aceita continuar convivendo com o sujeito que ameaçou matar os inimigos na ponta da praia, riu das mortes da pandemia, desejou uma criança venezuelana, roubou joias, tramou um golpe e fugiu para os Estados Unidos.
E agora está sem camisa no meio da sala. É sua imagem mais divulgada desde a condenação pelo TSE. E ele pode, a qualquer momento, provocar outras inconveniências.
A classe média branca e cheirosa, que o usou durante quatro anos, pagou o alto custo da proteção que ele, os militares e os milicianos ofereceram contra Lula.
Mas o homem fracassou e, ao invés de mostrar que está pronto para uma nova guerra, que não se entregou e tem forças para reagir, tira a camisa e mostra o corpo retalhado.
Bolsonaro decidiu ficar exposto como um traste, um tio sem noção e fragilizado pelas sequelas políticas que não consegue superar.
Um guerreiro não faria aquela pose do barrigão exposto num ambiente sombrio e depressivo. A foto expõe a realidade diante das famílias brasileiras que o sustentaram.
O Bolsonaro sem camisa pede socorro. É o último retrato de uma criação coletiva de milhões de brasileiros.
Ao lado dele, mesmo que não sejam percebidos, estão Tarcísio de Freitas, André Valadão, Queiroz, Malafaia, Edir Macedo, Braga Netto, Augusto Heleno. Valdemar Costa Neto está atrás da porta.
Bolsonaro ainda circula pela casa com a desenvoltura de quem vai ficar, toma todo o leite da geladeira, arrota, grita, briga com os vizinhos. Ninguém sabe ainda como se livrar dele.
Vai chegar a hora em que todos torcerão para que o tio inconveniente seja preso e a família se liberte da sua presença.
Sem camisa, Bolsonaro é o pesadelo da família brasileira que se aproveitou dele para tentar se livrar do PT e de Lula. Quem tira Bolsonaro da sala?
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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