Bolsonaro livre
"Sabe a Dona Fátima? Pois é. Comemorem a sua prisão que é o que temos para hoje...", escreve Denise Assis
Jair Bolsonaro (Foto: REUTERS/Adriano Machado)
Enquanto ficamos aqui, esperneando pelas “atas de votação” da Venezuela – o que quer que isto signifique, porque no preto e branco essas atas estão em poder do Comitê Nacional Eleitoral daquele país -, os fatos de desenrolam, porque como já cantou o poeta: “o tempo não para/não para, não/ não para” ...
Há eleições municipais a serem resolvidas, há ataques à nossa economia, que vai muito bem, obrigada, é há resoluções a conta gotas, sendo tomadas sobre o 8 de janeiro, que já não dói, não escandaliza, não mobiliza. O que arrebata mesmo é falar sobre o “ditador Maduro”, ou na expectativa da nossa política externa, em compasso de espera de cair do céu alguma solução que nem passe pelo rompimento com o vizinho, tampouco obrigue o governo a se pronunciar agora, acompanhando o Antony Blinken, no anúncio: Edmundo presidente, hurruu! Só para lembrar o velho ditado: “quem fala muito, dá bom dia a cavalo” ...
Em meio a esse salseiro, Jair Bolsonaro tem percorrido o país com a complacência do PGR, Paulo Gonet (vai dar azar, assim, com PGR lá em Caracas!), bordando candidaturas à ultradireita, conversando com quem quer e sendo “fonte” para a colegada, que sem cerimônia o consultam para tudo, como se plenos poderes esse cara ainda tivesse. Alguém que perdeu a elegibilidade por ter comandado um golpe contra a democracia, deveria ser tratado como um ser inexpugnável, à espera da sentença que o banisse do convívio social. Sim! Do convívio social, não apenas político. Mas...
Mas acontece que está tudo devidamente calculado. Segundo uma fonte do meio jurídico, o Gonet pode, sim, adiar para depois das eleições o indiciamento de Bolsonaro naquele inquérito em que as provas saltam aos borbotões, o das joias, para não haver trepidação em momento delicado, como o período eleitoral. (Não foi assim, quando Villas Boas resolver limar com um tuíte contundente, a candidatura Lula, em 2018). Levando isso em conta, e mais os desdobramentos que o indiciamento terá – a necessidade de se chamar, no mínimo, 50 testemunhas para depor -, a “fonte” calculou em dois anos o caminhar desse processo.
Considerando que dois anos coincidem com o término do governo Lula III, e não sendo ele o candidato em 2026, o cenário que teremos é que Bolsonaro não será preso dentro do governo de Lula! E, ainda, lembrando que ele escapou ileso do ato de terrorismo que praticaria contra a cidade do Rio de Janeiro, explodindo bombas em pontos estratégicos, em 1983, temos aí um “réu primário”. Estica daqui, ajeita dali, alisa de lá, Jair terá a pena reduzida e responderá em liberdade a um processo que não abarcará a tentativa de golpe, “muito difícil de enquadrar”, segundo essa mesma fonte.
Então, meus amigos, para quem vive a perguntar quando Bolsonaro será preso, eu digo que é melhor mudar o questionamento para: quantos prefeitos Bolsonaro elegerá no pleito de 2024? Logo ali, batendo na porta. Sabe a Dona Fátima? Pois é. Comemorem a sua prisão que é o que temos para hoje...
Denise Assis
Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".
737 artigos
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