Bolsonaro na sinuca do auxílio emergencial
O mercado cismou que a retomada do auxílio significará a ruptura do teto de gastos e a equipe de Paulo Guedes resiste, temendo a deterioração das expectativas sobre a sustentabilidade das contas públicas
Por Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia
Dez entre dez políticos de Brasília estão certos de que o auxílio emergencial vai voltar. O retorno do pagamento aos desvalidos da Covid-19 é hoje o único ponto em comum entre os candidatos à presidência da Câmara e do Senado. Sejam eles quem forem, em uma semana o tema entra concretamente na pauta do Congresso – o que pode levar Jair Bolsonaro a se antecipar e anunciar sua retomada. Segundo aliados, depois da recente rodada de pesquisas mostrando queda em sua popularidade, ele está mais do que convencido.
Mas Bolsonaro está numa sinuca de bico. O mercado cismou que a retomada do auxílio significará a ruptura do teto de gastos e a equipe de Paulo Guedes resiste, temendo a deterioração das expectativas sobre a sustentabilidade das contas públicas. O Ministério da Economia vem tentando adiar esse momento e, quando concordar com o novo auxílio emergencial, ou com a criação de outro benefício semelhante, vai querer que seu valor seja muito inferior, não chegando nem aos R$ 300 da segunda fase.
A Economia também defende que o número de beneficiários seja muito menor do que os mais de 600 milhões da primeira rodada, e tenta ressuscitar a proposta de recriar um imposto semelhante ao da CPMF para irrigar a arrecadação e pelo menos dar ao mercado a impressão de que as contas não foram para o buraco. Todo mundo sabe que o Congresso que quer o auxílio não quer ver nem pintado o novo imposto – e até o bolsonarista Arthur Lira disse hoje pela manhã que não há “ambiente” no país para discutir a criação do novo imposto.
Entre a cruz de Paulo Guedes e a caldeirinha do Congresso, Bolsonaro vai ficar numa encalacrada. Se recriar o auxílio nas bases que o Congresso deseja, sem aumento de imposto e com valor razoável, entra em rota de colisão com o mercado e com Paulo Guedes – que se resolver sair chutando o balde, te condições de fazer um enorme estrago no governo. Se não aceitar a proposta do Legislativo, corre o risco de ser atropelado por deputados e senadores, que podem gostar da brincadeira de derrotar o presidente nesses tempos em que a palavra impeachment voltou a circular.
Jair Bolsonaro ainda tem um problema adicional: longe dos R$ 600 que os beneficiários receberam na primeira onda do coronavírus — valor hoje fora de cogitação tanto no Congresso quanto na Economia — , e certamente atingindo menos gente, é duvidoso se o novo auxílio terá o efeito de restaurar a popularidade perdida.
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