Calçada sem criatividade
Disseram que essa tal “calçada criativa” estaria ligada ao lazer, arte, cultura e até à música. Os vândalos não viram nada disso ali
Porto Velho não tem absolutamente nada que sirva de entretenimento para os seus infelizes moradores. Poucas praças, raríssimos recantos de lazer, praticamente nenhuma área verde, não tem jardim zoológico e não tem também parques temáticos. A sisuda cidade tem apenas uma ou duas pistas para caminhadas. E só. Mas neste ano de 2024 foi criada uma “calçada criativa” lá pelo centro, próxima às Três Caixas d’Água. É numa rua que também tem o nome Santos Dumont. Só que essa rua é bem diferente da outra lá da zona norte: não é torta, é bem pequena e não tem trânsito. Sem nenhuma aparente criatividade, essa bisonha e feia calçada já foi devidamente “saqueada” por vândalos. Roubaram um dos bancos que havia ali. Nada de anormal, pois fizeram com ela o mesmo que já tinham feito com os trilhos da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré: roubaram tudo.
É esquisito, pois aqui em Porto Velho se rouba até casca de ferida. Para que diabos vai servir um trambolho daqueles a não ser para trocá-lo por umas pedras de crack? E como em pleno centro da capital conseguiram arrancá-lo e carregá-lo sem que ninguém tivesse visto? Devem ter usado as mesmas técnicas de quem roubou os trilhos da velha ferrovia para usá-los como segurança na frente de suas casas. Outro dia lembrei os vasos de flores que a primeira-dama da capital havia colocado na Avenida Sete de Setembro. Levaram os vasos, as flores e até a terra. A única coisa que não quiseram levar é o lixo que campeia no meio das ruas. Não há uma única rua de Porto Velho que não seja tomada por garrafas pet, plásticos, papéis, copos descartáveis e outras imundícies. Basta ver o que acontece todos os anos, quando a Banda do Vai Quem Quer desfila pelas ruas da cidade.
Óbvio que quem criou essa “calçada criativa” não foi um Jaime Lerner ou um Pereira Passos. Devem ter usado a mesma lógica que privatizou a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, um patrimônio que era de todo rondoniense. Transformar Porto Velho numa cidade limpa, organizada, aconchegante e minimamente habitável é uma tarefa quase impossível. Com mais de 110 anos de existência, até hoje nenhum dos mais de 52 prefeitos e administradores conseguiu. Somos a pior em IDH dentre todas as 27 capitais do Brasil. Temos o pior ar para se respirar em todo o país, além do pior hospital público. Por isso que se diz que Porto Velho não é para amadores. O futuro prefeito Leonardo Barreto que se cuide. E eu já disse: ele pegou um dos piores abacaxis de sua vida. Tomara que ele e seus assessores tenham a consciência do “rabo de foguete” em que se meteram.
Existem no mundo inteiro cidades inteligentes, mas Porto Velho infelizmente é uma cidade burra. Muito burra mesmo. Assim como boa parte de seus habitantes, que jogam lixo no meio das ruas, roubam bancos de praça e até os trilhos de ferrovia histórica. Pelo menos 135 mil eleitores porto-velhenses estão esperançosos de que as coisas possam começar a mudar por aqui. E a solução, ou parte dela, pode estar nas mãos do futuro prefeito e dos 23 vereadores recém-eleitos. Só que Porto Velho limpa é também uma questão de educação e de consciência urbana e ambiental. É também a população que deve contribuir para as mudanças tão urgentes e necessárias. Já pensou se o futuro prefeito, em fevereiro próximo, mandar espalhar caçambas para recolher todo o lixo produzido pela famosa banda de carnaval? Disseram que essa tal “calçada criativa” estaria ligada ao lazer, arte, cultura e até à música. Os vândalos não viram nada disso ali.
*Foi Professor em Porto Velho.
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