Com apoio da Funai, produção de cacau dos Paiter-Suruí segue rumo à primeira fábrica de chocolate indígena do país

Na terceira matéria da Série Especial, a Fundação Nacional do Índio (Funai) conta a história da produção indígena de cacau do município de Cacoal (RO) e o trabalho familiar que vem impulsionando o comércio do fruto na região

Assessoria/Funai
Publicada em 27 de junho de 2022 às 18:47
Com apoio da Funai, produção de cacau dos Paiter-Suruí segue rumo à primeira fábrica de chocolate indígena do país

A produção de cacau vem ganhando força na Terra Indígena Sete de Setembro, no estado de Rondônia, com a adesão de agricultores da etnia Paiter-Suruí. O cultivo na Aldeia Mauíra, comandada pelo cacique José Mopiraneme, já traz resultados significativos, além de parcerias. Para o futuro, a expectativa é concretizar o sonho de construir a primeira fábrica de chocolate indígena do Brasil. Na terceira matéria da Série Especial, a Fundação Nacional do Índio (Funai) conta a história da produção indígena de cacau do município de Cacoal (RO) e o trabalho familiar que vem impulsionando o comércio do fruto na região.

A produção conta atualmente com 5 mil pés de cacau. O cacique conta que a expectativa é aumentar a produção para 30 mil pés. “Cada pé produz, em média, 2,5 quilos de cacau. Queremos ampliar para conseguir produzir até 10 toneladas de amêndoa por mês. Para isso, precisamos de um projeto de irrigação das lavouras, estamos batalhando para isso”, explica José Mopiraneme.

Cacique José Mopiraneme apresenta a produção de cacau na aldeia Mauíra, em Cacoal (RO). Fotos: Guto Martins/Funai

Cuidar da plantação de cacau não é uma tarefa fácil. A luta é constante contra as pragas que atingem o cacaueiro, como a conhecida vassoura de bruxa (Moniliophthora perniciosa), que inviabiliza a produção e estraga o fruto. “Enfrentamos isso com apoio da Funai e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), que nos presta consultoria com especialistas nesse tipo de praga das lavouras”, afirma. A Funai conta com uma parceria com o Senar, por meio da qual são disponibilizados cursos de capacitação para indígenas, assim como assistência nas lavouras.

Com o aumento na produção do cacau e a satisfação de ver bons resultados, José sonha em construir a primeira fábrica de chocolate indígena na Aldeia Mauíra. “Ainda é um sonho distante, mas vamos trabalhar para construir uma grande fábrica aqui na aldeia e gerar mais empregos e renda”, pontua. O primeiro lote de chocolate produzido com o cacau cultivado na área virou realidade em 2021 e, segundo o cacique, habilitou o produto para ser comercializado. Isso ocorreu em novembro do ano passado, após uma parceria com a empresa De Mendes, que adquiriu 20 quilos de semente de cacau indígena para a produção do chocolate especial da Amazônia.

“O empresário veio até a nossa aldeia para conhecer a produção, gostou e pagou R$ 30 o quilo da amêndoa. Toda a fermentação da semente até virar a amêndoa é feita aqui, com técnicas que aprendemos. Queremos continuar com essa parceria e seguir produzindo o chocolate com o cacau da nossa terra”, afirma o cacique.

Plantação de cacau

José Mopiraneme conta que, após visitar uma lavoura vizinha, não indígena, se encantou com o fruto e decidiu iniciar a plantação de cacau. Na época, plantou aproximadamente 3 mil mudas, mas, após oito meses, uma queimada atingiu a região no período de seca e destruiu parte da lavoura, restando apenas 400 pés plantados.

"Isso me deixou desanimado. Abandonei a ideia de plantar cacau, não cuidei mais. Depois de uns meses, conversei com o pessoal da Funai, com meus irmãos e decidimos voltar a cuidar dos pés que restaram”, afirma. A parceria com a fundação se fortaleceu e, na época do plantio, a instituição federal segue auxiliando o cacique.

“Não tenho do que reclamar da Funai. Ela é um ponto de apoio, principalmente quando preciso de informação ou tirar uma dúvida. No nosso último plantio em maio, a Funai mandou dois tratores para a aldeia, e isso nos ajudou a levar as mudas de cacau até a lavoura. E eu já vi também a própria Funai transportar a produção de outros agricultores indígenas aqui da região. Eu acho isso extremamente positivo para a nosso desenvolvimento”, destaca o cacique.



Além do cacau, o café e a banana também são cultivados pelos indígenas da Aldeia Mauíra. De acordo com José Mopiraneme, a produção de café possui 3.750 pés plantados, enquanto a de banana da terra conta com cerca de 3 mil pés. “A safra do café é anual e vendemos a banana quase que semanalmente. São todas importantes fontes de recursos para nossas famílias”, ressalta.

Funai investe em Etnodesenvolvimento

O investimento da Funai em etnodesenvolvimento em aldeias de todo o país chegou a R$ 41,3 milhões entre 2019 e 2021. Os valores superam em 72% o total investido entre os anos de 2016 e 2018, cujo aporte ficou em torno de R$ 24 milhões. O uso econômico sustentável de Terras Indígenas como ferramenta para a geração de renda às comunidades tem sido um dos principais focos da Funai. Ao impulsionar a produção responsável nas aldeias, a fundação colabora para que os indígenas se tornem autônomos e sejam protagonistas da própria história.
Os recursos foram destinados ao fortalecimento de atividades de agricultura, piscicultura, carnicicultura, etnoturismo, extrativismo, artesanato, casas de mel, entre outros. O incentivo permitiu a aquisição de materiais de pesca, sementes, mudas, insumos, ferramentas, maquinário agrícola, bem como apoio para o escoamento da produção e realização de cursos de capacitação para os indígenas.

Em 2021, a Funai assinou mais de 20 Cartas de Anuência para diferentes comunidades e, em uma iniciativa pioneira, adquiriu e entregou 40 tratores para fornecer apoio a atividades produtivas. A intenção é garantir a segurança alimentar das diferentes etnias e possibilitar que elas aumentem a produção, investindo em processos de geração de renda. Ao todo, a fundação investiu de mais de R$ 5 milhões na aquisição do maquinário.

Já em 2022, a Funai promoveu um encontro inédito entre instituições bancárias e agricultores indígenas do Mato Grosso. O objetivo é estabelecer parcerias que possibilitem o acesso dos agricultores a linhas de crédito. No mês de maio, também numa iniciativa inédita, a fundação viabilizou a participação de mais de 30 produtores de diferentes etnias do país como expositores na AgroBrasília 2022: Feira de Tecnologia e Negócios do Agro, entre eles, os Paiter-Suruí.

O uso econômico sustentável de Terras Indígenas como ferramenta para proporcionar autonomia às comunidades tem sido um dos principais focos da Funai. Ao impulsionar a produção responsável nas aldeias, a fundação colabora para que os indígenas ampliem o cultivo, conquistem novos mercados e se tornem cada vez mais protagonistas da própria história.

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