Com déficit de quase 20 mil bancários, Caixa reabre PDV

Fenae alerta que medida pode afetar atendimento à população e que processo de reestruturação da estatal atinge gerências executivas de Governo e de Habitação, responsáveis por planejamento urbano nos municípios

Assessoria
Publicada em 03 de dezembro de 2020 às 11:45
Com déficit de quase 20 mil bancários, Caixa reabre PDV

Entendimento da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal é que baixa adesão a recente Programa de Demissão Voluntária motivou banco público a reabrir PDV em menos de 15 dias, com meta de enxugar ainda mais quadro de pessoal da empresa. Fenae alerta que medida pode afetar atendimento à população e que processo de reestruturação da estatal atinge gerências executivas de Governo e de Habitação, responsáveis por planejamento urbano nos municípios

Com um déficit de quase 20 mil bancários, a Caixa Econômica Federal reabriu o Programa de Desligamento Voluntário (PDV). O período de adesão começou nesta quarta-feira (2) e vai até o próximo dia 11. Segundo informações da direção da estatal, as regras continuam as mesmas do último PDV [aberto entre os dias 9 e 20 do último mês de novembro], quando havia a previsão de saída de 7,2 mil empregados, quantidade que ficou abaixo da expectativa do banco: cerca de 3,2 mil aderiram ao programa, menos da metade da estimativa.

No entendimento da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), a baixa adesão ao PDV anterior é o que motivou a Caixa a reabrir o programa em menos de 15 dias, com a meta de enxugar ainda mais o quadro de pessoal da empresa. “O que estamos vendo é o total desmonte do banco público”, lamenta o presidente da Fenae, Sergio Takemoto. “A Caixa reabriu o PDV logo após o início de uma reestruturação, sem nenhum planejamento. O que parece é que o único intuito foi pressionar os empregados a aderirem ao plano, pois o banco não alcançou o objetivo de mais de sete mil adesões”, acrescenta.

De acordo com a estatal, os bancários que aderirem ao PDV serão desligados até o final do ano, com direito a um incentivo financeiro equivalente a 9,5 remunerações base.  

A Comissão Executiva dos Empregados da Caixa (CEE/Caixa) orienta que os trabalhadores estejam seguros quanto à adesão ou não ao Programa de Desligamento Voluntário. "Essa é uma mudança para toda a vida. Então, os empregados devem estar seguros sobre essa mudança", alerta a coordenadora da comissão, Fabiana Uehara Proscholdt.

Para entidades sindicais, empregados têm denunciado pressão por parte de chefias para adesão ao PDV. Relatos dão conta, inclusive, que funções comissionadas estariam sendo “congeladas” — uma forma de direcionar os funcionários ao programa de desligamento do banco.

REESTRUTURAÇÃO — No início desta semana, um processo de reestruturação surpreendeu os bancários da Caixa. Cerca de 170 imóveis não terão os aluguéis renovados e outros serão vendidos.

Muitos empregados chegaram para trabalhar e não sabiam para onde seriam transferidos. As mudanças estariam relacionadas às áreas das vice-presidências Rede de Varejo (Vired), Tecnologia e Digital (Vitec) e Logística e Operações (Vilop). Gerências como as de Tecnologia (Gitec), de Logística (Gilog), de Segurança (Giseg) e de Alienação de Bens Móveis e Imóveis (Gilie) teriam as filiais extintas e parte de suas atividades seriam transferidas para unidades centralizadoras que serão criadas.

O processo também atinge as gerências executivas de Governo (Gigov) e de Habitação (Gihab), responsáveis pelo planejamento urbano dos municípios. Por meio de ofício, a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), assessorada pela CEE/Caixa, questionou o banco quanto às mudanças e à falta de articulação com os empregados, conforme prevê o Acordo Coletivo de Trabalho (ACT). Este e outros assuntos serão tratados nesta quinta-feira (3) na Mesa Permanente de Negociações entre a CEE e a direção da Caixa.

ASSISTÊNCIA COMPROMETIDA — Com a saída dos mais de dois mil empregados no último Programa de Desligamento Voluntário, o déficit de trabalhadores na Caixa Econômica se aproxima de 20 mil, colocando em risco real a capacidade e a qualidade da assistência à sociedade.

“É preocupante o desligamento desses trabalhadores sem uma indicação do banco para a contratação de novos empregados”, destaca o presidente da Fenae. “Além de piorar as condições de trabalho, a falta de bancários pode prejudicar o atendimento à população; especialmente, neste momento de pandemia”, afirma Sergio Takemoto.

Até o encerramento do último PDV, dia 20 de novembro, o déficit no quadro de pessoal da Caixa já superava 17 mil profissionais. A empresa, que chegou a ter 101,5 mil trabalhadores em 2014, conta atualmente com 84,2 mil empregados. Apesar disso, o banco trabalhava com a estimativa de desligamento de 7,2 mil trabalhadores, este ano.

NECESSIDADE DE CONTRATAÇÕES — No Acordo Coletivo de Trabalho 2014/2015, a direção da empresa — por força de decisão judicial — se comprometeu a realizar duas mil contratações. Trezentos bancários foram convocados no último mês de maio para atuarem no Norte e no Nordeste. Contudo, o número está longe de ser o ideal, segundo apontam a Fenae e outras entidades representativas da categoria.

Além da falta de empregados, o banco — de acordo com o balanço do terceiro trimestre — ainda fechou 796 postos de trabalho, em doze meses. Destes, 30 foram reduzidos entre os últimos meses de março e setembro, em plena pandemia. Também foram fechadas duas agências. Apesar disso, a Caixa registrou um incremento de mais de 43 milhões de novos clientes.

A CAIXA — A Caixa Econômica Federal é a principal operadora e financiadora de políticas públicas sociais, além de geradora de emprego, renda e desenvolvimento para o país. Desde o início da pandemia do coronavírus, o banco é responsável pelo pagamento do auxílio e do FGTS emergenciais além de outros benefícios a mais de 120 milhões de pessoas: metade da população brasileira.

Cerca de 70% do crédito habitacional é feito pela Caixa e 90% dos financiamentos para pessoas de baixa renda estão no banco público. Além de moradias populares — como as do programa Minha Casa Minha Vida — a estatal também investe na agricultura familiar, no Financiamento Estudantil (Fies) e nas micro e pequenas empresas.

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