Cumplicidade de Ibaneis tem de ser investigada
"Não era difícil prever que o bolsonarista assumido Ibaneis Rocha faria corpo mole e seria conivente com os golpistas" , diz o jornalista
Ibaneis Rocha e Anderson Torres (Foto: Crédito: Reuters | Divulgação)
Foi muita ingenuidade de membros do governo federal acreditar que o governador do Distrito Federal, o bolsonarista assumido Ibaneis Rocha, fosse reprimir as hordas fascistas que atacaram os três poderes. A falta de ação da Polícia Militar do DF diante de vândalos no dia 12 de dezembro e a insistência do governador em nomear o fascista e ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres, como secretário de Segurança bastariam para acender o alerta vermelho. Não era difícil prever que Ibaneis faria corpo mole e seria conivente com os golpistas.
A solução tardia foi decretar a intervenção federal na segurança do DF, quando as sedes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário já tinham sido invadidas, violadas e depredadas. É pouco, mas foi uma medida necessária. Agora é preciso apurar as responsabilidades do governador, de seu secretário de Segurança e dos comandantes das forças policiais do DF e levá-los à Justiça. E se os deputados distritais de Brasília tivessem vergonha na cara (a maioria geralmente não tem) decretariam o impeachment do pior governador que o DF já teve, e que foi reeleito com uma campanha marcada pelo uso da máquina pública, de recursos milionários e do apoio que teve dos bolsonaristas brasilienses.
O que aconteceu em Brasília poderia ter sido evitado se os serviços de inteligência das diversas polícias, inclusive da Federal, tivessem sido eficientes, pois a tragédia foi fartamente anunciada pelos golpistas. Poderia ter sido evitado se não tivesse havido relutância, do Exército e do Ministério da Defesa, em desmontar o acampamento em área militar na qual jamais seria aceita uma mobilização do MST e impedir a chegada de caravanas de outras cidades. Ou se tivesse havido a preocupação, do governo do DF mas também do governo federal, em ter um policiamento quantitativamente adequado para enfrentar a ação golpista. Aliás, por que o Batalhão da Guarda Presidencial não estava protegendo o Palácio do Planalto? E por que a PM protegeu a caminhada dos terroristas até a Esplanada dos Ministérios?
Agora que o mal está feito, cabe investigar e apurar as responsabilidades, para que todos os culpados sejam levados à Justiça. Entre os culpados, seguramente, está o governador Ibaneis, apesar de sua tentativa de livrar a cara com um pedido público de desculpas. E a apuração certamente chegará aos mandantes e financiadores dos crimes perpetrados, entre os quais o criminoso que fugiu para Orlando.
Hélio Doyle é jornalista, foi professor da Universidade de Brasília e secretário da Casa Civil do governo do Distrito Federal
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