Dados do Atlas de Violência mostram que no Brasil são registrados 164 casos de estupro por dia
A procura por defesa pessoal por parte das mulheres tem crescido cada vez mais
A carioca e psicóloga Larissa Leite é a primeira mulher faixa preta em krav magá no Brasil. É crescente o interesse feminino pela defesa pessoal, no entanto, mulheres faixa preta no krav magá ainda é raro em todo o mundo.
Segundo a Federação Sul Americana no período de 30 anos 156 alunos já realizaram exame para a faixa preta, 69 passaram e a Larissa é a única mulher na América Latina.
Em entrevista Larissa comenta sobre o seu fascínio desde criança por esportes e lutas. Já praticou vôlei, judô, basquete, mas sua grande paixão é o krav magá desde os 15 anos de idade quando iniciou a prática. Antes de Larissa, nenhuma mulher havia sequer passado da primeira fase do exame de faixa preta.
Ao contrário do que muitos pensam a respeito do krav magá, Larissa diz não existe o estímulo à violência, mas à defesa. Em uma situação de assalto vivida, por exemplo, o ladrão pediu a sua bolsa e optou por não reagir, entregando-a. Para Larissa, se tratava apenas de uma bolsa, o que também faz parte do treinamento recebido.
O professor e instrutor de krav magá em Belo Horizonte (BH), Dionésio Mariosi, explica que as pessoas podem confundir a defesa pessoal com um comportamento reativo e violento.
“Enquanto professores, treinamos o aluno a se defender, proteger a sua vida (o que é valioso), agir com prudência, racionalidade e o máximo de autocontrole. Ele sempre deve medir se vale a pena reagir em um contexto amplo, sobretudo se a sua integridade física não estiver em risco”, pontua.
O professor ainda ressalta que saber krav magá e até mesmo dominar a defesa pessoal, não é sinônimo de que uma pessoa nunca será assaltada. A única garantia é a de que se qualquer indivíduo tentar violentá-la ou feri-la, fisicamente, tem todas as ferramentas e treinamento adequado para se proteger.
Como funciona o exame para mulheres faixa preta no krav magá?
O exame para homens e mulheres é igual, sem distinção. Em resumo, o aluno irá percorrer uma corrida de 3 km em até 14 minutos, completar dez barras, fazer 60 flexões, 80 abdominais, levantar pesos, além de responder aos questionamentos e conhecimentos práticos a partir da primeira faixa, sendo a branca.
Para ser a primeira mulher faixa preta em krav magá Larissa teve 100% de foco e treinamento especial, adotando uma rotina de atleta. Teve apoio de um preparador físico que ela mesma contratou. Treinou quatro vezes na semana por um ano e contou com apoio de um profissional nutricionista.
Conciliou essa rotina de treinamentos com o seu trabalho na clínica como psicóloga. Larissa, a primeira mulher faixa preta no krav magá diz que pretende dar aula e incentivar outras mulheres a também a aprenderem a defesa pessoal.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) o Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídio no mundo. Segundo dados do Atlas da Violência, são 164 casos de estupro e 606 de violência doméstica registrados por dia. Aprender a defesa pessoal é muito importante, sobretudo entre as mulheres, consideradas por questões biológicas e físicas, mais frágeis.
O professor explica que no krav magá as fragilidades tanto do homem, como da mulher, são substituídas por estratégias de defesa que visam atacar pontos específicos do corpo, levando em conta a agilidade dos movimentos e reflexos e não a força ou peso físico, o que beneficia principalmente as mulheres.
“A ideia é que qualquer pessoa, independente do porte físico e habilidades prévias em lutas, possa aprender a se defender aplicando técnicas e aprimorando-as durante as aulas”, explica.
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