É preciso livrar o país do monstro golpista de uma vez por todas
"Se o governo e outras instituições não agirem agora com toda a energia, a ameaça terrorista vai se disseminar", afirma Mario Vitor Santos
Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
A questão agora é se o presidente Lula e o seu entorno ainda têm dúvidas sobre a liderança do golpe em andamento em Brasília. A intervenção na área de segurança do Distrito Federal é um primeiro passo, mas insuficiente diante da dimensão do que está em jogo. É evidente que o golpe tem uma cabeça e ela tem nome: Jair Bolsonaro. O ex-presidente derrotado saiu do país para incentivar e autorizar os ataques à democracia em distância que julga segura.
Está claro que as forças militares e policiais, em sua maioria fecham os olhos, quando não participam, orientam e garantem os ataques, por uma cadeia hierárquica ascendente que de algum modo chega ao ex-presidente, providencialmente evadido para Orlando. É obrigatório cortar agora a cabeça dessa hidra golpista instalada dentro e fora dos poderes militares, ou ela e seus tentáculos destruirão a nação e suas instituições.
O Brasil - e o mundo - observam as ações do governo em defesa do Estado de direito que a duras penas se tenta reconstruir. É preciso reconhecer que os golpistas em sua audácia são extremamente perigosos, dispostos que estão a não se deter diante de nada. São baderneiros, arruaceiros, incendiários, anarcofascistas, hordas em delírio cegas e teleguiadas por um comandante entocado no exterior, cujas ordens obedecem.
Diante da profanação contra as maiores instituições da democracia, incentivado pela omissão e comissão dos comandos e das tropas militares, o governo de Lula tem que agir com velocidade, em consonância com a consciência e a mobilização da sociedade civil, em aliança com outros governos e poderes, mas sem vacilações nem clemência. Prender, identificar, fichar, investigar, processar e condenar todos os conspiradores, inspiradores, mentores, organizadores, financiadores, de alto a baixo. Estamos numa situação de exceção permanente, plantada dentro da máquina oficial durante a passagem bolsonarista pelo governo.
É necessário que o presidente da República e o ministro da Justiça, pelo menos, juntamente com outros poderes, detenham recursos excepcionais para dar conta da dimensão desse combate. A tarefa é esmagar o golpismo, inclusive o que se aninha, como ideologia ou facção, em qualquer ponto das Forças Armadas e forças policiais. Os responsáveis estão encarregados de devidamente livrar em definitivo essas estruturas da infestação golpista ao longo de toda a hierarquia. Será necessário criar estruturas livres do bolsonarismo que, não cabem mais dúvidas, povoa as forças. Devem, se for o caso, criar novas estruturas militares, que sirvam como instrumentos da democracia e não do fascismo.
As forças existentes precisam afinal demonstrar compromisso férreo com o respeito à Constituição, à democracia e, portanto, de sua submissão ao poder civil, sob pena de virem a ser destituídos e punidos. O Estado precisa dispor de órgãos de segurança e inteligência totalmente livres do veneno fascista e golpista. Não é o momento de cultivar autoenganos. O que resta de democracia e de instituições republicanas está em sério risco. A economia, os direitos, os meios de vida dos cidadãos encontram-se sob ameaça. Na lista de alvos dos terroristas estão paralisar vias de trânsito e os bloqueios a refinarias. Nas ruas, agridem quem deles discorda, com incentivo de policiais. Vão seguir contando com a simpatia e anarquia hierárquica que reina nos quartéis? O alvo maior dos terroristas é o resultado das urnas.
Se o governo e outras instituições não agirem agora com toda a energia, a ameaça terrorista vai se disseminar. Paira o risco de a indisciplina vencer e o motim golpista prosperar. Da parte do novo governo, de índole sabidamente conciliadora, nunca existiu a intenção de confrontar-se pela força com os que ameaçam a democracia. Foram estes que quiseram colocar a disputa no terreno da violência. Cumpre exterminar sua influência de uma vez por todas, não importando onde covardemente se ocultem. O sinal vermelho foi aceso. Amanhã pode ser tarde demais.
Mario Vitor Santos
Mario Vitor Santos é jornalista. É colunista do 247 e apresentador da TV 247. Foi ombudsman da Folha e do portal iG, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha.
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