E se o bolsonarismo e seus agregados mantiverem o mesmo nível de fidelidade?
"Poderemos descobrir nos próximos dias que as prova dos crimes de Bolsonaro e seus militares não abalam a sustentação da extrema direita", diz Moisés Mendes
Mauro Cid, Jair Bolsonaro e Lourena Cid (Foto: Alan Santos/PR/Divulgação | Divulgação/Polícia Federal | Divulgação/Alesp)
Há um dado ainda submerso em relação a tudo o que aconteceu em torno de Bolsonaro e das suas quadrilhas nos últimos dias.
Esse é o dado: como os desmandos do sujeito são percebidos pela população, a partir das novas informações incontestáveis de que ele era o chefe dos criminosos?
E como os mesmos fatos impactam na imagem das Forças Armadas, considerando-se que agora há provas concretas de envolvimento também de um general no caso das joias?
Não são mais indícios e suspeitas. O general Mauro César Lourena Cid era um dos negociadores das joias que Bolsonaro ganhou em nome do governo e das quais não poderia se apropriar ou vender.
Uma pesquisa de opinião feita nos próximos dias pode revelar, sem surpresas, que Bolsonaro mantém a mesmo lastro de fidelidade e confiança ao redor de 30%, considerando-se a sua base expandida.
Esse quase um terço da população pode reafirmar que continua ao lado do indivíduo, como se negasse ou ignorasse – como já negou outras vezes – a realidade.
É possível também que os crimes cometidos pelo general pai do ajudante de ordens sejam percebidos pela média dos brasileiros como algo excepcional.
E que as Forças Armadas mantenham a reputação como uma das instituições mais respeitadas pela população.
Nos dois casos, pesquisas do Datafolha, que se dedica esse tipo de sondagem com mais frequência, poderiam oferecer respostas esclarecedoras.
Se Bolsonaro mantiver o apoio de quase um terço da população e se os militares não sofrerem danos de imagem, apesar do envolvimento do pai general e do seu filho coronel no caso das joias, o país pode se preparar para a aceitação, talvez por muitos anos, de que a índole dos criminosos é também a índole declarada ou dissimulada de 30% dos brasileiros.
O Brasil pode ser confrontado com essa verdade. Apesar da sequência de horrores cometidos pela estrutura bolsonarista, e não só por Bolsonaro, é possível que parte relevante do país esteja indiferente ao que acontece.
A combinação de fundamentalismo religioso, desinformação, ignorância, ódio, ressentimentos, negacionismo, antilulismo e outros sentimentos impregnados nesse um terço da população pode estar intocável.
E talvez permaneça como está, mesmo que nos próximos dias Bolsonaro e o seu general joalheiro venham a ser presos.
Podem estar errados os que chegaram a ver o provável fim político de Bolsonaro, com os seus desdobramentos, como o fim do bolsonarismo ou seu enfraquecimento.
É bem possível que direita e extrema direita com vínculos com o bolsonarismo apenas se reacomodem em outro patamar, mas sempre em torno dos 30%.
Vamos nos preparar para continuar vendo, sabe-se lá até quando, o mesmo retrato de um Brasil ainda doente.
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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