Ele, a viola e Deus

Boldrin tocava a boiada cultural nos diversos terrenos do mundo do fazer artístico

Antônio Serpa do Amaral Filho
Publicada em 10 de novembro de 2022 às 11:48
Ele, a viola e Deus

Cessou o trote para o grande artista brasileiro. Ele apeou do cavalo da vida para embarcar no bonde da História. Não está só! Vai ele, a viola e Deus! 

Pra início de conversa, é preciso dizer que Rolando Boldrin era todo o Brasil e mais um pouco! Falava todos os falares da prosa brasileira! Cantava todos os cantares do cancioneiro pátrio! Traçava todas as prosas do prosário nacional! Matuto mas não tanto, fez pacto com a malandragem bem antes da timidez caipira fazer assentamento no seu modo de ser. Ficou esperto, conversador e inventivo! Com o espírito afiado pro que desse e viesse, Boldrin tinha sempre metro e meio de prosa na ponta da língua para assuntar com os convidados no seu empório cultural!  

Menino marrento nascido na interiorana São Joaquim da Barra, na jurisdição paulistana, desde muito cedo venceu as amarras do acanhamento sertanejo e se atirou ainda curumim nos braços da vida artística, formando, com doze anos, com seu irmão, a dupla Boy e Formiga, que já tinha vez na audiência da rádio municipal.  

Boldrin tocava a boiada cultural nos diversos terrenos do mundo do fazer artístico. Foi ator, cantor, compositor, apresentador e muito bem talhado proseador. Mas como nem tudo são flores nessa vida de meu Deus, claro, ele também foi sapateiro, frentista, chapa, garçon e até badeco de farmacêutico que sonha um dia ser doutor. 

Com o passar dos anos, de mala e cuia e sem medo de ser feliz, partiu pra dentro do circuito artístico da grande São Paulo, onde graças ao seu talento acabou conhecendo as grandes figuras do cenário nacional. Ali, cresceu e abriu espaço para que outros viessem a crescer. Bebeu em todas as fontes da cultura brasileira, palmilhando passo a passo um Brasil brasileiro autêntico, rural, pé no chão, um país risonho e cheio de malícias, tradições, amor, encantamentos, prosas e ritmos que o próprio brasileiro desconhecia. Boldrin viu o quanto era belo, essencial, substancioso e criativo o brasil dos rincões, das chapadas, campinas, litorais, brejos e sertões. Apaixonado pelo que viu, descobriu e sentiu no mundo da música, das lendas, dos causos e sons de viola, tomou para si a missão de mostrar à comunidade nacional as descobertas da sua sociologia cultural!  

E assim tanto fez, que se tornou o Senhor Brasil! Se não mulato, um galego inzoneiro, quero cantar-te nos meus versos...  

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