Em busca da gaiola de ouro
Há uma gaiola de ouro em disputa e que pode arrumar para sempre a vida de qualquer um que se habilite a disputá-la
Naquele porão imundo, insalubre e fedorento o frenesi era geral. Baratas, ratos e carapanãs já haviam decidido que iriam participar da escolha do novo administrador daquele sinistro ambiente. Para a maioria dos moradores do então sujo e inóspito lugar, a situação não estava boa e já fazia um bom tempo. Para os candidatos, no entanto, tudo sempre correu “às mil maravilhas”. Dizem de maneira hipócrita que eleições fazem parte do processo democrático, mesmo que muitos dos eleitores sejam estúpidos, analfabetos, imbecilizados e sem nenhuma leitura de mundo. Até mesmo os tribunais tentam aumentar ainda mais a estupidez coletiva atestando a lisura do pleito. Porém, muitos sabem, mas não dão a mínima importância, que eleição ali sempre foi um jogo de cartas marcadas. O vencedor ou a vencedora já foi devidamente escolhido (a) por todos os insetos mais ricos.
Por isso, a votação é apenas mais um detalhe. Principalmente naquela asquerosa caverna. Sem nenhum conhecimento da dolorosa realidade que os cerca, os eleitores são convencidos, sem muita dificuldade, de que o atual rato que os administra é um herói, um salvador da pátria, uma pessoa poderosa e de outro mundo. Assim, quem ele indicar tem que ser aclamado (a) pelo voto da maioria. Um “favorzinho” aqui, outro acolá e tudo se ajeita na hora da eleição. Há uma gaiola de ouro em disputa e que pode arrumar para sempre a vida de qualquer um que se habilite a disputá-la. Não interessa se os moradores passam fome e vivem na promiscuidade e na sujeira. “O importante é chegar ao poder” e assim ter acesso aos impostos arrecadados e mandar em todos os insetos mais inferiores. Os porcos, que fiscalizam todas essas eleições, já fizeram isso antes em seus chiqueiros.
No amaldiçoado e sujo porão, todos os candidatos já fizeram, muito antes de se candidatar, uma espécie de pacto entre eles. “A busca pela gaiola de ouro é o nosso maior objetivo para, dessa forma, continuarmos sempre no topo da escala social”, avaliam alguns ratos e baratas daquela horrorosa comunidade. Nessa estranha eleição, o candidato que menos fez pela comunidade recebe o apoio irrestrito de todos. Assim, o importante mesmo é não ter feito muitas benfeitorias ali. Falta saneamento básico para todos? Tudo bem! Não existe mobilidade urbana? Melhor ainda! Os insetos mais pobres não têm moradia nem acesso à água potável? Legal! A fome campeia entre toda a comunidade? Que bom! A corrução dali desvia todos os impostos arrecadados? Um primor! Faltam hospitais e não há médicos suficientes para todos? Bacana! É tudo uma eleição às avessas.
O candidato que ganhar, convidará de imediato, e na surdina, todos os outros perdedores das eleições para compor o novo governo. Assim, todos que participaram do pleito sairão ganhando. Naquele celeiro abandonado e promíscuo não há esquerda nem direita. Há somente candidatos e não candidatos. Ratos que já foram advogados, baratas que foram professores, carapanãs comerciantes, grilos empreendedores e até alguns insetos que sabem fazer discursos participam do pleito. Passadas as eleições, continuará existindo quem paga muitos impostos e quem não pagará taxas por um bom tempo. Já está decidido que durante a campanha fica permitido todo tipo de denúncia e de agressões ao concorrente. Só que é tudo de mentirinha para tapear os burros e tapados eleitores, que em tudo acreditam. A mídia, que já teve devidamente acertado o seu quinhão, fará coberturas ao vivo. A igreja dos insetos abençoa o vencedor e ao final todos sairão felizes.
*Foi Professor em Porto Velho.
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