Em tempos pós-golpe, apagões são, no mínimo, intrigantes
'O episódio nos leva a expor a suspeita de que os terroristas tentaram derrubar torres de transmissão de energia pelo País', escreve a colunista Denise Assis
(Foto: Reuters | Reprodução)
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, atribuiu o apagão que escureceu o país praticamente de Norte a Sul, na manhã de hoje, ao “desinvestimento” da privatização, o que é totalmente factível. Porém, no instante em que se aprofundam as investigações sobre os atos terroristas e golpistas de 8 de janeiro, e quando essas investigações expõem a participação de nomes estelares, é no mínimo de se estranhar que ocorra um apagão em 25 estados brasileiros simultaneamente.
Conforme investigações da PF, aqueles atos em Brasília teriam a complementação – que felizmente não foram adiante –, de atentados contra torres de transmissão de energia país a fora. No relatório secreto da Abin, entregue à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) em julho, há um detalhamento de todos os planos dos fascistas, incluindo a suspeita de que tentaram colocar abaixo torres de transmissão de energia em vários estados do país.
O silêncio covarde e suspeito de Jair Bolsonaro e o seu entorno, quanto ao escândalo das joias, pode ser entendido como uma tentativa de ganhar tempo, mas até que se apure detidamente as causas e prováveis efeitos do “apagão” ocorrido nos estados, não é descartável e tampouco estapafúrdio pensar que ele e sua turma – não tendo mais nada a perder -, continuem a perseguir uma cisão na sociedade.
O apagão desta terça-feira, 15/08, deixou várias regiões do Brasil sem energia. Os relatos da queda de luz começaram por volta das 8h20 e aconteceram em várias regiões do país. Além do DF, 25 estados notificaram a situação, incluindo Piauí, Bahia, Acre, Amapá, Maranhão, Pernambuco, Minas Gerais, Ceará, Santa Catarina, Amazonas, Paraíba, São Paulo, Alagoas, Goiás, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Tocantins.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), antecipou seu retorno ao Brasil para acompanhar os desdobramentos do apagão. Ele estava acompanhando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em viagem no Paraguai, onde participam da posse do novo presidente, Santiago Peña. Em posts nas suas redes sociais, o ministro comunicou: “desde as primeiras notícias da interrupção do abastecimento de energia em alguns estados nesta manhã, determinei o rápido restabelecimento dos serviços, assim como a devida apuração dos motivos que levaram à queda de energia”.
Ele disse, também, que providenciou o seu retorno imediato ao Brasil, onde acompanhava o presidente Lula na posse do novo presidente paraguaio Santiago Peña", a fim de liderar todos os procedimentos.
Por enquanto, nos contentamos com a “satisfação pública” fornecida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico:
“A causa da ocorrência está sendo apurada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), órgão responsável pela coordenação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional (SIN)”.
E pelo Ministério das Minas e Energia:
"A interrupção ocorreu devido a abertura, às 8h31. A recomposição já foi iniciada em todas as regiões e até às 9h16, 6 mil MW já foram recompostos. A equipe do MME está trabalhando para que a carga seja plenamente restaurada o mais breve possível. O Ministro Alexandre Silveira já determinou a criação de uma sala de situação e acompanha o processo de retomada, bem como determinou a apuração das causas do incidente", diz o comunicado do Ministério de Minas e Energia”.
O episódio nos leva a expor uma suspeita investigada pela Abin, de que os terroristas, uma semana depois da posse de um governo democrático, eleito pelo povo, por voto direto, tentaram derrubar torres de transmissão de energia pelo país.
E, mais uma vez, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontra fora da capital, Brasília – no 8 de janeiro ele estava em Araraquara, interior de São Paulo -, agora ele prestigiava a posse do presidente do Paraguai, Santiago Peña.
No relatório da Abin, (390 p), constam da página 221 à página 226, informações pormenorizadas sobre a provável ação dos terroristas. Os investigadores levantam a suspeita de que eles retiraram parafusos ou peças que dão sustentação às torres, fazendo-as tombar, provocando a interrupção da transmissão de energia, o que dá bem a noção de como possivelmente agiram ou podem agir para promover a paralisação da vida do país.
O capítulo tem o título:
“ATAQUES A TORRES DE LINHAS DE TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA” e detalha que “nos casos em que ocorre a retirada de peças das torres, pontua-se a dificuldade para caracterizar a ocorrência como sabotagem ou crime comum, especialmente vandalismo e furto de materiais. Uma das características que diferenciam vandalismo e furto de sabotagem é a quantidade de peças subtraídas e o potencial para causar a queda da torre. O vandalismo e o furto normalmente se direcionam a poucas e pequenas peças, pois em geral são crimes cometidos por leigos que têm receio de que a torre caia. Nesse contexto, o evento na LT da Chesf apresenta características de sabotagem”.
Os agentes da Abin destacaram também uma preocupação: “a utilização de retroescavadeira e tratores para atos criminosos contra torres de transmissão. Em sobrevoo recente de aeronave da Polícia Rodoviária Federal na rede Chesf danificada em Pernambuco, a tripulação observou que, aparentemente, a base de terra da sustentação de torres danificadas havia sido revirada. Posteriormente, equipes da Chesf detectaram que se tratava de condições normais de erosão e passagem de máquinas agrícolas, comuns ao local das estruturas”.
Eles ressaltaram, ainda, que em razão das suspeitas e de uma carta de representantes dos distribuidores de energia, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), solicitou ao Ministério de Minas e Energia (MME) que criasse um grupo para atuar nas seguranças das torres. Em resposta a Aneel, o Operador Nacional do Sistema Elétrico e o Ministério de Minas e Energia criaram o Gabinete de Acompanhamento da situação do Sistema Elétrico Brasileiro, que tem como um dos seus objetivos garantir a segurança do Sistema Integrado Nacional.
E, no final desse relatório, a Abin destaca: “Permanece o risco de tentativas de sabotagem contra LTs e demais estruturas ou instalações de outras infraestruturas críticas nacionais, perpetradas por indivíduos ou grupos radicalizados.
Convém lembrar que em seu depoimento na delegacia da Polícia Civil do Distrito Federal em 24/12/2022, ao ser preso e conduzido para prestar depoimento, George Washington de Oliveira Leal, autor do atentado com o caminhão que pretendia fazer voar pelos ares o aeroporto internacional de Brasília, ele conta que havia planos de colocar um explosivo junto a um poste de energia. Leia trecho:
“Em razão dos explosivos, foi acionada a “operação petardo”, motivo pelo qual não sabe dizer se as emulsões foram preservadas; Em entrevista informal, George afirmou que estava preparado para a “guerra”, aguardando uma convocação do Exército, pois era um defensor da liberdade, estando, em suas palavras, “para matar ou para morrer”; George confessou sua participação no atentado dessa manhã, afirmando que, no dia 23/12, à noite, foi até o QG e deixou o artefato explosivo já preparado, com a pessoa de Alan Diego dos Santos Rodrigues; Disse que acreditava que o explosivo seria colocado tão somente em um poste de energia para interromper a transmissão de energia para Brasília”.
Denise Assis
Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".
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