Emocionados, pacientes e familiares manifestam gratidão ao atendimento médico domiciliar
É um atendimento especial com o qual a população se apega, especialmente nas zonas sul e leste. Para socorrê-la, quatro equipes percorrem semanalmente 700 quilômetros de ruas, avenidas e pequenas estradas
Maria das Dores chora abraçada ao psicólogo Eduardo Rezende ao lembrar do marido que era atendido pelo Samd
Sorte dos 203 atuais pacientes do Serviço de Atendimento Médico Domiciliar (Samd) da Secretaria Estadual de Saúde: durante e ao final de cada tratamento, eles “ganham” novos parentes.
Em sete anos, o Samd visitou 900 pacientes em Porto Velho. Para chegar até sua clientela, quatro equipes percorrem semanalmente 700 quilômetros de ruas, avenidas e pequenas estradas.
A relação saúde pública e paciente é bem diferenciada no Samd, que aniversaria no próximo mês de dezembro.
Gratidão é a palavra maior da enfermeira Mariana Aguiar, 33 anos, coordenadora do Samd. “A todos os que passaram por aqui e saíram, aos que ainda permanecem; com amor e dedicação, nós todos evoluímos”.
A maioria dos 85 profissionais do Samd se torna bem conhecida de pacientes, familiares e cuidadores que com eles estabelecem sólidas relações de amizade. A frota é formada por oito veículos.
“O Samd economiza até 80% no custo de um paciente, comparando-o ao custo que ele daria se fosse internado num hospital”, diz o secretário estadual de saúde Fernando Máximo.
O secretário lembra que a inspiração do Samd é federal:
“Ele vem desde 2011 sempre em busca de corresponder às expectativas do Departamento de Atenção Básica e da Coordenação de Gestão Hospitalar do Ministério da Saúde”.
A enfermeira Márcya Andrade, 34, conduz os repórteres da Secom à casa de dona Maria das Dores Araújo dos Santos, 60, no bairro Eletronorte (zona sul). Ela é viúva de Jasieber Pereira Silva, maranhense de Bacabal, falecido aos 70 anos em 14 de fevereiro deste ano, depois de lutar contra um câncer pulmonar.
Dona Maria das Dores emocionou-se. Jasieber tinha cinco filhos do casamento anterior, entre os quais, a pastora Judileia, da Igreja Batista das Nações, entretanto, foi Poliana, 35, filha dela, quem cuidou dele até o fim. “Ele morreu nos braços dela”, conta a viúva. Jasieber fora atendido pela equipe Açaí, liderada pela médica Micheli e pela enfermeira Tamires.
“Da direção ao atendimento, o Samd foi meu braço direito, porque chegou aqui quando eu não podia mais sair de casa”, ela diz.
Em lágrimas, antes de se despedir, chama a enfermeira Márcya e o psicólogo Eduardo Rezende, 34, entregando-lhes um cilindro de oxigênio doado ao serviço médico. Diz que doará mais.
Há quase dois anos, Maria do Carmo cuida da mãe, Francisca das Chagas
MÃE COM AVC
Maria do Carmo, 37, nascida em Cruzeiro do Sul (AC), tem três irmãos em Porto Velho e um no Acre, mas só ela cuida da mãe, Francisca das Chagas, 67 acometida por um AVC quase cinco anos atrás.
Maria vai inteirar um ano e oito meses fazendo o que pode com a equipe do Samd, para ter a mãe viva. Não é fácil, o emocional já sofreu algum abalo, conforme ela conta ao psicólogo Eduardo.
A filha Jenice, 16, parou de estudar na 8ª série. Cursava o Centro de Ensino de Jovens e Adultos Padre Moretti, mas desde quando se mudaram para o pequeno apartamento, a escola ficou muito distante.
Além dela, a irmã Ana Clara, de um ano e seis meses, exige tanta atenção quanto à avó acamada. Sentada no sofá, observa as visitas e repete seguidas vezes com um lindo sorriso: “mamãe, mamãe”, olhando nos olhos de Maria.
Ao final da visita, Maria franze a testa, desabafando: “Olha, o Samd tem me ajudado muito, tenho muita gratidão para todos vocês, só falta mesmo a presença dos meus irmãos”.
Valéria teve alta, acidentou-se, mas está disposta a trabalhar logo
VALÉRIA ANSIOSA
Valéria Lima, 41, caminha até o portão de casa de reboco, no bairro Rosalina Carvalho (zona leste). Recuperada de uma vasculite infecciosa que a acometera em fevereiro de 2015, teve alta em outubro de 2016.
À base de curativos e antibióticos ministrados de 12h em 12h pela equipe Buritis, ela recebeu atenção três meses seguidos depois de internada nove dias no Hospital João Paulo II.
“Do problema que me derrubou eu me livrei, mas infelizmente quebrei o pé num acidente de moto”, ela conta mostrando o local da cirurgia. Ficou sob os cuidados da médica Elza Gabriela e da enfermeira Flora Lemos. “Meus exames em casa foram bons, e eu dou graças a Deus, porque quando precisei me olharam muito bem”, relata.
Valéria pretende melhorar brevemente. “Tô aqui encostada até fevereiro, mas quero melhorar amanhã mesmo”, ela diz. Afinal, até poucos dias atrás estava na cadeira de rodas.
Ela obteve vaga e assinou contrato de trabalho com uma empresa de limpeza, faxina e outros serviços, daí sua apreensão. Cuida de um único filho, João Vitor, 11, aluno da 5ª série do Ensino Fundamental.
“A EQUIPE DO AMOR”
Mancando de um lado a outro do restaurante de comida a quilo, onde trabalha, na Avenida Calama, Adriana Rodrigues, 31, encontrou vaga no mercado de trabalho, mesmo guardando sequelas neurológicas do acidente sofrido em 2014 na confluência das avenidas Amazonas e Mamoré.
Seu périplo foi grande: da UPA Leste para o Hospital João Paulo II, dali para Assistência Médica Intensiva (AMI), depois para o Hospital de Base Dr. Ary Pinheiro, depois para o Samd. As equipes Açaí e Buritis lhe aplicaram doses sucessivas de remédios controlados e DuoDerm [fibra cirúrgica] para curar escaras nas costas.
“Eu nem agachava”, lembra Adriana, nascida em Vargem Grande Paulista, ainda se refazendo das fortes pancadas. Passou alguns meses na cadeira de rodas, para poder iniciar a fisioterapia que a devolveu à vida normal.
Maria do Carmo, mãe de Adriana (c), fisioterapeuta Kysi, enfermeira Marta Maria e enfermeira Márcya Andrade
De 31 de outubro de 2014 a 21 de julho de 2015, o Samd foi o “anjo da guarda” de Adriana. A mãe dela, dona Ana Maria, reconhece essa condição. “Olha, os nossos vizinhos nem acreditavam no que viam, quando esses anjos desciam da ambulância; eu mesmo desconfiava e me perguntava de quanto seria e quando ia receber a conta”, ela comenta.
A cada febre, uma das equipes voltava à casa de dona Maria. Esgotavam alimentos ou suplementos, ela telefonava e era prontamente atendida.
Viúva, Maria casou-se novamente com seu Osnero, um pedreiro. Seus três filhos ficaram em São Paulo e dois estão no bairro Lagoinha (zona leste), onde cria o neto Vander, 5, aluno do pré-escolar.
“Neste dia (22) em que reencontramos Adriana e sua mãe, faz 22 anos que elas saíram de São Paulo”, conta a enfermeira Márcya. A técnica de enfermeira Marta Maria de Souza, a enfermeira Márcya e a fisioterapeuta Kysi da Hora chegam ao restaurante, a ex-paciente delas mistura choro e sorrisos. Abraçam-se e tiram fotos.
Dona Maria fala pela filha: “Enquanto eu viver, sempre, sempre, serei grata a essa equipe do amor. Minha filha saiu do Hospital de Base sem esperança, estava igual um ping-pong, porque o carro jogou ela pra cima duas vezes, em cima da calçada”.
COMO FUNCIONA O SAMD
► Agentes administrativos, assistentes sociais, psicólogos, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, nutricionistas e motoristas se revezam diariamente para fazer o melhor, dentro de critérios enquadrados na humanização da saúde pública. Aos sábados e domingos funciona um plantão.
O QUE FAZ
► Quatro equipes saem todas as manhãs da sede do Samd, na Rua Geraldo Siqueira (bairro Cidade Nova, zona Sul), transportando kits de antibióticos, anti-inflamatórios, soros (hidratação parenteral), gaze, luvas, compressas, ataduras e tocas para curativos. Os kits têm o nome do paciente, endereço, telefone e dosagem a ser aplicada ou ingerida.
► Pacientes oncológicos têm sido atendidos em cuidados paliativos, pois já cessaram todas as medidas de contenção do câncer, exigindo das equipes humanização e medidas de conforto no lar.
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