Foram duas as tentativas de golpe

"8 de janeiro foi a farsa do golpe original que não se concretizou", afirma Tereza Cruvinel

Tereza Cruvinel
Publicada em 08 de fevereiro de 2024 às 12:37
Foram duas as tentativas de golpe

Bolsonaro e terroristas invadindo o Congresso Nacional (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino | George Marques/via REUTERS)

A  Operação Tempus Veritati, realizada nesta segunda-feira pela PF,  permite a compreensão de que foram duas as tentativas de golpe de Estado para burlar o resultado da eleição presidencial e manter Bolsonaro no poder.  As investigações revelam que Bolsonaro planejou um golpe com uso de tropas militares  antes da posse de Lula, que o manteria no governo, prenderia ministros do STF e o presidente do Congresso e marcaria novas eleições presidenciais.

Como este golpe não aconteceu, em 8 de janeiro houve uma tentativa desesperada de realizá-lo, já com Lula empossado e Bolsonaro nos Estados Unidos, forçando a adoção de uma GLO com a invasão das sedes dos três poderes e o vandalismo generalizado que chocou o país. Esta, poderíamos dizer, foi a farsa do golpe original que não se concretizou.

Bolsonaro, que hoje teve apenas o passaporte apreendido, agora está definitivamente comprometido com o crime de golpe de Estado. Se em relação ao 8 de janeiro ele pode alegar que nem estava no país, agora existem provas de que ele planejou um golpe que seria dado antes da posse de seu sucessor eleito.

O golpe antes da posse seria consumado com a intervenção de tropas do Exército, através do batalhão do Comando de Operações Terrestres do Exército (Coter), localizado em Goiânia e vinculado ao Comando Militar do Planalto. Por isso um dos alvos da operação desta segunda-feira foi o general Theóphilo Gaspar de Oliveira, que era na época o comandante da unidade.  

A PF concluiu, a partir de mensagens obtidas no celular do ex-ajudante-de-ordens Mauro Cid,  que o general Teóphilo reuniu-se com Bolsonaro no dia 9 de dezembro, três dias antes da diplomação de Lula, na qual foi acertada a participação de seu comando no golpe. Ele teria concluído e se colocado de prontidão.

Não por acaso, o ministro Alexandre revelou, em sua fala no ato que esconjurou a tentativa de golpe no último dia 8 de janeiro,  que um dos planos era prendê-lo e levá-lo para Goiânia. Agora fica claro que seria para o batalhão terrestre comandando pelo general Teóphilo.

O plano previa que oficiais das Forças Especiais do Exército (os chamados Kids Pretos), atuariam prendendo o ministro do STF Alexandre de Morais e outras autoridades. O golpe previsto para antes da posse falhou mas vários Kids Pretos foram, de fato, vistos em ação na tentativa de ressuscitar o golpe de 8 de janeiro.

O plano para o golpe original seria baseado, juridicamente, em decreto cuja minuta foi apresentada a Bolsonaro pelo então assessor  Filipe Martins, um dos presos nesta segunda-feira,  e Amauri Feres Saad, outro assessor. O decreto, alegando interferências do STF no Executivo, determinaria a prisão dos ministros  Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, além do Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Bolsonaro teria feito mudanças no texto, mantendo apenas a prisão de Morais, que teve monitorados os voos que realizou entre 14 e 31 de dezembro.

Como todos se lembram, no dia 12 de dezembro, em que Lula foi diplomado pelo TSE, falanges bolsonaristas tocaram o terror em Brasília, tentando inclusive invadir a sede da PF.

O que não está claro ainda é por que o golpe de antes da posse não aconteceu.  Possivelmente, faltou coragem a Bolsonaro, que na hora H recuou e preferiu embarcar para os Estados Unidos. Todos se lembram da lenga-lenga sobre seu destino nos dias finais de dezembro de 2022. Ora se dizia que ele viajaria nesta ou naquela data,  ora se dizia que ele resolvera passar a  faixa presidencial para Lula.  Nas vésperas do Natal foi abortado o plano para explodir uma bomba no aeroporto de Brasília. Talvez esta fosse a senha para o golpe. Fato é que ele não veio e Bolsonaro embarcou no dia 30 de dezembro.

Afora a conhecida covardia de Bolsonaro, talvez tenha havido, como sustenta o ministro José Múcio, alguma reação dos altos comandantes das Forças Armadas para impedir o golpe de antes da posse.

Ainda saberemos. A hora da verdade está mesmo chegando.

Tereza Cruvinel

Colunista/comentarista do Brasil247, fundadora e ex-presidente da EBC/TV Brasil, ex-colunista de O Globo, JB, Correio Braziliense, RedeTV e outros veículos.

Comentários

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    Carlos 09/02/2024

    Queriam dar ao golpe uma aparência de legítimo. Mas não havia nada em que se apoiar. Pura birra de mau perdedor. Bolsonaro agiu igual o Dick Vigarista: ao invés de correr pra ganhar a corrida, e tinha um bom carro, preferiu sabotar os outros concorrentes, caindo ele próprio em sua armadilha.

  • 2
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    Martins 08/02/2024

    Nao existe dentro da atual conjuntura mundial nada que legitimasse um golpe, qual seja: o Brasil está entre as maiores economia do mundo, um dos maiores exportadores de materia prima do mundo. E se acontecesse, agiria com um país susariano-africano. Não existe golpe de estado numa nação de grande importância na geopolítica mundial, sem apoio das grandes potências. Fico aqui me perguntando, como que esses militares se envolveram numa trama dessas. Os militares oficias em tese, são pessoas com leitura de mundo, ou será que foram envolvidos pelos as mordomias e os polpudos numerário, coisa que na ativa tá longe de tê-los. De uma coisa é certa,eles conseguiram arranhar uma reputação, que vêm desde os tempos da criação da república

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