Fundo eleitoral: sinal de banditismo estacionário do congresso nacional?
O conceito de bandido estacionário está intimamente ligado à obra do economista e cientista social norte-americano Mancur Olson, que remete a origem do Estado à organização das sociedades humanas primitivas
Há na ciência política um conceito conhecido popularmente como "teoria do bandido estacionário" e apesar de ser menos famoso do que sua rival a "teoria do contrato social", ambos procuram explicar o surgimento do Estado no seio da sociedade.
O conceito de bandido estacionário está intimamente ligado à obra do economista e cientista social norte-americano Mancur Olson, que remete a origem do Estado à organização das sociedades humanas primitivas. O economista parte da ideia de que inicialmente os seres humanos se organizavam em pequenos grupos, que frequentemente entravam em conflito. No computo geral, os grupos compostos de caçadores e nômades levavam a melhor nas lutas travadas com os grupos que não eram nômades. A vantagem se dava em função das habilidades de combate dos caçadores, que eram muito superiores aos dos grupos sedentários que praticam somente a agricultura.
Em determinado momento, os grupos mais fortes perceberam que saquear totalmente grupos diferentes não era a forma mais vantajosa de obter seu sustento. O caminho ideal seria uma pilhagem parcial, a fim de manter a produtividade dos grupos saqueados. Ao invés de predadores vorazes, os grupos mais fortes decidiram se instalar e "cultivar" os grupos mais fracos, para que sempre pudessem espoliar os frutos de seu trabalho. Portanto, foi uma composição feita com base na ameaça, na violência e na coerção, mas que garantiu a manutenção do grupo mais forte e a sobrevivência de parte do grupo mais fraco. Guardadas as devidas proporções, a situação enfrentada pelo cidadão brasileiro é a mesma que os grupos mais fracos da teoria de Olson enfrentavam.
Para espanto geral de todos, na quinta-feira, 15 de junho, o Congresso Nacional aprovou o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2022. Além do orçamento geral, o texto prevê a ampliação de recursos para o financiamento de campanhas políticas - o famigerado fundo eleitoral. Enquanto em 2018 e 2020, o valor foi de R$ 2 bilhões, para 2022 o valor passou para abjetos R$ 5,7 bilhões.
Deputados de diversos partidos e de várias matrizes ideológicas votaram a favor da aprovação da LDO e, consequentemente, da colossal verba para o fundo eleitoral, que teve sua votação realizada de forma não nominal, principalmente, em decorrências de um suposto acordo entre as lideranças dos partidos e da presidência da comissão.
Nesse contexto, muitos deputados foram cobrados por suas bases acerca do voto positivo para a LDO e alegaram que apesar de terem votado a favor do texto principal, votariam o destaque contrário ao dinheiro destinado ao fundo eleitoral. Uma boa desculpa, mas que não justifica a aprovação que fora feita em tempo recorde em ambas as Casas do Congresso.
O cidadão brasileiro tem todo o direito de acusar o congresso por assumir a clássica postura do bandido estacionário, pois trata-se da aprovação de uma lei que terá impacto direto na vida de milhares de pagadores de impostos, que ficam obrigados a custear a pesada máquina da democracia pública brasileira, sem conseguir desfrutar dos benefícios de uma sociedade com instituições inclusivas e não extrativistas.
Em que pese a indignação popular, é preciso "dar o braço a torcer" para quem tenta justificar o voto a favor da LDO como foi apresentada, pois no passado já houve o financiamento privado de campanha, que acabou gerando diversos escândalos de corrupção. Se por um lado, o Congresso Nacional pode ser acusado de banditismo estacionário ao concordar com a aprovação de uma quantia que escarnece do povo, por outro não se pode esquecer de que o setor privado também já se utilizou de relações espúrias com partidos e poder público para atender aos seus interesses obscuros. O perigo é real de ambos os lados.
No entanto, o que ainda não parece ter ficado claro para o Congresso e nem para o poder executivo, é que parte considerável da população não deseja a reforma da máquina pública, mas o seu desmonte completo e o mais rápido possível.
É fundamental que a sociedade brasileira defina o tipo de democracia na qual deseja viver, pois isso impactará diretamente o processo eleitoral dos próximos anos. Nesse sentido, a julgar pelo teor das manifestações populares, parece que a sociedade já está ditando o ritmo e a sinalizando o tipo de mudança que deseja do Congresso: uma democracia descentralizada, com protagonismo dos governos estaduais; candidaturas independentes sem a obrigação de filiação partidária; a extinção do fundo partidário; o voto distrital genuíno; o fim dos salários e benefícios para os cargos eletivos; e o sepultamento da vida política profissional de uma vez por todas.
Allan Augusto Gallo Antonio, formado em Direito e mestrando em Economia e Mercados, é analista do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica.
Sobre o Centro Mackenzie de Liberdade Econômica
O Centro Mackenzie de Liberdade Econômica é um think-tank liberal acadêmico, único no Brasil baseado em uma Universidade. É uma iniciativa do Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) junto à Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). Entre suas pesquisas está o primeiro Índice de Liberdade Econômica Estadual (IMLEE) do Brasil, um levantamento inédito que analisa e avalia as condições de se empreender e ter sucesso no mercado e o grau de interferência estatal.
Sobre a Universidade Presbiteriana Mackenzie
A Universidade Presbiteriana Mackenzie está na 103º posição entre as melhores instituições de ensino da América Latina, segundo a pesquisa QS Quacquarelli Symonds University Rankings, uma organização internacional de pesquisa educacional, que avalia o desempenho de instituições de ensino médio, superior e pós-graduação. Possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pelo Mackenzie contemplam Graduação, Pós-Graduação Mestrado e Doutorado, Pós-Graduação Especialização, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.
Em 2021, serão comemorados os 150 anos da instituição no Brasil. Ao longo deste período, a instituição manteve-se fiel aos valores confessionais vinculados à sua origem na Igreja Presbiteriana do Brasil.
Bolsonaro espalha mentira para se livrar de denúncia sobre Covaxin e atingir Randolfe e CPI
Jair Bolsonaro parte para o ataque contra integrantes da CPI e lançando fake news nas redes sociais sobre o contrato de compra da vacina Covaxin. Randolfe rebateu: “Eu queria vacina, vocês queriam propina”
Presidente Alex Redano avalia como positivos os primeiros meses de gestão
Ele destacou a aprovação do projeto que altera áreas de reserva como dos mais importantes
Deputado Anderson Pereira elogia atitude de policial penal que agiu rápido e protegeu sua própria vida contra tentativa de homicídio em Porto Velho
Parlamentar ressaltou que a situação precisa de investigação mais aprofundada
Comentários
Seja o primeiro a comentar
Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook