Governo de Rondônia organiza a Resex Rio Cautário para créditos de carbono; famílias recebem bolsa mensal de R$ 1 mil
O governo estadual organiza a Resex Rio Cautário para desenvolver o maior projeto de crédito de carbono em unidade de conservação no País
Rondônia ingressará na economia verde em 2021, a partir da organização de extrativistas da Resex Rio Cautário
O crédito de carbono que impulsiona a economia verde entrou nas prioridades da pauta econômica do Governo de Rondônia. O maior projeto do País no uso sustentável da floresta começa a decolar na Reserva Extrativista Rio Cautário, entre os municípios de Costa Marques e Guajará-Mirim, na região do rio Guaporé .
As negociações foram retomadas na semana passada na sede da Resex, a 700 quilômetros de Porto Velho, na fronteira brasileira com a Bolívia, com sucessivas reuniões entre o secretário estadual do Desenvolvimento Ambiental (Sedam), Marcílio Lopes, e o diretor de uma empresa de investimentos, engenheiro florestal Miguel Milano.
“A combinação ambiente e finanças ajuda a combater mudanças climáticas”, disse Milano em visita à Resex.
Durante 30 anos, a empresa, parceira da Sedam pagará R$ 1 mil por mês a cada uma das 95 famílias residentes na Reserva. No dia 29 de setembro, esse recurso começou a ser creditado, e assim será feito, sem interrupção, desde que não ocorra expansão de novas áreas.
Famílias da Reserva Rio Cautário estão animadas com o recebimento da bolsa. Elas foram informadas que se trata do maior projeto de conservação na modalidade REDD+* executado em uma unidade de conservação estadual no País.
A empresa, fundo de investimentos inglês para operações com REDD+ contribuirá com R$ 1,11 milhão/ano para apoiar as unidades de conservação do Estado. No total, investirá nas Unidades de Conservação R$ 5,59 milhões, o equivalente a 175% a mais do orçamento anual de Rondônia.
Três empresas se interessaram pela execução do projeto de crédito de carbono na Resex Rio Cautário, a escolhida pela Sedam, entregou ao governo estadual uma carta de uma empresa automobilística, garantindo a compra de todos os créditos de carbono gerados pela Resex.
“Vamos premiar essa gente simples nascida aqui, e pelo fato de conservarem receberão recursos mensais pelo compromisso de 30 anos”, anuncia Miguel Milano.
É de US$ 50 milhões por ano o potencial dos créditos de carbono em Rondônia, avalia a coordenadora de Florestas Plantadas da Sedam, Julie Messias e Silva, que também é responsável pela implementação da Política Estadual de Governança Climática e Serviços Ambientais.
A estimativa da coordenadora é embasada nos dados de desmatamento do Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora o desmatamento por corte raso na Amazônia Legal e, desde 1988, revela taxas anuais usadas pelo governo brasileiro para o estabelecimento de políticas públicas.
Essa quantificação no mercado verificado ou voluntário depende de certificadores e de uma linha própria de verificação, esclarece a coordenadora de florestas plantadas, Julie Messias.
Um dos ativos da Resex, a castanha faz parte do mercado dominado por bolivianos
FORÇA DAS COMUNIDADES
O programa de manejo está estimado em R$ 100 mil/ano, com monitoramento da biodiversidade, enquanto o programa de extensão rural e fomento econômico irá dispor de R$ 250 mil/ano.
A extensão rural prevê aos extrativistas a concessão de microcréditos, incluindo a agregação do valor dos produtos do extrativismo.
Já a educação ambiental receberá investimentos de R$ 100 mi/ano para atividades com as comunidades locais e entorno da reserva. “Rondônia ainda não está decidida a ampliar projetos de REDD+, e o governo estadual segue sua agenda de alinhamento com o Ministério do Meio Ambiente, que este ano anunciou o “maior programa de serviços ambientais do mundo, o Floresta +”, informa Julie Messias.
Primeira unidade de conservação a ter um plano de manejo florestal, a Resex Rio Cautário tem área de 147 mil hectares de terras nos municípios de Costa Marques e Guajará-Mirim, e se divide em sete comunidades: Águas Claras, Canindé, Ilha/Jatobá, Lago Verde, Laranjal, Ouro Fino e Vitória Régia, com aproximadamente mil moradores.
Agora, de uma só vez, sublinha o secretário Marcílio Lopes, a Resex tem o plano e já detém o maior projeto de crédito de carbono do Brasil. “Fazendo valer o trinômio: mais florestas, mais conservação e mais benefícios socioeconômicos”, ele destaca.
O Brasil dispõe atualmente de 560 milhões de hectares de florestas nativas, área maior do que todos os países da União Europeia.
O decreto de criação da Resex é de 7 de agosto de 2001. Uma de suas partes confronta-se com a Terra Indígena Uru-eu-au-au. No antigo acervo do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a região foi anteriormente conhecida pelas glebas Conceição, Samaúma e Traçadal.
Diante do desafio em manter a floresta em pé, no contexto social de quem nela vive, o coordenador de Unidades de Conservação (CUC) na Sedam, Fábio França, manifesta cauteloso otimismo: “O maior projeto do Brasil nessa área exige um grande estudo sobre o seu funcionamento para podermos, sim, abrir um edital de chamamento a outras unidades”.
Rio Cautário banha a reserva,cuja temperatura oscila entre 23ºC e 29ºC
BOA VONTADE
Em agosto, outro diretor da empresa brasileira de investimentos, Fábio Olmos, informou numa live promovida pela Cordenadoria de Educação Ambiental da Sedam que a empresa trabalha com diversas Unidades de Conservação em diferentes situações e de diferentes maneiras.
“Por possuir um arcabouço jurídico que permite investir com segurança. Leis de mudança climática e o ambiente criado por Rondônia tornaram nossos investimentos bem salutares, elogiou o diretor.
Olmos trabalhou no Planafloro em Rondônia em 1988. O programa fora financiado pelo Banco Mundial com o objetivo principal de obter o manejo dos recursos naturais. Um diferencial importante por ele notado entre aquele período e o atual: “O pagamento por resultados é fruto de acordo com o Governo, que demonstrou boa vontade em iniciar esses projetos”.
Para o diretor, Rondônia criou uma situação interessante com vistas aos investimentos, porque possui distintas características em cada área de conservação. “Por exemplo, unidades de uso sustentável e reservas extrativistas estão em terras públicas, onde as comunidades têm a concessão de uso”, ele observa.
“Dadas às condições bem especificadas no plano de manejo e de utilização dessas áreas, todas têm regras para esse uso, e elas são bastante autônomas para definir o que vai acontecer”, acredita.
PRIMEIROS PASSOS
“Tudo tem que ser validado pelas comunidades”, explica o coordenador da Resex, o engenheiro agrônomo e extrativista Celso Franco Damaceno.
O presidente do Conselho Deliberativo dos Recursos Extrativistas Rio Cautário, Osvaldo Castro de Oliveira, já convocou reunião do REDD+ para esta semana, com as comunidades da Reserva.
Será constituída a Câmara de Gestão do Projeto, na qual se respeitará a realidade de todas as comunidades. Uma espécie de “vida passada a limpo”. O governo estadual pretende mobilizar associações de extrativistas visando à instalação de agroindústrias.
Serão eleitos 22 responsáveis pela gerência do projeto, assistentes em dois níveis, monitores ambientais, estagiários, viveiristas, brigadistas e um contador. O projeto inclui também a aquisição de dois veículos modelo picape, dois botes de alumínio e quatro motocicletas.
A torre de observação e vigilância ficará a 42 metros de altura; o pessoal do projeto irá dispor de três habitações com 100m² cada uma; e ainda: viveiros, sinalização da unidade, equipamentos em geral para operacionalização, equipamentos de proteção individual (EPI), gerador, computadores de mesa, laptops, manutenção de tecnologia de informação, e sistema de radiocomunicação.
* REDD+ é um incentivo desenvolvido no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) para recompensar financeiramente países em desenvolvimento por seus resultados de Redução de Emissões de gases de efeito estufa provenientes do desmatamento e da degradação florestal, considerando o papel da conservação de estoques de carbono florestal, manejo sustentável de florestas e aumento de estoques de carbono florestal (+).
** Julie Messias é titular da Comissão Nacional para REDD + Conaredd pelo Estado de Rondônia e demais estados da Amazônia Legal. Ela já foi diretora do Conselho Executivo da Força Tarefa dos Governadores pelo Clima e Florestas (GCF TF); presidente do Grupo de Trabalho para diálogos com povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia Legal; membro do Comitê Global de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais; e diretora do Instituto de Mudanças Climáticas e Regulação de Serviços Ambientais do Estado do Acre.
MPF consegue condenação de traficantes de drogas presos em flagrante
Homens transportavam mais de quatro quilos de pasta base de cocaína em Cabixi (RO)
Presidente da Comissão de Meio Ambiente critica Salles por promover 'desmonte'
Na resposta, Salles negou que esteja "desmontando" o MMA
Stone abre vagas de emprego em Rondônia
Fintech busca de talentos para integrar o time comercial nas cidades de Porto Velho e Ji-Paraná
Comentários
Seja o primeiro a comentar
Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook