Governo de Rondônia revoga terceirização na saúde, mas mantém silêncio sobre decisões obscuras e atropelos administrativos

Privatizar e terceirizar têm um ponto em comum: o dinheiro público migra para mãos privadas, quase sempre em nome da “eficiência”

Fonte: RUBENS COUTINHO, EDITOR DO TUDORONDONIA - Publicada em 17 de abril de 2025 às 14:21

Governo de Rondônia revoga terceirização na saúde, mas mantém silêncio sobre decisões obscuras e atropelos administrativos

Em um estalar de dedos e sem qualquer transparência, o governador Marcos Rocha (União Brasil) voltou atrás na decisão de terceirizar a gestão das principais unidades de saúde em Porto Velho. Não houve explicações convincentes. Tampouco se viu debate público, consulta à categoria médica, ao Conselho Regional de Enfermagem ou a entidades que representam os trabalhadores da saúde. A decisão foi tomada como quem assina uma portaria para liberar cafezinho: de forma apressada, obscura e autoritária.

Não se trata de criticar o recuo — afinal, foi uma vitória legítima da mobilização dos servidores —, mas a forma desastrosa, arrogante e improvisada com que a tentativa de privatização foi conduzida. Na linha de frente dessa confusão está o secretário de Saúde, coronel PM Jefferson Ribeiro da Rocha, cuja familiaridade com o SUS parece ser a mesma que o lendário Paulo Fuá tem com a teoria da relatividade.

A tentativa de entregar a saúde pública a uma empresa privada — no caso, a goiana Mediall Brasil Gestão em Saúde — foi engendrada em silêncio e publicada no Diário Oficial em pleno domingo (13), em ritmo de quem queria evitar ruído. Mas o barulho foi inevitável. As categorias reagiram. A sociedade cobrou. E, diante da pressão e da iminente revelação do nome da empresa “pré-selecionada” para abocanhar quase R$ 600 milhões dos cofres públicos, o governo recuou. Não por convicção, mas por conveniência.

Privatizar e terceirizar têm um ponto em comum: o dinheiro público migra para mãos privadas, quase sempre em nome da “eficiência”. Mas essa tal eficiência costuma ignorar o trabalhador. Há hospitais particulares em Porto Velho onde os donos acumulam fortunas, enquanto os funcionários não têm sequer plano de saúde. Se adoecem, que enfrentem as filas do SUS.

A proposta de terceirização anunciada pela Sesau previa a transferência da administração do João Paulo II, da AMI e do Hospital de Retaguarda para uma empresa privada que ficaria encarregada de tudo: desde a estrutura física até o fornecimento de insumos e gestão de equipes. O modelo, segundo o governo, “é exitoso no RS e em Guajará-Mirim”. A diferença é que, no Sul do país, há acompanhamento rigoroso da gestão e transparência nos processos. Já em Rondônia, tudo foi feito por baixo dos panos, à revelia do povo e dos trabalhadores da saúde.

A revogação da terceirização, por sua vez, virou palanque para oportunistas. Parlamentares como Cláudia de Jesus e Marcelo Cruz correram para faturar politicamente a decisão, como se tivessem impedido o desmonte da saúde com um estalar de dedos. A verdade é que a força dos trabalhadores organizados e a proximidade das eleições de 2026 é que motivaram o governador a recuar. De olho no Senado, Rocha parece ter feito as contas: perder apoio agora seria um tiro no pé. Mas talvez já seja tarde. Se depender do que fez pela saúde em seis anos de mandato, sua campanha ao Senado tende a terminar como a estória da Luzia na horta: com as mãos abanando. Para ser politicamente correto e não falar em nabo. 

Por fim, o episódio do Heuro ainda é uma sombra sobre sua gestão. Anunciado como símbolo de modernização, o hospital de urgência e emergência segue envolto em suspeitas e dúvidas, com um modelo de Parceria Público-Privada que até agora ninguém entendeu direito — talvez nem os próprios idealizadores. Se um dia o Tribunal de Contas e o Ministério Público decidirem agir, o governador poderá ter muito mais do que explicações a dar.

Enquanto isso, o povo de Rondônia segue esperando por um sistema de saúde que funcione — público, transparente e digno. E não por um plano de negócios travestido de política pública.

Governo de Rondônia revoga terceirização na saúde, mas mantém silêncio sobre decisões obscuras e atropelos administrativos

Privatizar e terceirizar têm um ponto em comum: o dinheiro público migra para mãos privadas, quase sempre em nome da “eficiência”

RUBENS COUTINHO, EDITOR DO TUDORONDONIA
Publicada em 17 de abril de 2025 às 14:21
Governo de Rondônia revoga terceirização na saúde, mas mantém silêncio sobre decisões obscuras e atropelos administrativos

Em um estalar de dedos e sem qualquer transparência, o governador Marcos Rocha (União Brasil) voltou atrás na decisão de terceirizar a gestão das principais unidades de saúde em Porto Velho. Não houve explicações convincentes. Tampouco se viu debate público, consulta à categoria médica, ao Conselho Regional de Enfermagem ou a entidades que representam os trabalhadores da saúde. A decisão foi tomada como quem assina uma portaria para liberar cafezinho: de forma apressada, obscura e autoritária.

Não se trata de criticar o recuo — afinal, foi uma vitória legítima da mobilização dos servidores —, mas a forma desastrosa, arrogante e improvisada com que a tentativa de privatização foi conduzida. Na linha de frente dessa confusão está o secretário de Saúde, coronel PM Jefferson Ribeiro da Rocha, cuja familiaridade com o SUS parece ser a mesma que o lendário Paulo Fuá tem com a teoria da relatividade.

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A tentativa de entregar a saúde pública a uma empresa privada — no caso, a goiana Mediall Brasil Gestão em Saúde — foi engendrada em silêncio e publicada no Diário Oficial em pleno domingo (13), em ritmo de quem queria evitar ruído. Mas o barulho foi inevitável. As categorias reagiram. A sociedade cobrou. E, diante da pressão e da iminente revelação do nome da empresa “pré-selecionada” para abocanhar quase R$ 600 milhões dos cofres públicos, o governo recuou. Não por convicção, mas por conveniência.

Privatizar e terceirizar têm um ponto em comum: o dinheiro público migra para mãos privadas, quase sempre em nome da “eficiência”. Mas essa tal eficiência costuma ignorar o trabalhador. Há hospitais particulares em Porto Velho onde os donos acumulam fortunas, enquanto os funcionários não têm sequer plano de saúde. Se adoecem, que enfrentem as filas do SUS.

A proposta de terceirização anunciada pela Sesau previa a transferência da administração do João Paulo II, da AMI e do Hospital de Retaguarda para uma empresa privada que ficaria encarregada de tudo: desde a estrutura física até o fornecimento de insumos e gestão de equipes. O modelo, segundo o governo, “é exitoso no RS e em Guajará-Mirim”. A diferença é que, no Sul do país, há acompanhamento rigoroso da gestão e transparência nos processos. Já em Rondônia, tudo foi feito por baixo dos panos, à revelia do povo e dos trabalhadores da saúde.

A revogação da terceirização, por sua vez, virou palanque para oportunistas. Parlamentares como Cláudia de Jesus e Marcelo Cruz correram para faturar politicamente a decisão, como se tivessem impedido o desmonte da saúde com um estalar de dedos. A verdade é que a força dos trabalhadores organizados e a proximidade das eleições de 2026 é que motivaram o governador a recuar. De olho no Senado, Rocha parece ter feito as contas: perder apoio agora seria um tiro no pé. Mas talvez já seja tarde. Se depender do que fez pela saúde em seis anos de mandato, sua campanha ao Senado tende a terminar como a estória da Luzia na horta: com as mãos abanando. Para ser politicamente correto e não falar em nabo. 

Por fim, o episódio do Heuro ainda é uma sombra sobre sua gestão. Anunciado como símbolo de modernização, o hospital de urgência e emergência segue envolto em suspeitas e dúvidas, com um modelo de Parceria Público-Privada que até agora ninguém entendeu direito — talvez nem os próprios idealizadores. Se um dia o Tribunal de Contas e o Ministério Público decidirem agir, o governador poderá ter muito mais do que explicações a dar.

Enquanto isso, o povo de Rondônia segue esperando por um sistema de saúde que funcione — público, transparente e digno. E não por um plano de negócios travestido de política pública.

Comentários

  • 1
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    wilkon neves botelho pinto 18/04/2025

    Falou tudo GILZELIA PEREIRA, a pressão fez acontecer, já que esta nos palanques praticamente querendo voto.

  • 2
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    Carlson Lima 17/04/2025

    A palavra oportunistas neste caso senhor jornalista não caiu bem. Ainda bem que existem oposições, porque privatizar a saúde pública em qualquer lugar deste país parece uma ação suspeita demais.

  • 3
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    GILZELIA PEREIRA 17/04/2025

    Não foi Marcos Rocha revogou NADA. Quem revogou esse atraso foi a pressão da sociedade cansada de ser roubada politicamente por políticos aventureiros que se escondem atrás de uma bíblia fingindo que são cristãos. .

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