Imitando Pilatos
Em vez de assumirem as consequências de suas atitudes e resolver o problema, autoridades municipais preferem buscar fatores externos, lavando as mãos, como fez Pilatos
Às vezes, chego a pensar que tem coisas que só acontecem em Porto Velho. Prova disso é o caso do transporte escolar rural terrestre e fluvial. Desde o ano passado a prefeitura vem tentando emplacar a contratação de empresas especializadas na prestação desses serviços, mas ninguém resolveu nada. Nesse período, incontáveis reuniões foram realizadas, recomendações foram feitas pelos órgãos de fiscalização, Termos de Ajustamento de Conduta foram assinados, e até se falou no enquadramento de autoridades municipais por improbidade administrativa. De concreto, mesmo, só a certeza de que, para a maioria dos estudantes, mais um ano letivo foi pelo ralo da incompetência.
Nem mesmo os comovidos apelos de pais e mães de alunos conseguiram sensibilizar o palácio Tancredo Neves, cujo principal inquilino parece que vive no mundo encantado da fantasia. Tanto que ainda não se deu conta da gravidade do problema. É inaceitável que o governo municipal continue dando desculpadas esfarrapadas sobre um assunto extremamente relevante, sem que ninguém se digne a tomar providências concretas para colocar ordem nessa bagunça.
O pouco caso com que o tema vem sendo conduzido só pode ser entendido como irresponsabilidade. Trata-se, portanto, de conduta cruel e desumana, que em nada contribui para melhorar a imagem de uma administração que desfruta de paupérrimos índices de credibilidade junto à opinião pública. Onde estão as entidades representativas dos vários segmentos sociais, como a OAB-RO, que sempre esteve na trincheira da defesa dos interesses da população? Elas estão na obrigação de erguerem suas vozes para fazer chegar o clamor do nosso povo e da nossa gente aos ouvidos palacianos, que não podem insistir numa insensibilidade criminosa, tipificada no Código Penal e Estatuto da Criança e do Adolescente.
Chega de empurrar com a barriga! Os assuntos de interesse da população precisam ser tratados com competência e seriedade, a menos, é claro, que o acesso à educação de qualidade não componha o conjunto das preocupações de algumas autoridades municipais. Que a cidade de Porto Velho vive cercada de problemas por todos os lados, todo mundo sabe disso, não precisa ser especialista no assunto, mas, pelo amor de Deus, crianças e adolescentes estão correndo o risco de perderem mais um ano de suas vidas porque a prefeitura não consegue oferecer-lhes o meio de transporte de que precisam para chegar às escolas.
Jean-Paul Charles Aymard Sartre, filósofo, escritor e crítico francês, fala da incapacidade que o ser humano tem de reconhecer suas fraquezas e seus pecados, erros e defeitos, preferindo jogar nos ombros dos outros as consequências de suas ações, como se o inferno fosse os outros, quando, na verdade, somos responsáveis pelo fruto de nossas atitudes. Aplicado à situação do transporte escolar rural terrestre e fluvial, o anunciado acima se encaixa como uma luva. Em vez de assumirem as consequências de suas atitudes e resolver o problema, autoridades municipais preferem buscar fatores externos, lavando as mãos, como fez Pilatos.
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