Já estamos em 2026
"O efeito colateral indesejado da histórica decisão do TSE de tornar Jair Bolsonaro inelegível é a antecipação do debate eleitoral de 2026", diz Helena Chagas
Justiça Eleitoral - urnas eletrônicas - eleição (Foto: REUTERS/Diego Vara)
O efeito colateral indesejado da histórica decisão do TSE de tornar Jair Bolsonaro inelegível é a antecipação do debate eleitoral de 2026. Definida a variável Bolsonaro, é inevitável que forças políticas, partidos e candidatos em potencial comecem a se articular no campo da direita, onde o espaço vago será disputado a tapas. Essa corrida, em aquecimento desde que ficou claro que o ex-presidente seria condenado pelo Tribunal, está animando políticos de centro-direita, setores da mídia e parte do establishment. Acham que, tendo os votos, mas não Bolsonaro de corpo presente na eleição, ficará mais fácil construir uma candidatura de direita não-radical, palatável ao centro, para enfrentar Lula ou seu candidato.
Planos são ótimos antes de sair do papel. Pode não ser bem assim, porque a deflagração precoce de uma disputa presidencial costuma ser ruim para todo mundo. É um movimento indesejado para qualquer governo, já que, num efeito dominó, todo o quadro político se mexe quando os futuros adversários começam a colocar candidatos na rua — e fica difícil governar com um barulho desses. Mas pode ser também uma faca de dois gumes para quem vai tentar suceder Bolsonaro, já que os nomes mais cotados da chamada direita “limpinha e cheirosa” são hoje governadores com mandato a cumprir.
Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Junior (PR), Eduardo Leite (RS) e outros ainda têm muito dever de casa a fazer, ou seja, governar bem seus estados para se credenciar a uma candidatura em 2026. Com Bolsonaro fora, e seus nomes rolando por aí, ficam muito expostos, sob o escrutínio de todo o país, e, certamente, mais vulneráveis a pedradas adversárias.
Não por acaso, o nome claramente preferido pelo establishment, Tarcísio de Freitas, prepara um “meia volta, volver”, acenando com a candidatura à reeleição em São Paulo. Não que não esteja de olho na candidatura presidencial e não vá mudar de ideia adiante, em circunstâncias favoráveis. Mas segue conselhos de seu esperto secretário de Governo, Gilberto Kassab, que vislumbrou o perigo de deixar o governador no sol e na chuva da disputa presidencial por mais três anos. O discurso da reeleição, hoje, é uma proteção.
A direita, portanto, não terá seu candidato óbvio por enquanto. E corre sério risco de ficar preservando seus nomes principais — o que é necessário — e ser atropelada pelos radicais. Como já escrevemos aqui, não há qualquer garantia de que Bolsonaro vai entrar no “acordão" com o sistema, ainda que em torno de um ex-ministro como Tarcísio. E se a direita mais hidrófoba resolver apresentar candidato? Michelle, Braga Neto, Heleno, um dos meninos… Estragaria os planos da turma comportada.
Do outro lado do espectro, Lula, que não é bobo, já se prepara. Nos últimos dias, em reuniões, o PT vem reforçando a hipótese de reeleição. O próprio presidente deflagrou nova estratégia política. Com base em pesquisas segmentadas, organiza uma agenda de viagens e anúncios de medidas e programas em locais e junto a setores que não estiveram com em 2022. Encontra integrantes do agro em Goiás, inaugura obras no Rio Grande do Sul e assim por diante. Acima de tudo, Lula trabalha para chegar a 2026 com a bala de prata que Bolsonaro parece não ter. No caso do petista, pode ser a economia.
Helena Chagas
Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia
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