Lavajatismo na PRF é contraditório com desafio de restauração da democracia

O indicado para a Direção Geral da PRF, o policial rodoviário Edmar Camata, tem uma trajetória no serviço público de defesa fervorosa da Lava Jato

Jeferson Miola
Publicada em 21 de dezembro de 2022 às 11:47
Lavajatismo na PRF é contraditório com desafio de restauração da democracia

Deltan Dallagnol e Edmar Camata (Foto: Reprodução)

O indicado para a Direção Geral da PRF, o policial rodoviário Edmar Camata, tem uma trajetória no serviço público de defesa fervorosa da Lava Jato.

Na eleição de 2018, Camata concorreu a deputado federal com a bandeira da Lava Jato. Com o lema “PARA A LAVA JATO NÃO ACABAR” [em maiúsculo], prometia não “deixar a maior operação anticorrupção do país parar”.

A jornalista da Folha de São Paulo Mônica Bergamo resgatou a admiração e elogios dele a Deltan Dallagnol e Sérgio Moro, publicados nas redes sociais em 2017 e 2019. Camata também publicou opiniões justificando a prisão ilegal e farsesca de Lula.

Há hoje um consenso formado nas comunidades jurídicas brasileira e mundial de que a Lava Jato foi o maior esquema de corrupção judicial da história. Um atentado brutal à democracia e ao Estado de Direito.

Depois que vieram à tona as revelações escabrosas sobre a atuação mafiosa de Sérgio Moro, Deltan Dallagnol e de policiais federais, juízes, desembargadores e de procuradores da República da gangue da Lava Jato, todas pessoas éticas e de boa fé – ainda que antipetistas e antilulistas – passaram a desacreditar da Operação.

Com a descoberta da trama mafiosa articulada em grupos de Telegram gerenciados por Dallagnol, muitos dos então entusiastas da Lava Jato entenderam que seus integranteso deturparam as prerrogativas dos cargos públicos e agiram como criminosos movidos por interesses pessoais e partidários.

A Lava Jato é uma das principais causas da derrocada do país, e fator de corrosão da nossa democracia. A Lava Jato foi uma farsa político-jurídica da extrema-direita para conquistar o poder.

Assim como o bolsonarismo, o lavajatismo também é incompatível com a democracia. Tendo o direito penal do inimigo como método da luta ideológica, e o Estado de Exceção como um regime de poder, o lavajatismo promove uma guerra fascista permanente contra a democracia.

O presidente Lula estrutura um governo de amplo espectro ideológico que corresponda ao desafio de unir todas as forças democráticas do país com vistas à restauração da democracia e à reconstrução nacional.

Por isso Lula planeja um governo que abarca inclusive setores liberais e de centro-direita, desde que comprometidos com o desafio histórico de derrotar o fascismo e deter seu avanço. Isso significa, portanto, isolar a extrema-direita representada nas suas duas facções fascistas – a bolsonarista e a lavajatista.

O governo eleito tem a missão histórica de redemocratizar e desfascistizar o país. A desfascistização das instituições é um requisito fundamental para a concretização deste complexo desafio.

Em coerência com este critério, todo dirigente técnico-político que ocupar postos de comando no governo Lula/Alckmin deve ser antifascista, defensor renhido da democracia e do Estado de Direito e, portanto, um crítico contundente da Lava Jato.

Reconhecer esta realidade deve ser o requisito básico a ser comprovado por aqueles que liderarão as instituições da República – sobretudo as policiais – nesta etapa de restauração da democracia no Brasil.

Se Edmar Camata não satisfizer este requisito básico, sua indicação para o cargo de diretor-geral da PRF será contraditório com o desafio fundamental do governo que assume em 1º de janeiro.

Jeferson Miola

Articulista

Comentários

  • 1
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    Carlos 22/12/2022

    É claro que houve excessos na Lava-jato, promotores, juiz e desembargadores que condenaram o lula em tempo recorde é insano na segunda instância. Mas reconhecer que acusadores e magistrados erraram não significa inocência da turma que foi enquadrada. Pelo contrário, significa que nossas leis e procedimentos são fracos no combate à corrupção. E essa sim, é o nosso grande mal. O presidente que sai jamais foi contra a corrupção e melou o pacote anticorrupção do ex-juiz marreco. Infelizmente, o que entra também não está minimamente preocupado com isso, pelo contrário...

  • 2
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    edgard alves feitosa 22/12/2022

    só uma perguntinha: VÁRIOS CONDENADOS NA LAVA JATO DEVOLVERAM MIHÕES DE DOLARES AOS COFRES PÚBLICOS, ISTO É PÚBLICO E NOTÓRIO,; ENTÃO, SE DEVOLVERAM MILHÕES HOUVE OU NÃO HOUVE ROUBO E CORRUPÇÃO????????? como pode ter sido uma farsa, se DEVOLVERAM MILHÕES????? a troco de que devolveram MILHÕES?????? é por demais ÓBVIO que devemos derrotar o fascismo e a extrema direita radical bolsonarista, mas essa luta não pode HOMOLOGAR, JUSTIFICAR E LEGITIMAR A CORRUPÇÃO.... HOUVE CORRUPÇÃO, NÃO SE PODE NEGAR.... O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO NÃO PODE COMPACTUAR COM O MAIS LEVE NIVEL DE CORRUPÇÃO.......

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