Lira e 'centrão' moem as despreparadas bancadas do PT no Congresso

No Senado, a situação é menos grave do que na Câmara, afirma o colunista Luís Costa Pinto. Pacheco cumpre acordos e o MDB é parceiro do governo, analisa

Luís Costa Pinto
Publicada em 20 de fevereiro de 2023 às 12:48

www.brasil247.com - Arthur Lira (sentado e atrás do relógio na Câmara)

Arthur Lira (sentado e atrás do relógio na Câmara) (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

Como só acontece no Brasil (mas, o advento do terceiro mandato do presidente Lula, seus desafios e o golpe de Estado dado e derrotado em 8 de janeiro mudaram um pouco este costume político nacional), o ano legislativo de fato começa depois do Carnaval. É o que vai ocorrer quando os parlamentares do partido majoritário do governo, o PT, reencontrarem o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, depois da folga gorda que ele se permitiu tirar ao lado do ex-ministro da Casa Civil do ex-presidente Jair Bolsonaro e também presidente do PP, Ciro Nogueira.

Lira e Nogueira curtiram juntos o feriadão em Los Angeles, nos Estados Unidos, cumprindo uma agenda de frivolidade com ao menos uma ida a um Cassino onde se discutiu política brasileira na roleta. A estratégia da dupla, de liberar investimentos de cassinos no País e regulamentar as apostas esportivas – as mesmas que levaram ao escândalo ora em apuração por meio do qual a CBF já identificou fraudes em 139 partidas das séries A e B do Brasileirão de 2022 e de alguns campeonatos regionais – foi ouvida no bate papo entre crupiês e modelos. Também foram a restaurantes caros, pretensiosos e ruins.

O Partido dos Trabalhadores fez uma aposta alta e cacifou Arthur Lira no dia seguinte à vitória do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, no pleito presidencial de outubro do ano passado. Numa ação ensaiada e coreografada por seus conselheiros políticos, Lira foi o primeiro presidente de poder da República a fazer um reconhecimento público da apertada vitória de Lula ante o então presidente, Jair Bolsonaro, a quem o presidente da Câmara apoiou nos dois turnos das eleições à Presidência. Logo depois, o agora líder do Governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), também vice-presidente do partido, apressou-se em distribuir nos bastidores versões (que terminaram por se confirmar) de que Lula e seu governo não criariam óbices à reeleição de Lira.

Durante a atabalhoada transição (por culta de Bolsonaro, que jamais aceitou a derrota eleitoral), Guimarães e outros petistas costuraram a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Transição, que deu sobrevida aos instrumentos espúrios do Orçamento Secreto e tonificou a ascendência lirista na Casa parlamentar. Em 1º de fevereiro passado, Arthur Lira foi reeleito com uma votação recorde de 464 votos – jamais, em tempo algum, um candidato a presidir a Câmara dos Deputados obteve votação tão acachapante em 1º turno.

O PT e outros partidos de esquerda coligados, como PV, PSB, PCdoB e PDT acreditaram nas promessas de convívio civilizado de Lira, do “centrão” (ajuntamento de legendas como União Brasil, PP, PL, Podemos, PSDB, Cidadania, Republicanos etc, que gravitaram em torno do esquema parlamentar golpista de Michel Temer e Jair Bolsonaro entre 2016 e 2022) a abriram as porteiras para os mais esdrúxulos entendimentos no Congresso. No Senado, tendo o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente da Casa, como fiador dos acertos ajustados por Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), as coisas funcionaram e os governistas receberam os créditos da banca. Entre os deputados, tem sido diferente e vai piorar.

Até agora, as comissões permanentes da Câmara dos Deputados não fecharam os comandos de suas mesas. O PT, que acertou de ficar com a Comissão de Constituição de Justiça (a mais importante da Casa, por onde passam todas as matérias e que pode vetar a ida a plenário de alguns temas caros à oposição de extrema-direita). Está ajustado que o experiente deputado Rui Falcão, uma das escassas biografias que pode ser classificado como reserva moral da atual Legislatura, comandará a CCJ. Mas, o PT também pediu a presidência da Comissão Mista de Orçamento a fim de designar para lá um aliado – provavelmente do PSB – e pactuou que nenhum bolsonarista do PL comandaria a Comissão de Fiscalização e Controle (onde se investiga o governo e de onde podem partir balões de mentiras destinados a atazanar a rotina do Palácio do Planalto). No momento, Arthur Lira dá um bypass no PT e nos governistas e escalou dois bolsonaristas, um do seu PP e outro do PL, para presidirem respectivamente a CMO e a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle.

Luís Costa Pinto

Luis Costa Pinto, jornalista, diretor da sucursal Brasília do Brasil 247 e vice-presidente da ABMD, Associação Brasileira de Mídia Digital

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