Lula 3

"Foi-se a metade do terceiro mandato do Lula. Quais suas características?"

Fonte: Emir Sader - Publicada em 24 de dezembro de 2024 às 12:00

Lula 3

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Foi-se a metade do terceiro mandato do Lula. Quais suas características?
Ele recebeu uma herança que não tinha nos mandatos anteriores, o que diferencia este mandato. Em primeiro lugar, não tem maioria no Congresso. Já relatei que, quando ele terminou seu segundo mandato, eu lhe perguntei qual a maior lição que ele tinha aprendido no governo. Ele me disse que não se pode governar sem maioria. E’ a situação que ele enfrenta agora. Ganhou a eleição, mas a oposição tem maioria no Congresso.

O que implica não apenas em difíceis negociações a cada momento que o governo necessita a aprovação de projetos no Congresso. Mas também a incorporação de membros da oposição no governo.

A outra herança, que termina agora, é a presidência do Banco Central nas mãos de um bolsonarista e neoliberal.

São duas limitações importantes. O que não impediu que o governo tenha um caráter fortemente antineoliberal. O traço mais marcante do governo Lula 3 são as políticas sociais, principal característica da luta contra o neoliberalismo.

Os resultados são claros:

- menor índice de desemprego em 12 anos; - segundo melhor país para investir; - maior plano Safra da história;

- de volta ao ranking das 10 maiores economias;

- fábricas mundiais se instalando no país, entre outros indicativos.

A economia cresce, os empregos se multiplicam, os intercâmbios internacionais se estendem. O Brasil, através do Brics, consolida alianças internacionais que permitem ao país se projetar como uma potência estratégica em escala mundial.

O eixo da oposição, economicamente, está no capital financeiro. E’ o setor hegemônico no modelo neoliberal. Não o setor que financia a produção, a investigação ou o consumo. Mas o que vive das altas taxas de juros e da especulação financeira. 

Politicamente, a oposição tem na mídia sua liderança, o setor que aponta os caminhos que restam à direita. Principalmente nas tentativas de diminuir a dimensão política do Lula.

Fazemos um bom governo, mas estamos perdendo a batalha das comunicações. Situação em que Lula se deu conta e se propôs a mudar, com alterações nos responsáveis. O que não é suficiente, se não conseguirmos nos dar conta da raiz do problema, para formular uma outra política de comunicação.

O embate fundamental do nosso tempo é aquele entre neoliberalismo x antineoliberalismo, de cuja resolução depende que possamos chegar ao pós-neoliberalismo, à superação do período histórico marcado pela hegemonia neoliberal.

Esse é o desafio maior da segunda metade deste mandato do Lula. Para isso, precisamos formular uma estratégia de transformação estrutural da economia do país, de forma a deslocar o capital especulativo do eixo da economia, para substituí-lo pela retomada do desenvolvimento econômico como fator fundamental do futuro do país.

E que revertamos a batalha da comunicação, consolidando um projeto hegemônico de superação do neoliberalismo e de consolidação da democracia no Brasil.

Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

846 artigos

Lula 3

"Foi-se a metade do terceiro mandato do Lula. Quais suas características?"

Emir Sader
Publicada em 24 de dezembro de 2024 às 12:00
Lula 3

Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Foi-se a metade do terceiro mandato do Lula. Quais suas características?
Ele recebeu uma herança que não tinha nos mandatos anteriores, o que diferencia este mandato. Em primeiro lugar, não tem maioria no Congresso. Já relatei que, quando ele terminou seu segundo mandato, eu lhe perguntei qual a maior lição que ele tinha aprendido no governo. Ele me disse que não se pode governar sem maioria. E’ a situação que ele enfrenta agora. Ganhou a eleição, mas a oposição tem maioria no Congresso.

O que implica não apenas em difíceis negociações a cada momento que o governo necessita a aprovação de projetos no Congresso. Mas também a incorporação de membros da oposição no governo.

A outra herança, que termina agora, é a presidência do Banco Central nas mãos de um bolsonarista e neoliberal.

São duas limitações importantes. O que não impediu que o governo tenha um caráter fortemente antineoliberal. O traço mais marcante do governo Lula 3 são as políticas sociais, principal característica da luta contra o neoliberalismo.

Os resultados são claros:

- menor índice de desemprego em 12 anos; - segundo melhor país para investir; - maior plano Safra da história;

- de volta ao ranking das 10 maiores economias;

- fábricas mundiais se instalando no país, entre outros indicativos.

A economia cresce, os empregos se multiplicam, os intercâmbios internacionais se estendem. O Brasil, através do Brics, consolida alianças internacionais que permitem ao país se projetar como uma potência estratégica em escala mundial.

O eixo da oposição, economicamente, está no capital financeiro. E’ o setor hegemônico no modelo neoliberal. Não o setor que financia a produção, a investigação ou o consumo. Mas o que vive das altas taxas de juros e da especulação financeira. 

Politicamente, a oposição tem na mídia sua liderança, o setor que aponta os caminhos que restam à direita. Principalmente nas tentativas de diminuir a dimensão política do Lula.

Fazemos um bom governo, mas estamos perdendo a batalha das comunicações. Situação em que Lula se deu conta e se propôs a mudar, com alterações nos responsáveis. O que não é suficiente, se não conseguirmos nos dar conta da raiz do problema, para formular uma outra política de comunicação.

O embate fundamental do nosso tempo é aquele entre neoliberalismo x antineoliberalismo, de cuja resolução depende que possamos chegar ao pós-neoliberalismo, à superação do período histórico marcado pela hegemonia neoliberal.

Esse é o desafio maior da segunda metade deste mandato do Lula. Para isso, precisamos formular uma estratégia de transformação estrutural da economia do país, de forma a deslocar o capital especulativo do eixo da economia, para substituí-lo pela retomada do desenvolvimento econômico como fator fundamental do futuro do país.

E que revertamos a batalha da comunicação, consolidando um projeto hegemônico de superação do neoliberalismo e de consolidação da democracia no Brasil.

Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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