Membro precedente à Constituição de 88, Procurador de Justiça Julio Cesar do Amaral Thomé se aposenta da carreira do MPRO

“Cheguei ao MP de Rondônia pouco tempo após seu nascimento. De certa forma, ajudei a construir a Instituição. Foi uma longa e bela jornada”, disse

Gerência de Comunicação Integrada (GCI)
Publicada em 01 de agosto de 2023 às 08:41
Membro precedente à Constituição de 88, Procurador de Justiça Julio Cesar do Amaral Thomé se aposenta da carreira do MPRO

Após 37 anos, o Procurador de Justiça Julio Cesar do Amaral Thomé se aposenta da carreira do Ministério Público de Rondônia. Com passagem por cargos de relevo na Instituição, o Membro compõe o quadro de integrantes que precedem a Constituição Federal de 1988, sendo personagem que atuou no processo de estruturação do MP rondoniense e testemunha das transformações do órgão, decorrentes do papel que passou a desempenhar em defesa da sociedade com a promulgação da Carta Cidadã.

Natural do Rio Grande do Sul, Julio Thomé ingressou na Instituição em 6 de janeiro de 1986, após ser aprovado no 3º concurso para Promotor de Justiça Substituto. Teve como primeira lotação a comarca de Ariquemes.

Em depoimento ao Memorial MPRO, o Procurador lembrou o cenário encontrado ao chegar à cidade, ainda carente de infraestrutura e com registros de longos períodos sem energia elétrica.

Contou que, em 1986, a Promotoria de Justiça da comarca funcionava em uma pequena sala, localizada no interior do Fórum, em ambiente contíguo ao do juiz. As acanhadas dependências para receber a população o levaram a articular, junto à Administração Superior, a transferência do MP para outro imóvel, uma casa, que foi montada com recursos próprios e mediante ajuda da comunidade local. “A partir disso, a iniciativa foi reproduzida por Membros de outras comarcas, que passaram a buscar meios para que o MP deixasse as instalações do Poder Judiciário. Aconteceu em Jaru, Cacoal e em Ji-Paraná”, disse.

Foi ainda em Ariquemes que o então Promotor de Justiça atuou no julgamento que considera como um dos mais emblemáticos da carreira. O réu era um homem denunciado pelo crime de indução ao aborto. A condenação a pouco mais de dois anos de prisão foi avaliada como uma conquista, considerando a sociedade da época, culturalmente tolerante com a violência contra a mulher, num cenário anterior à Lei Maria da Penha. “Todos esperavam a absolvição. Acho essa uma das condenações mais importantes da minha trajetória no Ministério Público. Mostra também o quanto evoluímos como sociedade”.

Ao longo da carreira, o Procurador viu o aprimoramento do arcabouço legal brasileiro, com criação e aperfeiçoamento de normas em diversas áreas. Com o advento da Lei nº 7.347/85, que introduziu a ação civil pública no ordenamento do País, Julio Thomé, ainda exercendo as funções no primeiro grau, foi o primeiro a lançar mão do instrumento buscando a responsabilização de empresa cuja atividade causava contaminação do rio Jamari, bem como a interrupção da conduta ambientalmente inadequada. A ação resultou no entabulamento de acordo em juízo.

O integrante ingressou na Instituição quando ainda vigia a primeira Constituição do Estado, promulgada em 1983 e cuja redação, no tocante ao Ministério Público, imprimia independência e autonomia ao órgão, além de outras inovações que, mais tarde, seriam reproduzidas pela Constituição Federal de 1988, dando uma nova face ao Ministério Público brasileiro. “Chegamos a realizar eleição direta para o cargo de Procurador-Geral de Justiça”, destacou, referindo-se a um dos poucos dispositivos que, ao contrário dos demais, não foi recepcionado pela Carta Maior.

Em mais de 30 décadas de vida funcional, presenciou grandes marcos institucionais, dentre os quais o primeiro concurso para servidores da Instituição, em 1987; a inauguração da primeira torre do edifício-sede nos anos 2000; da segunda, em 2011, além da construção das sedes próprias nas 23 comarcas. “Cheguei ao MP de Rondônia pouco tempo após seu nascimento. De certa forma, ajudei a construir a Instituição. Foi uma longa e bela jornada”, disse.

Currículo – Julio Thomé foi promovido a Procurador de Justiça em abril de 1998. Ao longo de sua história, ocupou os cargos de Diretor do CONI; Corregedor-Geral da Instituição (2006), Subprocurador-Geral de Justiça (duas ocasiões), Procurador-Geral de Justiça em exercício e Ouvidor-Geral (2019-2021).

No primeiro grau, atuou em diversas Promotorias, tendo desempenhado atividades nas áreas de Família; Criminal, Infância e Juventude (a primeira instalada em Porto Velho), Execuções Penais; Auditoria Militar. “Vivenciei todas as atribuições constitucionais do Ministério Público. Na Administração, passei por todos os cargos, com exceção de Secretário-Geral”.

Revelando grande senso de pertencimento, o Procurador de Justiça cita um dos decretos da prática havaiana Ho’oponopono para resumir sua trajetória no MP de Rondônia: "Eu sinto muito - por não ter feito mais ao Ministério Público; me perdoe - pelas minhas falhas como ser humano, já que nessa condição, não sou perfeito; eu te amo – o Ministério Público mora no meu coração; Sou Grato - o MP de Rondônia me deu tudo que tenho, tanto minha formação como quem eu sou atualmente como ser humano, profissional e pessoa. Tenho muito gratidão à família MPRO, servidores, membros e às pessoas que vêm à Instituição em busca de serviços e ajuda. O Ministério Público de Rondônia é uma Instituição formidável”.

O Procurador-Geral de Justiça, Ivanildo de Oliveira, reconheceu o legado do Procurador de Justiça, sua combativa atuação no primeiro e segundo graus e suas contribuições na seara colegiada, que em muito influíram nos rumos institucionais. “O Ministério Público de Rondônia agradece pela entrega e dedicação desse nobre integrante que tanto deu à Instituição e da qual sempre será parte”, afirmou.

Comentários

  • 1
    image
    Aloso de Melo Neves 01/08/2023

    Excelente profissional e pessoa iluminada. Que continue sendo abençoado por Deus nessa nova fase da vida.

Envie seu Comentário

 
NetBet

Envie Comentários utilizando sua conta do Facebook