Mestres da velocidade: conheça o trabalho dos taquígrafos da Alero, celebrado neste 3 de maio
Divisão de Taquigrafia possui atualmente oito servidores
Taquígrafos da Alero (Foto: Arquivo I Divisão de Taquigrafia)
No turbilhão de debates, discussões rápidas e acaloradas que definem o curso do estado de Rondônia, há uma equipe discreta, porém essencial, cujo trabalho é capturar cada palavra, cada nuance, e traduzi-las em registros precisos. Eles são os taquígrafos da Assembleia Legislativa de Rondônia (Alero), os guardiões da velocidade verbal. O Dia do Taquígrafo, instituído em 3 de maio, tem como objetivo o reconhecimento ao compromisso com a precisão e a transparência exercida por esses profissionais.
Utilizando a taquigrafia - palavra do grego tachys = rápido e grafia = escrita –, um método de escrita de símbolos que privilegia os fonemas, ou seja, os sons de cada palavra, o taquígrafo é capaz de escrever na mesma velocidade da fala. Como cada idioma tem fonemas próprios, cada país precisou desenvolver um tipo diferente de taquigrafia.
O Poder Legislativo de Rondônia possui atualmente oito servidores. Eles são testemunhas silenciosas das sessões parlamentares, audiências e Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), e artesãos habilidosos que transformam o caos das palavras faladas em uma sinfonia ordenada de caracteres, denominados taquigramas.
Carine Isabel Reis é a atual chefe da Divisão de Taquigrafia que, com maestria, conduz a equipe para realizar desde os primeiros símbolos até o último ponto final, quando todas as informações já estão aptas para publicação no Diário Oficial.
Natural do Rio Grande do Sul, Carine conta que atuava como professora de português/inglês mas, ao conhecer a taquigrafia, largou a profissão em 2013 e começou a se dedicar a área. Desde então, prestou vários concursos, até que foi aprovada na Alero, em 2018. “Não tive medo da mudança. Encontrei muitas pessoas boas e eu vim com o coração muito aberto. Bah, hoje eu posso dizer que encontrei o meu lugar”, afirma.
A taquigrafia é um sistema de escrita abreviada (Foto: Eliênio Nascimento I Arquivo Alero)
Da mesma forma, Maria Alice Straatmann e Eugênia Santos mudaram de profissão e também de cidade. A primeira saiu de Salvador, enquanto a segunda é alagoana, mas residia em Brasília.
“Minha mãe é taquígrafa há mais de 30 anos na Câmara Municipal de Salvador, então, sempre tive contato. E comecei a estudar visando o concurso. Fiz outros e fui chamada neste da Alero”, disse Maria Alice Straatmann.
“Muitos dizem que a tecnologia pode nos substituir, mas eu vejo a tecnologia como apoio, um auxílio, como complemento. Ela pode agilizar o nosso trabalho e aliviar o desgaste físico”, garante Eugênia Santos, jornalista que conheceu a nova profissão para se aperfeiçoar, mas foi tomada pela paixão aos taquigramas.
Maria Alice ainda completa: “A tecnologia não tem fé pública. Pode ser burlada. Até que ponto podemos confiar na tecnologia?”.
“Hoje, temos recursos que nos ajudam na função, mas a tecnologia não consegue suprir a expertise de analisar, de fazer a conferência do trabalho. Os oradores, às vezes, podem não ter uma dicção perfeita. Então, o som sai de uma forma que, dependendo de quem esteja digitando, pode colocar uma palavra inadequada”, pontuou Eugênia.
Servidores taquígrafos da Alero (Foto: Arquivo Taquigrafia)
Para o grupo de servidores, os taquígrafos da Alero são a espinha dorsal do registro histórico do Parlamento. A presença discreta é uma garantia de responsabilidade e transparência em meio ao turbilhão de trabalho da Casa. Enquanto os parlamentares discutem, debatem e deliberam, os taquígrafos permanecem firmes, concentrados, focados, com suas mãos voando sobre o caderninho, capturando cada palavra com precisão cirúrgica. “Cada cinco minutos de sessão plenária é equivalente a uma hora de texto”, diz Carine.
Para estes mestres da velocidade verbal, a excelência é uma norma. Cada transcrição é uma obra-prima de atenção aos detalhes, uma testemunha silenciosa dos eventos que moldam o destino do estado. Suas habilidades garantem a precisão e veracidade dos registros parlamentares.
Mas por trás da técnica hábil e da dedicação inflexível, reside uma paixão compartilhada por preservar a história viva da democracia. Os taquígrafos da Alero são os guardiões da memória coletiva de Rondônia, e o trabalho é uma homenagem duradoura à importância da transparência e do registro fiel dos acontecimentos.
“Durante a sessão, um de nós fica responsável pelo caderninho. Nele tem o horário de início, final e, somente nele é escrito em língua portuguesa. A partir de então, os demais taquígrafos se revezam a cada três minutos de anotação”, esclarece Pâmela Piltz, taquígrafa que largou a enfermagem após conhecer a nova profissão por meio da mãe de uma amiga que trabalha na Câmara de Vereadores de Porto Velho. “Ela nos ensinou os primeiros taquigramas”, relembra.
Em 1983, tem início a taquigrafia na Assembleia Legislativa de Rondônia (Foto: Arquivo I Taquigrafia)
Cada profissional atua com uma técnica, um método. A nova linguagem também faz parte da vida profissional de Adriana Gonçalves, que largou o direito por esse novo desafio. “Eu sou formada em direito, mas conheci a taquigrafia, comecei fazendo um curso online, já visando o concurso da Alero. E hoje encaro meu desafio com muita responsabilidade, afinal, o taquígrafo tem fé pública”, avalia.
História
Carine Reis lembra que a taquigrafia na Assembleia Legislativa de Rondônia teve início em 1983, quando os profissionais da Câmara de Vereadores de Porto Velho atuavam no Poder Legislativo estadual. Eleide Soares Cerqueira, taquígrafa desde 1972, foi a primeira do Território Federal de Rondônia. “Foi ela quem promoveu um curso e formou as primeiras taquígrafas na Alero. Ela foi a primeira a coordenar o setor. Antes, ela também dirigia o mesmo setor na Câmara de Vereadores da capital”, disse.
Outra profissional destacada por Carine foi Rosângela Almeida de Oliveira, que atuou ao longo de 36 anos na Assembleia de Rondônia. Foi também uma das pioneiras da Taquigrafia no poder legislativo estadual.
Equipe na Rondônia Rural Show, em 2023 (Antônio Lucas I Secom ALE/RO)
Conforme a Agência Senado, a primeira Assembleia Nacional Constituinte começou a funcionar no dia 3 de maio de 1823. Nesta data, por ordem do então ministro José Bonifácio de Andrada (1763-1838), foi criado oficialmente no Brasil o serviço de taquigrafia. Por isso, o 3 de maio acabou escolhido para homenagear os taquígrafos, sempre presentes nas sessões do Senado.
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