Michelle e a lorota do ouro e dos diamantes

"Está claro que se tentava esconder, ali, as provas de um crime", aponta

Paulo Moreira Leite
Publicada em 05 de março de 2023 às 10:50
Michelle e a lorota do ouro e dos diamantes

Mais um escândalo envolvendo Michelle surge (Foto: ABR)

Coube a Paulo Pimenta, ministro da Secom e deputado com larga experiência na investigação de escândalos da República, apontar para o único roteiro plausível para um presente milionário destinado à mulher de Jair Bolsonaro. 

Pimenta escreveu no twitter:  "Bolsonaro tentou trazer ilegalmente colar e brincos de diamante de R$ 16,5 milhões para Michelle. Presentes foram dados na Arábia Saudita no final de 2021. A Petrobras havia acabado de vender uma refinaria por 1,8 bilhão de dólares para um grupo da Arábia Saudita". 

Não se trata de um comentário solto, de um adversário político. Vários indícios sustentam a tese de que o ouro e os diamantes avaliados em U$ 16,5 milhões, formalmente destinados a primeira dama, estavam longe de representar um inocente presente de aniversário do governo da Arábia Saudita -- uma das mais repressivas ditaduras do planeta -- para a mulher de Bolsonaro. 

Para começar, o ponto essencial -- o preço. A Refinaria Randulpho Alves foi arrematada  por 1,65 bilhão de dólares, uma verdadeira pechincha diante das estimativas do Deus-mercado. 

Meses antes, a própria Petrobras, cuja diretoria bolsonarista  era favorável à venda, falava em 3 bilhões de dólares, mesmo número apontado pelo Ineep, um instituto independente.  

Contrário à  venda da refinaria por entender que se tratava de um negócio nocivo aos interesses do país, o Ineep calculou que este seria o valor mínimo para um negócio honesto. Não só. 

No mesmo período, duas grandes financeiras privadas, mergulhadas até o pescoço nas tratativas, avaliavam a usina por valores muito superiores. O BTG falou em  U$ 2,5 bilhões, ou 900 milhões de dólares a mais. Já a XP cravou U$ 3 bi -- quase o dobro. 

Outro aspecto é o momento da venda e sua coreografia na cúpula da empresa. O negócio foi fechado no fim do mandato do então presidente, Renato Castelo Branco, que logo depois pediu demissão, em companhia de quatro diretores que também foram embora em seguida, numa cena que logo alimentou suspeitas e dúvidas. 

Num retrato do tremendo mal-estar produzido pela transação, a revista Exame Negócios escreveu na época: " causou surpresa no mercado que a assinatura do contrato tenha ocorrido no fim da gestão de Castello Branco e com metade da diretoria pedindo para deixar a empresa".

O empenho de homens de confiança de Bolsonaro para garantir de qualquer maneira a posse das jóias antes do fim do governo, numa pressa que produziu cenas de pastelão no aeroporto de Guarulhos, é outro indício definitivo. 

Se fosse um presente legítimo, não haveria razão para um gesto próprio de assaltantes de banco: esconder as joias na mochila de um militar de baixa patente -- e mais tarde mobilizar um ex-ministro de Estado, com patente de Almirante de Esquadra, para peitar funcionários da alfândega e tentar garantir que fossem devolvidas sem que se cumprissem as formalidades legais para seu ingresso no país. 

Está claro que se tentava esconder, ali, as provas de um crime.

Alguma dúvida?

Paulo Moreira Leite

Paulo Moreira Leite é colunista do 247, ocupou postos executivos na VEJA e na Época, foi correspondente na França e nos EUA

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