Moraes está prendendo Bolsonaro aos poucos
"Moraes está cercando Bolsonaro, trabalhando para tornar inquestionável a sua prisão. Ponto", indica
Jair Bolsonaro, Mauro Cid e Alexandre de Moraes (Foto: Secom | ABr)
A pergunta sobre política mais feita após Lula chutar o traseiro de Bolsonaro na Eleição de 2022 e voltar para arrumar a bagunça (atenção, alerta de eufemismo!) que deixou é sobre quando, enfim, o inelegível se tornará presidiário.
A suposta "demora" para prender o agora 'brochável' Bolsonaro de que tanto falam está muito aquém de ser, de fato, demora e, aos poucos, vai se mostrando cautela para evitar o efeito Sérgio Moro. Ou seja: cometer arbitraridades e abusos no curso do processo de forma que eventual condenação seja anulada mais adiante.
É preciso que comunicadores, influenciadores e imprensa sérios expliquem à sociedade a demora de uma medida que só fanáticos rejeitam. Afinal, o desconhecimento da maioria sobre o que é o Estado Democrático de Direito responde por grande parte do analfabetismo político no país.
As decisões sucessivas, ininterruptas e graduais de Moraes estão fechando o cerco. Como dizem os militares, o ministro está fazendo "aproximações sucessivas na direção de Bolsonaro".
Enquanto vemos demora, militares e lideranças Bolsonaristas veem a prisão de Bolsonaro caminhando rapidamente. E está mesmo. Chegando, inclusive, a ritmo um pouco parecido com o de Lula, em termos de ritmo -- só que, desta feita, com (muitas) provas.
Enquanto que na quinta, 17 de agosto, na CPMI do Golpe, os bolsonaristas "tocaram o terror" com deboches, insultos e até ameaças ao hacker Walter Delgatti Neto acreditando que era ele o grande risco àquele que ainda sustenta o que sobrou da extrema-direita, Mauro Cid se preparava para deixá-los absolutamente sem discurso.
Tudo que se previa que aconteceria está acontecendo. O hacker delatou Bolsonaro sem nem fazer acordo e Mauro Cid, que se apresentou na CPMI cheio de empáfia e silêncio revoltante diante de tantas provas, sucumbiu à estratégia do imperturbável ministro do Supremo.
Para quem tem noção sobre o que seja um processo de investigação e persecução penal constitucional, competente e justo, o ritmo do processo está mais do que adequado. Nem tão rápido que se constitua nos abusos contra Lula, nem tão lento que permita a Bolsonaro escapar da lei.
Muitos esquecem, mas sendo julgado pelo Supremo Bolsonaro não terá a que instância recorrer após ser condenado, de modo que a decisão, quando sair, será final. E o caso das jóias, nesse contexto, é o que vai levar Bolsonaro para a cadeia -- entre outros.
Moraes está cercando Bolsonaro, trabalhando para tornar inquestionável a sua prisão. Ponto.
Exemplo: se a delação do hacker seria fortemente desqualificada e pareceria aos apoiadores do ex-presidente uma patranha, a delação de Mauro Cid os coloca em uma situação de impossibilidade real de questionamento -- ao menos para a parcela um pouco menos descerebrada do bolsonarismo.
Neste momento, com o bolsonarismo mentindo descaradamente como se viu ontem na CPI do Golpe, na oitiva do hacker, ainda há um forte contingente da população que acredita no inelegível, conforme revela pesquisa Quaest recém-divulgada; 41% querem que Bolsonaro seja preso e 43% não querem. Contudo, 66% estão acompanhando um processo que Moraes conduz de forma a desmascarar o ex-presidente.
Em mais alguns movimentos, Moraes conseguirá colocar até o mais acéfalo dos bolsonaristas na contingência de ter que baixar a cabeça e aceitar o fato cada vez mais inquestionável de que Bolsonaro cometeu mesmo crimes ridiculamente mal planejados em termos de disfarce. E isso se deve à crença dele em um golpe militar que o mantivesse no poder.
Ante o conjunto dessa ópera bufa, uma análise realista do tempo que irá demorar para Bolsonaro ser preso é o primeiro semestre de 2024, às portas do processo eleitoral. E isso é um desastre para o partido dele, que pretendia bombar na eleição municipal de 2024 e que, agora, estará desmoralizado diante das provas cabais de que é um ajuntamente de bandidos.
Agora, se você não aguenta mais esperar mesmo, concluo a análise com uma ótima notícia: Bolsonaro poderá ser preso em questão de semanas.
Explico: há ao menos uma prova de que o ex-presidente tentou obstruir a Justiça ao recomprar relógio que roubou e vendeu. Com isso, Bolsonaro tentou barrar a investigação, o que pode render uma prisão preventiva em breve...
Eduardo Guimarães
Eduardo Guimarães é responsável pelo Blog da Cidadania
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