Motoristas de aplicativo: relações de trabalho engessadas à era Vargas

O mesmo regramento da CLT de 80 anos atrás tem sido utilizado para as mais novas profissões, que nasceram em um momento de saltos tecnológicos em curtos períodos

André Almeida
Publicada em 04 de maio de 2023 às 17:22
Motoristas de aplicativo: relações de trabalho engessadas à era Vargas

Em 1943, o então presidente da República, Getúlio Vargas, promulgou a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), que há época foi considerada um avanço histórico e é uma das principais ações político-sociais do seu longo governo. Entretanto, décadas se passaram e parece que a legislação não conseguiu e ainda não consegue acompanhar a evolução tecnológica e dos meios de trabalho.

O mesmo regramento da CLT de 80 anos atrás tem sido utilizado para as mais novas profissões, que nasceram em um momento de saltos tecnológicos em curtos períodos. Em pauta agora, a discussão sobre a regulamentação dos motoristas de aplicativo coloca o pedido de sindicatos para enquadrar a categoria como empregados celetistas, mesmo que os próprios condutores queiram o contrário.

A tentativa de dar força aos sindicatos é clara. Porém, há um pano de fundo nessa questão. Existe uma discussão no Supremo Tribunal Federal (STF) para retomar a cobrança das contribuições sindicais, inclusiva as associativas. A interlocução dos sindicatos nos grupos de trabalho que tratam da regulamentação dos direitos dos motoristas de aplicativo não tem a finalidade, em momento algum, de representar a categoria. É uma tentativa de ficar com os louros de eventuais conquistas para os profissionais, para então convencer a maioria deles a se sindicalizar após a decisão do STF -- que, por sinal. já tem dois votos a favor de fortalecer a arrecadação de dinheiro para os sindicatos e para as futuras campanhas eleitorais da esquerda brasileira.

O próprio presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativo de São Paulo (AMASP), Eduardo Lima de Souza, afirmou que “a CLT tira nossa autonomia, nos obrigando a cumprir horários e a fazer toda e qualquer corrida, mesmo sem nos sentirmos confortáveis. As plataformas e o governo não nos oferecem segurança para trabalhar dessa maneira. O que nós queremos é ter direitos previdenciários, mas preservando nossa autonomia”.

A fala do presidente da AMASP, na verdade, é um grito de socorro, porque reflete exatamente o que os motoristas de aplicativos não querem, ou seja, serem empregados celetistas com horários e jornada semanal a serem cumpridos.

Quando parece que o Brasil vai caminhar para frente, surgem com situações que nos remetem a retrocessos sem fim.

Viva a Era Vargas!

*André Almeida é advogado especialista em Direito do Trabalho e sócio do escritório Almeida, Barretto e Bonates Advogados

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