Mpox: Brasil monitora casos e negocia compra de vacinas

Para infectologistas, o país tem condições de produzir vacinas nos próprios laboratórios nacionais

Fonte: Brasil 61/Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil - Publicada em 20 de agosto de 2024 às 08:31

Mpox: Brasil monitora casos e negocia compra de vacinas

O mundo está preocupado com o avanço da mpox – zoonose causada pelo vírus (MPXV), do gênero Orthopoxvirus e família Poxviridae. O Ministério da Saúde já informou que tem monitorado a doença por meio do Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) e está coordenando ações de compra de vacinas. Segundo a pasta, está sendo negociada a aquisição emergencial de 25 mil doses da vacina Jynneos. 

Na opinião do médico infectologista Hemerson Luz, a medida é importante, mas ele esclarece que o Brasil também tem plenas condições de desenvolver uma vacina contra mpox. 

“Já existem iniciativas de algumas universidades, como a UFMG. Além disso, nós temos um parque industrial e científico capaz sim de produzir as vacinas que sejam eficazes, mas esses estudos devem continuar. Temos que lembrar que um estudo de uma vacina começa com a fase pré-clínica, que pode durar até dois ou três anos, depois vem as fases clínicas, divididas em três fases que podem também levar dois a três anos cada fase”,

Mesmo que diferentes laboratórios estejam se preocupando com a produção de vacinas específicas contra a mpox, o infectologista Francisco Job explica que a vacina da varíola aplicada na população através do calendário nacional já apresenta uma eficácia de 85%, permitindo que possa ser usada no controle inicial ou na aplicação de, pelo menos, grupos de risco.

“O que nós devemos estar alertas é para o surgimento de casos que sejam suspeitos, para que nós possamos seguir a quantidade de casos e onde estão acontecendo no Brasil”. O médico ainda acrescenta:

“Não é uma coisa para produzir pânico, nós não vamos ter epidemias de monkeypox como existiram epidemias de varíola do começo do século XX no Brasil. Isso jamais vai acontecer novamente num sistema de saúde bastante estruturado, que é capaz de vacinar inclusive toda a população se necessário”. 

Segundo Francisco Job, já existem diversos grupos estudando monkeypox no mundo, sendo a maior parte bastante conhecedor da varíola humana.

Aquisição de vacinas

A Bavarian Nordic, fabricante da vacina Jynneos, solicitou à Agência Europeia de Medicamentos (EMA, em inglês) autorização para que a dose possa ser aplicada também em adolescentes. De acordo com a empresa, as pesquisas evidenciaram eficácia do imunizante entre adolescentes e adultos. 

No pedido enviado à EMA, a empresa pede autorização para que a dose possa ser aplicada em adolescentes de 12 a 17 anos. Atualmente, existe indicação apenas para pessoas com idade igual ou superior a 18 anos.

Apesar das preocupações, o médico Hemerson Luz entende que, por não se tratar de um vírus transmitido pelo ar, mas por secreções ou contato direto com pessoas doentes, os cuidados são imediatos, não sendo necessária, portanto, a vacinação em massa.

“É importante ressaltar que a vacinação em massa não está indicada agora. Além da quantidade de vacina produzida a nível mundial, que é pouca, primeiro nós temos que fazer estratégias para vacinar os grupos de risco e vacinar aquelas pessoas que têm maior fragilidade caso apresentem a doença”, salienta.

O infectologista Francisco Job reforça que o Brasil nunca deixou de estudar a varíola, mesmo após a erradicação da doença. 

“Nesse momento não existe necessidade de fazer vacinação em massa em nenhum lugar do mundo, nós estamos em situação de emergência porque o número de casos na África, em especial no Congo, está crescendo muito rapidamente e será necessário fazer vacinação naqueles países onde existe uma quantidade maior de casos”. 

Para ele, a vacina deve estar disponível rapidamente quando for necessária. “Não existe necessidade, nesse momento, do Brasil estar produzindo grandes quantidades de vacina, mas é importante que nós saibamos produzi-la e nós sabemos produzi-la”, reforça.

Casos no Brasil

Durante a primeira emergência global por mpox, em 2023, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso emergencial da Jynneos para combater a doença em um primeiro momento. 

Desde então, mais de 29 mil doses foram aplicadas em todo o país. Segundo a pasta, 27 Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACENs) e quatro laboratórios de referência nacional realizam exame diagnóstico para mpox. Atualmente, todo o país está abastecido com insumos para essa testagem, informa o órgão.

O Ministério da Saúde informa que, desde o início do surto de mpox em 2022 até hoje, o Brasil registrou 12.215 casos confirmados ou prováveis da doença. Desses, 91,3% são pacientes do sexo masculino e 70% têm entre 19 e 39 anos. Também foram registrados 16 óbitos. Todos do sexo masculino, com idades entre 26 e 35 anos. O último foi confirmado no dia 17 de abril de 2023.  

Só em 2024, foram 696 casos confirmados e 13 prováveis, sendo 85,9% do sexo masculino, 44% entre 30 e 39 anos e 30,6% entre 18 e 29 anos. Além disso, este ano, foram contabilizadas 49 hospitalizações e cinco internações em UTI.

https://brasil61.com/n/mpox-brasil-monitora-casos-e-negocia-compra-de-vacinas-bras2412432

Mpox: Brasil monitora casos e negocia compra de vacinas

Para infectologistas, o país tem condições de produzir vacinas nos próprios laboratórios nacionais

Brasil 61/Foto: Fábio Pozzebom/Agência Brasil
Publicada em 20 de agosto de 2024 às 08:31
Mpox: Brasil monitora casos e negocia compra de vacinas

O mundo está preocupado com o avanço da mpox – zoonose causada pelo vírus (MPXV), do gênero Orthopoxvirus e família Poxviridae. O Ministério da Saúde já informou que tem monitorado a doença por meio do Centro de Operações de Emergência em Saúde (COE) e está coordenando ações de compra de vacinas. Segundo a pasta, está sendo negociada a aquisição emergencial de 25 mil doses da vacina Jynneos. 

Na opinião do médico infectologista Hemerson Luz, a medida é importante, mas ele esclarece que o Brasil também tem plenas condições de desenvolver uma vacina contra mpox. 

“Já existem iniciativas de algumas universidades, como a UFMG. Além disso, nós temos um parque industrial e científico capaz sim de produzir as vacinas que sejam eficazes, mas esses estudos devem continuar. Temos que lembrar que um estudo de uma vacina começa com a fase pré-clínica, que pode durar até dois ou três anos, depois vem as fases clínicas, divididas em três fases que podem também levar dois a três anos cada fase”,

Mesmo que diferentes laboratórios estejam se preocupando com a produção de vacinas específicas contra a mpox, o infectologista Francisco Job explica que a vacina da varíola aplicada na população através do calendário nacional já apresenta uma eficácia de 85%, permitindo que possa ser usada no controle inicial ou na aplicação de, pelo menos, grupos de risco.

“O que nós devemos estar alertas é para o surgimento de casos que sejam suspeitos, para que nós possamos seguir a quantidade de casos e onde estão acontecendo no Brasil”. O médico ainda acrescenta:

“Não é uma coisa para produzir pânico, nós não vamos ter epidemias de monkeypox como existiram epidemias de varíola do começo do século XX no Brasil. Isso jamais vai acontecer novamente num sistema de saúde bastante estruturado, que é capaz de vacinar inclusive toda a população se necessário”. 

Segundo Francisco Job, já existem diversos grupos estudando monkeypox no mundo, sendo a maior parte bastante conhecedor da varíola humana.

Aquisição de vacinas

A Bavarian Nordic, fabricante da vacina Jynneos, solicitou à Agência Europeia de Medicamentos (EMA, em inglês) autorização para que a dose possa ser aplicada também em adolescentes. De acordo com a empresa, as pesquisas evidenciaram eficácia do imunizante entre adolescentes e adultos. 

No pedido enviado à EMA, a empresa pede autorização para que a dose possa ser aplicada em adolescentes de 12 a 17 anos. Atualmente, existe indicação apenas para pessoas com idade igual ou superior a 18 anos.

Apesar das preocupações, o médico Hemerson Luz entende que, por não se tratar de um vírus transmitido pelo ar, mas por secreções ou contato direto com pessoas doentes, os cuidados são imediatos, não sendo necessária, portanto, a vacinação em massa.

“É importante ressaltar que a vacinação em massa não está indicada agora. Além da quantidade de vacina produzida a nível mundial, que é pouca, primeiro nós temos que fazer estratégias para vacinar os grupos de risco e vacinar aquelas pessoas que têm maior fragilidade caso apresentem a doença”, salienta.

O infectologista Francisco Job reforça que o Brasil nunca deixou de estudar a varíola, mesmo após a erradicação da doença. 

“Nesse momento não existe necessidade de fazer vacinação em massa em nenhum lugar do mundo, nós estamos em situação de emergência porque o número de casos na África, em especial no Congo, está crescendo muito rapidamente e será necessário fazer vacinação naqueles países onde existe uma quantidade maior de casos”. 

Para ele, a vacina deve estar disponível rapidamente quando for necessária. “Não existe necessidade, nesse momento, do Brasil estar produzindo grandes quantidades de vacina, mas é importante que nós saibamos produzi-la e nós sabemos produzi-la”, reforça.

Casos no Brasil

Durante a primeira emergência global por mpox, em 2023, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso emergencial da Jynneos para combater a doença em um primeiro momento. 

Desde então, mais de 29 mil doses foram aplicadas em todo o país. Segundo a pasta, 27 Laboratórios Centrais de Saúde Pública (LACENs) e quatro laboratórios de referência nacional realizam exame diagnóstico para mpox. Atualmente, todo o país está abastecido com insumos para essa testagem, informa o órgão.

O Ministério da Saúde informa que, desde o início do surto de mpox em 2022 até hoje, o Brasil registrou 12.215 casos confirmados ou prováveis da doença. Desses, 91,3% são pacientes do sexo masculino e 70% têm entre 19 e 39 anos. Também foram registrados 16 óbitos. Todos do sexo masculino, com idades entre 26 e 35 anos. O último foi confirmado no dia 17 de abril de 2023.  

Só em 2024, foram 696 casos confirmados e 13 prováveis, sendo 85,9% do sexo masculino, 44% entre 30 e 39 anos e 30,6% entre 18 e 29 anos. Além disso, este ano, foram contabilizadas 49 hospitalizações e cinco internações em UTI.

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