NÃO ao novo 'açougue'!
Além disto, o “açougue” João Paulo Segundo como o vemos é a cara de Porto Velho e dos rondonienses
Porto Velho, a insólita capital de Roraima, tem um moderníssimo “açougue” onde interna as pessoas pobres e doentes para poder curá-las. E até que cura algumas mais sortudas. O fatídico estabelecimento já tem quase quarenta anos de funcionamento e já serviu de campanha política para eleger inúmeros cidadãos que, via de regra, continuam prometendo melhorias e mais melhorias na delicada questão da Saúde. Eis que se inicia mais um ano e é um ano político. E a lorota de novo se repete. Agora com mais força e otimismo. Andam redizendo por aí que vão construir um novo “açougue” em Porto Velho só para poder cuidar “com decência” dos pobres e miseráveis do lugar. Fala-se até que já há dinheiro para tal empreendimento. Fazendo inveja a Gandhi, o TCE, órgão composto só de pessoas boazinhas, já teria repassado a verba para esse fim.
No final do ano passado, no entanto, vi um “jornalista” escrever que o referido “açougue” conseguiu um feito inédito em toda a sua existência: teria passado três dias sem doentes esparramados pelos corredores. E festejava isso como uma vitória das mais acachapantes. “Um governo comprometido com os mais pobres”, insinuou o reacionário escrevinhador. É realmente um grande feito, mas por que nenhum pio sobre os outros 362 dias de 2019? Particularmente eu, se fosse o governo ou parte integrante dele, NÃO construiria um novo “açougue” em Porto Velho. Nem aqui no Estado nem em lugar nenhum do Brasil. Isso poderia levar à falência os grandes conglomerados de saúde do país. Um hospital gratuito, bom, limpo, decente, organizado, com medicina excelente, aparelhos modernos e profissionais competentes acabaria com muitos planos de saúde.
Além do mais, uma casa de saúde exemplar e sendo até referência nacional poderia adiar a morte dos pobres que usassem suas dependências. Aí perderia o sentido. O “açougue” João Paulo é uma espécie de Auschwitz tupiniquim. Só que lá em vez de judeus, apenas os pobres é que morrem. A não ser que se queira entender a piada pronta de que governos no Brasil se preocupam com os pobres. Outra inconveniência: com um hospital moderno, os ricos teriam que ser internados ao lado dos miseráveis? Todos os políticos, pastores, autoridades, militares, empresários e pessoas ricas de Porto Velho e de Rondônia abririam mão dos seus planos de saúde só para serem atendidas no novo logradouro? Com um hospital assim, o desemprego atingiria em massa as clínicas particulares e os planos de saúde. Todo médico ou enfermeiro gostaria de ir trabalhar lá.
De um modo geral governos não investem em infraestrutura social por que isso prejudicaria a iniciativa privada, que os apoia. A única coisa que o pobre tem é o voto e será sempre obrigado por lei a usá-lo. Investir na Educação, por exemplo, compromete as escolas particulares levando-as à falência. Na Saúde, é a mesma coisa. E se construírem uma moderna clínica de pronto socorro em Porto Velho, os políticos vão prometer o que nas suas campanhas? Além disto, o “açougue” João Paulo Segundo como o vemos é a cara de Porto Velho e dos rondonienses. E não seria bom que alguém de coragem tentasse mudar a nossa mais real imagem. Tenho uma dúvida: o TCE “teria dado um exemplo nacional” ao abrir mão de 75 milhões de reais doando-os para o novo Pronto Socorro e para o Iperon. E por que esse hospital será construído pelo sistema BTS para depois ser alugado ao próprio Estado? Milhões, políticos, TCE/RO, eleições...
*Foi Professor em Porto Velho.
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