Nova frente de desmatamento é detectada na Terra Indígena Karipuna

Madeireiros e grileiros colocam em risco a sobrevivência do povo Karipuna e dificultam o combate à crise climática

Assessoria
Publicada em 26 de outubro de 2021 às 17:14
Nova frente de desmatamento é detectada na Terra Indígena Karipuna

Desmatamento e queimada de mais de 100 hectares dentro da TI Karipuna na região do Rio Formoso, no município de Nova Mamoré, Rondônia.

Porto Velho, 26 de outubro de 2021 - O recente monitoramento feito pelo povo Karipuna, Greenpeace Brasil e pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) na Terra Indígena (TI) Karipuna, em Rondônia - segundo dados do Prodes, um dos territórios indígenas mais saqueados do país - identificou uma nova frente de desmatamento na região.

Uma incursão a campo encontrou 850 hectares de desmatamento ilegal nos últimos doze meses dentro da Terra Indígena - um aumento de 44% em relação ao período anterior. Por ali, foram encontradas áreas com mais de 100 hectares de corte raso resultado da grilagem de terras naquela região, e que tem posto em risco a sobrevivência do povo Karipuna.

A Terra Indígena Karipuna possui 152 mil hectares e está situada a 100 quilômetros de Porto Velho, capital de Rondônia. Ela é cercada por fazendas e vem sendo invadida e desmatada desde 2015 - mais de 5 mil hectares de florestas já foram destruídos nos últimos seis anos.

Veja aqui fotos e mapas da região

A produção de carne e soja pressionam as florestas em Rondônia: o desflorestamento avançou sobre a TI Karipuna e a pecuária em Porto Velho, por exemplo, cresceu 87% na última década. Nos últimos nove anos, o território voltado à produção de soja em Rondônia triplicou, passando de 111 mil para 400 mil hectares.

Nova frente de desmatamento

O rio Formoso - uma área que não concentrava atividades de grilagem, situada no sudeste do território indígena Karipuna e mais distante dos grandes centros de exploração ilegal e predatória de Rondônia - começou a apresentar números cada vez maiores de desmatamento. Anteriormente, o desmatamento aparecia mais no noroeste da Terra Indígena.

Entre agosto de 2020 e julho de 2021 a região do rio Formoso registrou 510,3 hectares desmatados - 65% do total de novos desmatamentos verificados no interior da Terra Indígena Karipuna no ano inteiro. Desse total, 94,7% - ou seja, 483,77 hectares - foram desmatados em 2021, entre janeiro e junho deste ano.

Ataque legislativo aos povos indígenas

A Terra Indígena Karipuna é um dos territórios gravemente prejudicados pela Lei Complementar 1089/2021, que reduziu, em abril de 2021, a Reserva Extrativista Jaci-Paraná e o Parque Estadual Guajará-Mirim.

Essas duas áreas protegidas funcionavam como "escudos" que dificultavam a entrada de desmatadores dentro da TI Karipuna. Com a redução dessas áreas protegidas por decisão do governador de Rondônia, Marcos Rocha (PSL) - que sancionou a lei em maio último - o território do povo Karipuna ficou aberto para a entrada de grileiros que, impulsionados pela política anti-indígena e antiambientalista do governo Bolsonaro, ameaçam a integridade física, cultural e territorial dos Karipuna e dos povos isolados que circulam naquela área.

Na ocasião, a Reserva Extrativista Jaci-Paraná perdeu 168 mil hectares (quase 90% de seu território) e o Parque Estadual Guajará-Mirim perdeu 55 mil hectares. O ataque legislativo contra as áreas protegidas de Rondônia continua: em setembro, uma nova lei de zoneamento ecológico foi aprovada pelos deputados estaduais, abrindo diversas terras para a criação de gado e a plantação de soja.

Mais terras indígenas protegidas, menos crise climática

O líder do povo Karipuna, Adriano Karipuna, disse que as autoridades precisam viabilizar meios de proteger o território. "O monitoramento da floresta, feito por nós junto aos parceiros, nos ajuda a entender o que acontece dentro de nossa terra e é fundamental para denunciar atividades ilegais. O Estado deve implementar um plano de proteção permanente para nosso território, com o objetivo de acabar com as invasões e o roubo de madeira de nossa floresta.", afirma.

A missionária do CIMI Rondônia, Laura Vicuña, contou que a destruição verificada no chão da floresta guarda relação muito próxima com as grandes discussões globais, como o enfrentamento das mudanças climáticas.

"A crise climática começa aqui, com territórios indígenas sendo saqueados, povos indígenas sendo atacados enquanto um governo negligente e conivente não cumpre seu papel para proteger nosso povo e recursos naturais. Para mitigar os impactos da emergência climática, os governos deveriam aumentar as terras protegidas em vez de reduzi-las.", disse Laura, que acumula mais de 20 anos de trabalho junto aos povos indígenas.

Para o coordenador do projeto Todos os Olhos na Amazônia, do Greenpeace Brasil, Oliver Salge, o Brasil "fecha os olhos" para os criminosos ambientais. "Enquanto o mundo busca desesperadamente soluções para a crise climática na COP 26, o Brasil faz exatamente o contrário e permite que criminosos invadam áreas protegidas e destruam a casa dos povos indígenas.", destaca.

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