O Carnaval: O que aflora em cada um de nós?

As controvérsias sobre a origem e seu simbolismo se apresentam desde a etimologia

Lúcia Helena Galvão Maya
Publicada em 16 de fevereiro de 2023 às 12:47
O Carnaval: O que aflora em cada um de nós?

Lúcia Helena Galvão Maya

Para além das histórias já conhecidas sobre a entrada do Carnaval no Brasil, trago algumas reflexões sobre o sentido desta festa mundialmente popular.

As controvérsias sobre a origem e seu simbolismo se apresentam desde a etimologia. Alguns atribuem a carnivales, que em latim era “adeus à carne”, provavelmente de um latim tardio que faz referência à quaresma e suas restrições.

No Egito antigo, fala-se de um cortejo que ia de Dendera até Edfu para celebrar o casamento sagrado entre Hathor e Hórus, simbolizando a união entre a grande mãe natureza (Hathor) e o ser que dominou o seu aspecto inferior. Esse casamento sagrado dava as boas-vindas ao ciclo da primavera.

Roma guarda lembrança com a procissão, no templo onde a Isis egípcia ainda era cultuada e levada em um carro semelhante a um barco, daí a especulação sobre outra origem de carnaval, que seria “carro navales”, um carro em forma de barco. Ísis era consagrada como protetora daqueles que navegam sobre as águas da matéria, que não se deixam tragar pelo materialismo.

Observa-se que em nenhuma dessas tradições via-se nada de ‘carnavalesco’, de inversão, de máscaras ou de brincadeiras típicas desse período. Era um cortejo sagrado.

Nós vemos esses aspectos carnavalescos semelhantes ao que conhecemos hoje já na tradição greco-romana, as chamadas Dionisias na Grécia que eram celebrações ao deus Dionísio. Em março, início da primavera europeia, vemos todo um conjunto daquilo que se chamava de orgias, de entusiasmo, de momento em que as pessoas se embriagavam, se vestiam com pele de animais, onde os protocolos sociais eram quebrados. Isso foi levado para a Roma e gerou os bacanais e também houve as Saturnálias, festas que marcavam num determinado período e libertava-se o deus Saturno, assim como as Lupercais dedicadas ao deus Pan.

No aspecto medieval, temos o carnaval como catarse de instintos reprimidos, assim como crítica, por meio do sarcasmo, era uma contestação da moral do tempo normal. E por quê? Porque o tempo comum tinha uma moral que não era transmutadora, era apenas repressora, incapaz de transbordar o homem até o melhor de si mesmo.

Estes são alguns elementos para se pensar: E se por um instante abolirmos as regras, o que afloraria em cada um de nós? O animalesco ou um ser mais consciente, nobre?

Desejo que as máscaras não libertem aquilo que temos de pior, mais vulgar e violento. Uma vez que conhecem a liberdade, esses monstros carnavalescos podem se tornar bem difíceis de se controlar. Pensem nisso quando vestirem as suas fantasias, que seja alegria, que não seja sarcasmo e que o tempo comum também se transmute.

Lúcia Helena Galvão Maya

Filósofa, escritora e professora de Nova Acrópole

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