O dia mais importante de nossa pequena história democrática
"É essa a escolha. Seguir preservando e fortalecendo a democracia, trilhando caminhos civilizados, ou continuar na estrada esburacrada do bolsonarismo", aponta
Já enfrentamos muitos percalços e desafios desde o fim da ditadura. E nestes momentos dizíamos que a jovem democracia brasileira estava passando por um importante teste de sobrevivência. Superamos todos mas nenhum é tão decisivo para o futuro - da democracia e do país - como a eleição deste domingo de primavera. Não será a escolha entre Lula ou Bolsonaro, mas entre dois projetos distintos e antagônicos de país, que têm como principal diferença a consolidação ou o retrocesso do projeto democrático.
Como jornalista, cobri os fatos de uma noite decisiva para o futuro da democracia que estávamos apenas desenhando naquele momento. Foi a noite de 14 de março de 1985, em que Tancredo Neves, o presidente civil já eleito para encerrar a ditadura, foi internado e submetido a uma cirurgia de emergência a poucas horas da posse. Foi uma longa noite, que poderia ter se encerrado com a volta dos militares ao poder, impedindo a posse do vice-presidente eleito, José Sarney. Horas depois ele tomou posse dizendo estar "com os olhos de ontem". Como outros tantos, não dormira.
Avançamos, claudicando às vezes, acelerando às vezes, e tropeçando periodicamente nos chamados "testes" importantes: veio a primeira eleição presidencial direta em 1989 mas o eleito, dois anos depois, sofreu um impeachment por corrupção. Não houve retrocesso.
Em 2002, quando Lula se tornou favorito na disputa presidencial, o mercado rugiu, os militares cochicharam muito e temeu-se o que viria. Lula venceu, tomou posse e governou por oito anos preservando e fortalecendo a democracia, como já fizera seu antecessor Fernando Henrique Cardoso.
Sob Lula o escândalo do chamado mensalão trouxe de volta os temores. Tramou-se em vão o seu impeachment. Boa parte do Congresso foi arrastada pelas denúncias e muitos foram cassados. Lula avisou que não renunciaria, não se mataria como fizeram Jânio e Getúlio nem permitiria um golpe como o havido contra Jango em 1964. Levantaria o povo. Reelegeu-se em 2006 e elegeu a sucessora Dilma em 2010, que se reelegeu em 2014.
As elites políticas e econômicas decidiram encerrar o já longo ciclo de governos petistas e fizeram o golpe parlamentar de 2016, derrubando Dilma com um impechment não undamentado. Desta vez, com discreto apoio dos militares, até então recolhidos.
Veio a Lava Jato, que demonizou a política, incriminou injustamente Lula, e com a condenação e a prisão o tiraram da disputa presidencial de 2018, facilitando a vitória de Jair Bolsonaro.
E aqui estamos com um presidente que trouxe os militares de volta à cena política, que ameaça a democracia, divide o país com uma ideologia extremista, semeia o ódio, arma o povo, desmonta instituições, isola o Brasil do mundo, cultua preconceitos e faz da mentira sua prática de governo.
É essa a escolha. Seguir preservando e fortalecendo a democracia, trilhando caminhos civilizados, ou continuar na estrada esburacrada do bolsonarismo.
Alguém riu quando eu disse, no ano passado, que Lula ainda se tornaria o candidato da salvação nacional e formaria uma frente ampla contra Bolsonaro. Neste domingo, votar nele é votar pela salvação do Brasil.
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