O enterro dos ossos e o apocalipse dos militares golpistas

O fim dos tempos chegou para generais com inteligência abaixo da média, que caíram na armadilha de um tenente, escreve o colunista

Moisés Mendes
Publicada em 13 de fevereiro de 2024 às 14:56

Mauro Cid, Augusto Heleno e Walter Braga NettoMauro Cid, Augusto Heleno e Walter Braga Netto (Foto: Agência Senado | ABR)

Ossos são enterrados a cada final das festas de Carnaval, para que voltem a ser carne e osso no ano seguinte. É a vida que se renova em eternos retornos, como folia, banquete, porre, arte, osso, enterro e ressurreição.

Os generais desmoralizados pelo golpe armado pelo tenente sabem que não enterrarão ossos, porque nem direito a festanças e a Carnaval tiveram. Estão enterrando, antes da quaresma, a própria vida de golpistas.

O fim do mundo anunciado por Baby do Brasil pode não ter chegado para todos os brasileiros, como a foliã-crente vislumbra. Mas chegou para os generais. É a hora do anjo do arrebatamento sobrevoar os quartéis.

Bolsonaro os atraiu para a arapuca final. Um tenente julgado como terrorista, que só escapou de condenação por covardia dos ditadores, pretendia liderar um golpe cujo plano foi documentado, o que seria inimaginável na pior de todas as séries espanholas da Netflix.

Nessa terça-feira de Carnaval, os generais sem ossos para enterrar, porque a folia que planejaram não deu certo, enterram os restos de tudo o que trouxeram até aqui, desde o golpe que instalou a República. 

Os generais de Bolsonaro acabaram, 135 anos depois do golpe de 1889, com as Forças Armadas como instituição capaz de orientar, como e quando bem entendessem, o que seria certo e errado para o país. É uma falsa prerrogativa de força que está condenada a desaparecer. 

Não havia como aplicar um golpe com o tenente Bolsonaro mandando no general Augusto Heleno e este anunciando, diante de mais de 40 testemunhas, que seus arapongas iriam seguir golpistas e inimigos do golpe.

Não há como aplicar um golpe com um general da reserva, já de pijama e sem tropas, chamando de cagão outro general, da ativa e com quartéis e soldados, como fez Braga Netto com o então comandante do Exército, Freire Gomes.   

Até Baby do Brasil sabe que chegaria a hora do arrebatamento. Não há como evitar o apocalipse com um plano criminoso filmado e com cópias em papel de minutas do golpe.

Não havia como prosperar um golpe com um líder com baixa autoestima, que reconhecia ter sido eleito por uma grande cagada nacional. Que se autodefinia como um ex-deputado fodido, do baixo clero (mas nem do baixo clero ele era). 

Baby do Brasil sabe que ninguém leva adiante um golpe liderado por gente que se declara vítima de bullying, já adulto, por ser um fascista solitário. Não há golpe liderado por alguém com inteligência bem abaixo da média. 

Não há como conduzir um golpe com um liderado que admite, diante do chefe, que todos eles iriam se foder, porque no fim o golpe não daria certo, como disse o delegado Anderson Torres.

Ivete Sangalo sabe que um líder golpista autoproclamado “escrotizado, gozado e sacaneado” nunca irá macetar nem será macetado.

É o fim dos tempos para quem não teve uma boa formação e envergonha as memórias de ditadores de alta envergadura que estudaram em Paris. Eram fracos os generais do golpe de Bolsonaro. 

Eles construíram o próprio fim, depois que antecessores falharam várias vezes. Falharam em 1955 porque havia um general chamado Teixeira Lott. Falharam em 1961 porque havia Brizola. Insistiram e venceram em 1964. Fizeram a farra por 20 anos e tiveram até o direito de enterrar e esconder os ossos das suas vítimas com a anistia de 1979.

Mas agora as Forças Armadas estão diante do destino que criaram com a besta escrotizada do apocalipse. Os que puderem que procurem ajuda espiritual enquanto é tempo, porque nem todos irão se salvar de algum tipo de punição.

Baby do Brasil diria que não só a punição do sistema de Justiça dos homens, mas também a punição maior do Senhor, que não perdoa golpistas fracassados, muito menos cagões que dizem falar em seu nome. 

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

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