O extremista de direita é antes de tudo um covarde
Valentes no anonimato das redes e quando promovem quebradeiras de sedes dos poderes da República, viram “gatinhos” ao serem confrontados pela lei e justiça
(Foto: ABr)
Ao longo dos seus quatro anos de governo, Bolsonaro, em incontáveis ocasiões, agrediu as instituições, ameaçou dar golpes, afrontou as normas sanitárias, debochou de doentes e mortos, além de ofender jornalistas. Mas nunca teve coragem de assumir as consequências de seus atos e de suas declarações.
Diante das péssimas repercussões de suas falas, sempre voltou atrás, enfiando o rabo entre as pernas e negando tudo o que dissera. Chegou a criar um bordão que é um monumento ao cinismo: “só jogo dentro das quatro linhas da Constituição."
Até hoje, decorridos sete meses desde que deixou o governo e fugiu do país, ele segue na mesma toada. Em uma rápida retrospectiva do que foi noticiado pelos veículos de imprensa neste período, verificamos um monocórdico mais do mesmo:
“Bolsonaro depõe na PF e nega falsificação em certificados de vacina.”// “Bolsonaro diz em depoimento que desconhece minuta do golpe.” // “Na Polícia Federal, Bolsonaro nega que tenha se apropriado das joias dadas de presente pelos árabes.”
Claro que não se esperava dele a confissão de seus crimes. Mas chama atenção as inconsistências e superficialidades de suas negativas. Chega a ser cansativo. Enfadonho também é o desfile de operadores de Bolsonaro na CPI do 8 de Janeiro, ora se calando, ora ofendendo a inteligência das pessoas, jurando inocência mesmo diante de evidências e fatos aterradores.
Além das conhecidas marcas registradas da atuação da extrema-direita, aqui e em outros países, tais como o negacionismo científico, o ataque sistemático à cultura e às artes e a mentira, com o uso em larga escala da injúria, da calúnia e da difamação como ferramentas de ação política, a covardia é outro elemento indissociável do caráter do fascista.
De blogueiros a parlamentares, de familiares do ex-presidente a figuras decadentes do universo sertanejo, de representantes da enorme banda reacionária do agronegócio aos mercadores histriônicos da fé, passando por governadores que fingem ser da direita republicana e por muitos militares e policiais, o grosso da militância bolsonarista, mais ou menos graduada, tem a covardia gravada na alma.
Valentes no anonimato das redes sociais e quando promovem, em bando, quebradeiras de sedes dos poderes da República, viram “gatinhos” ao serem confrontados pela lei e pela justiça. Não se tem notícia de um gesto de coragem, por exemplo, por parte das centenas de meliantes golpistas presos em 8 de janeiro, na linha de assumir o malfeito, tipo “assumo o que fiz, agi por convicção política."
Que nada. O exemplo a ser seguido é o da atávica covardia de seu líder. Vejamos o que acontece hoje no Congresso Nacional, onde a bancada bolsonarista vem protagonizando um festival de horrores, degradando como nunca na história o ambiente parlamentar.
O alvo preferencial do desrespeito e das agressões deles, seja nas CPIs, nas comissões ou no plenário, tem sido as mulheres de esquerda. Aí a história se repete: quando denunciados pelas deputadas e senadoras dos partidos do campo progressista e pela imprensa, tratam de sair de fininho e negar tudo. Covardões.
PS: ao terminar este texto, fico sabendo da prisão de Silvinei Vasques, ex-diretor da PRF, por interferência nas eleições de 2022. Grande dia.
Jornalista, editor do Blog do Bepe
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