O mistério dos celulares impenetráveis
'Por que celulares apreendidos pela PF tiveram conteúdos acessados por peritos e outros aparelhos não foram devassados?', questiona Moisés Mendes
(Foto: Marcelo Camargo/Ag. Brasil)
O advogado Frederick Wassef, que trabalha para Bolsonaro, teve quatro celulares apreendidos pela Polícia Federal no dia 17 de agosto deste ano, quando jantava numa churrascaria em São Paulo.
É público que os conteúdos dos celulares foram acessados pela Polícia Federal, que passa agora a analisar o que encontrou.
Já o empresário Luciano Hang teve dois celulares apreendidos pela mesma PF em 23 de agosto do ano passado. Até hoje os celulares não foram abertos pelos peritos a serviço da PF, ou não se tem nenhuma informação a respeito.
Nos dois casos, as senhas não foram cedidas pelos investigados. O advogado está em inquérito por causa da venda e recompra das joias das arábias de Bolsonaro, e o empresário por participação em grupo de tios do zap em conversas consideradas golpistas.
Mas os celulares de um, apreendido há dois meses, foram devassados pelos peritos, e os celulares do outro continuam impenetráveis.
Em decisão de 18 de agosto último, o ministro Alexandre de Moraes decidiu prorrogar o inquérito contra Hang, que se autoproclama véio da Havan em vídeos e propagandas, e deu o motivo.
A prorrogação era por 60 dias, para que a PF continuasse tentando abrir os celulares. O prazo já venceu na semana passada e nada mais se fala no assunto.
Na decisão, o ministro anota que os dois celulares a serem periciados são da Apple, um modelo A2638 (iPhone 13 Pro) e o outro modelo A2633 (iPhone 13). E nada mais se sabe.
O Globo informou que os conteúdos dos celulares de Wassef serão repassados ao advogado dele para averiguação, até porque ele também é advogado.
Há preocupação em separar informações que possam ser consideradas confidenciais, da relação dele com seus clientes, porque assim manda a lei.
Só que Wassef não é apenas advogado de Bolsonaro, é investigado por ter feito a recompra do famoso relógio Rolex que Bolsonaro não poderia ter vendido. Por isso ele teve os aparelhos apreendidos.
O cliente de Wassef era o ‘dono’, ou se achava o dono do relógio, e também está sob investigação. Como separar aqui as conversas de advogado com cliente, se os dois são figuras suspeitas nos mesmos atos criminosos?
Mas o que importa mesmo é que temos agora a informação de que os celulares de Wassef estão com conteúdos já em poder da PF. E que nada temos de informação sobre os conteúdos dos celulares do véio da Havan.
É de fazer pensar. Quatro celulares apreendidos há pouco tempo já tiveram seus compartimentos desvendados. E dois celulares apreendidos há mais de um ano continuam fechados como cofres indevassáveis.
É ruim para todos os envolvidos nas investigações. Por que só os celulares de Hang não permitem acesso? Por que ficaram um ano com a PF, sem que nada se divulgasse a respeito das investigações, até ficarmos sabendo em agosto que não foram abertos?
Por que a grande imprensa abandonou essa pauta, quando a todo momento trata do assunto, como o Globo tratou agora dos celulares de Wassef e trata dos aparelhos de Mauro Cid, Anderson Torres e Silvinei Vasques?
Alguém deve ter essas informações. Mas, em nome da transparência e de tratamentos equânimes, todos os brasileiros têm o direito de saber que mistério envolve os celulares do véio da Havan.
Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.
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