O pronunciamento de Lula e o balbucio de Bolsonaro

"Lula falou com indignação ao fazer o diagnóstico da situação que o país vive sob Bolsonaro, mas despertou esperança ao apontar para o futuro, para a possibilidade de derrotar no voto o projeto autoritário e obscurantista, colocando-se à disposição do povo brasileiro", diz Tereza Cruvinel

Tereza Cruvinel
Publicada em 08 de setembro de 2020 às 18:37
O pronunciamento de Lula e o balbucio de Bolsonaro

As falas de Lula e de Bolsonaro neste 7 de setembro são incomparáveis, por conta da absoluta disparidade na ordem de grandeza de cada uma.

O ex-presidente falou como líder político e homem de Estado, mas falou com o coração, num retorno à forma política de antes da prisão injusta, que pontuou seus discursos subsequentes à libertação com o compreensível travo da amargura e do ressentimento. Mas ontem Lula falou de passagem sobre isso, apenas destacando que sua prisão e seu impedimento eleitoral derivaram da intolerância das oligarquias para com o projeto político mais inclusivo que ele representou.

Falou com indignação ao fazer o diagnóstico da situação que o país vive sob Bolsonaro, mas despertou esperança ao apontar para o futuro, para a possibilidade de derrotar no voto o projeto autoritário e obscurantista, colocando-se à disposição do povo brasileiro para liderar esta travessia. Não falou em ser candidato. Se puder, será. Se não permitirem, estará da mesma forma disponível para liderar a mudança. Milhares de pessoas foram às redes sociais confessarem-se de alma lavada. Ontem Lula voltou.

Em seu completo inventário sobre o estado da Nação não deixou de apontar nenhuma das mazelas que o país enfrenta sob Bolsonaro, do número de mortes desnecessárias na pandemia ao crime de lesa-pátria representado pelo descompromisso com a soberania e a vassalagem ao poder americano. A militarização do poder civil, o abandono dos compromissos democráticos fixados pela Constituição, o descaso com o meio ambiente que faz do Brasil um vilão global, acompanhado da violação dos direitos dos povos originários, a fúria privatizante que esquarteja a Petrobrás e ameaça a segurança energética, o racismo estrutural que ceifa jovens negros nas periferias, os ataques às universidades, à ciência e à cultura, tudo foi tocado. E como paisagem de fundo, o aumento da desigualdade, com os ricos ficando mais ricos e os pobres mais miseráveis.  “Este é o verdadeiro e ameaçador retrato do Brasil de hoje”.

Fez o diagnóstico e apontou o alvo a ser combatido, “o monstrengo” que as oligarquias pariram e agora não conseguem controlar. Mas sem derrotismo. A esperança, novamente ela, agora não contra o medo, mas contra o atraso e a destruição do país, pontuou a segunda parte da fala: juntos, através do voto, os brasileiros podem mudar o rumo da história, firmando um novo pacto inclusivo, em que os ricos terão de pagar mais impostos para que seja possível reincluir os pobres no orçamento. Para que tenhamos “ um verdadeiro Estado Democrático e de Direito, com fundamento na soberania popular”. E disse ainda:  “Uma Nação voltada para a igualdade e o pluralismo. Uma Nação inserida numa nova ordem internacional baseada no multilateralismo, na cooperação e na democracia, integrada na América do Sul e solidária com outras nações em desenvolvimento. O Brasil que quero reconstruir com vocês é uma Nação comprometida com a libertação do nosso povo, dos trabalhadores e dos excluídos.”

Para este desafio, colocou-se à disposição. A leitura imediata foi a de que se lançou candidato, mas ninguém sabe se o deixarão concorrer. Há um longo caminho pela frente, na busca dos direitos políticos perdidos com as condenações. Se o STF declarar em breve a suspeição de Sergio Moro na condenação pelo processo do tríplex, ainda haverá o processo do sítio de Atibaia, cuja sentença final foi subscrita pela juíza que substituiu Moro, Gabriela Hardt.  Lula sabe disso.  Sua oferta é para liderar a oposição e impedir o desastre absoluto, que seria a reeleição de Bolsonaro em 2022, ainda que não possa concorrer. Ontem ele falou com o coração limpo, a lucidez aguda e a energia renovada.

Já a fala de Bolsonaro merecerá apenas uma nota de rodapé nos registros históricos, se muito.  Seu balbucio lembrou a fala de um estudante do fundamental na hora cívica de um 7 de Setembro. Falou em coisas cujo significado ignora, como soberania, tolerância e democracia. E para falar de soberania, invocou guerras, como a do Paraguai, de triste memória, a II Grande Guerra, com a participação da FEB, e o golpe de 64, que novamente defendeu, ao apresentá-lo como vitória contra a ameaça comunista.  

O panelaço mal havia começado e ele já havia terminado. As colheres ficaram no ar, frustradas, mas ele não tinha mais nada a dizer. Nada sobre a mortandade, o desemprego, a carestia e o empobrecimento da população.

Comentários

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    Constantino Lagoa 09/09/2020

    Discurso claro e límpido; sem ódio e invenções. Está claro que o Brasil precisa urgentemente de um novo condutor que democraticamente será eleito pelo nosso voto e sem Fakes News; quer seja Lula ou outro qualquer, mas tem que ser uma pessoa lúcida e pense pelo Brasil e pelos brasileiros.

  • 2
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    Nordman Guimarães 08/09/2020

    Lula perdeu à credencial de ex-presidente da República! Lula é um presidiário! Condenado pela justiça brasileira.

  • 3
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    Edson Antonio Mendes 08/09/2020

    Sr. Chefe Redator /Editor do Tudorondonia. É sério colocar uma matéria dessa. A pessoa tem de ter um pouco de decência, ao citar um bandido que matou diretamente milhares de pessoas, através da corrupção organizada, durante os oito anos do seu "governo ". Jornalista se você não tem uma matéria positiva para levar esperança aos brasileiros; então cala-te e busque o refugio do seu Lar. Faça um Lockdown das suas matérias e palavras, elas são nocivas ao Povo.

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