O que a esquerda pode aprender com as eleições bolivianas
"A lição que fica é clara: a estratégia deve sempre nascer de uma análise concreta da realidade concreta"
Evo Morales e Luis Arce (Foto: Reprodução/Twitter)
A vitória da direita nas eleições bolivianas traz lições importantes para a esquerda brasileira. Embora a Bolívia tenha apenas 8 milhões de eleitores - o equivalente ao eleitorado do Paraná ou do Rio Grande do Sul -, o processo eleitoral realizado no último domingo revela elementos significativos sobre como reduzir as chances de uma derrota. Lições que emergem, sobretudo, dos erros cometidos pela própria esquerda boliviana.
É inegável que a desorganização e a ausência de estratégia marcaram as campanhas progressistas. Uma miopia política impediu que se percebesse o sentimento de renovação latente entre o povo boliviano, já sinalizado há bastante tempo. Mas a derrota acachapante nas urnas não pode ser explicada apenas por isso, embora tais equívocos de análise tenham, sem dúvida, contribuído enormemente para o resultado.
Não é preciso insistir no óbvio: a divisão interna foi determinante. A esquerda se apresentou com duas candidaturas - Andrónico Rodrigues, atual presidente do Senado, e Eduardo Del Castillo, ex-ministro de Luís Arce -, ambas sem o apoio de Evo Morales. Excluído do processo eleitoral por decisão judicial que contestava, Evo conclamou abertamente seus seguidores a votar nulo.
A derrota começou a ser gestada, a meu ver, quando setores ligados ao instrumento político Movimento ao Socialismo acreditaram que poderiam suceder a Evo Morales sem negociar essa transição com o líder indígena que inaugurou o Estado Plurinacional Boliviano. Refiro-me, em especial, ao presidente Luís Arce e ao senador Andrónico, ambos eleitos no passado porque contaram com o respaldo do líder cocaleiro.
Criaturas que tentaram destronar o criador. Ambições e projetos pessoais se tornaram os alicerces de uma derrota anunciada. O resultado foi uma briga fratricida, intensificada por divergências sobre a condução do processo de mudanças iniciado em 2005, com a primeira vitória de Evo Morales.
É verdade que a insistência de Evo em manter sua candidatura contra o establishment também pesou. Mas caberia aos que buscavam concorrer criar condições para o diálogo - o que, ao que tudo indica, não ocorreu. Radicalismos de ambos os lados acabaram por inviabilizar qualquer entendimento. Sem conversas, o Evismo apelou ao voto nulo, que, sozinho, ficou em terceiro lugar. Somados aos votos das duas candidaturas de esquerda, esse campo teria chegado ao segundo turno.
A lição que fica é clara: a estratégia deve sempre nascer de uma análise concreta da realidade concreta. E o diálogo interno jamais pode ser interrompido por ambições pessoais ou interesses mesquinhos, muito menores que o projeto de transformação de uma sociedade.
Oliveiros Marques
Sociólogo pela Universidade de Brasília, onde também cursou disciplinas do mestrado em Sociologia Política. Atuou por 18 anos como assessor junto ao Congresso Nacional. Publicitário e associado ao Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político (CAMP), realizou dezenas de campanhas no Brasil para prefeituras, governos estaduais, Senado e casas legislativas
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